A máquina de inovação

Ganhei de presente do Mário Verdi o  livro do Charles Bezerra e só tenho uma coisa a dizer: adorei!

A máquina de inovação: mentes e organizações na luta por diferenciação” é muito bem escrito e dá para ler numa sentada. Charles Bezerra não apresenta nenhum conceito novo, mas consegue dar uma organizada geral nas informações sobre o processo de inovação nas empresas e na cabeça das pessoas de um jeito muito didático. Mas também, o moço está longe de ser fraco: doutor em Inovação pelo Illinois Institute of Technology, é uma das maiores autoridades brasileiras no assunto e representante da América Latina no Design Management Institute Advisory Council.

A tal “máquina de inovação” a que ele se refere é o nosso cérebro. Bezerra apresenta o que os principais autores falam sobre a questão da complexidade e da simplicidade, do darwinismo e sua aplicação nos conceitos relacionados à inovação;  discorre sobre a importância da modelagem, questiona o peso que damos aos números e às pesquisas de maneira crítica e inteligente; tudo isso permeado com experiências pessoais muito interessantes, como se a gente estivesse assistindo uma palestra.

A história que eu mais gostei foi da que relata a brincadeira que ele fez com o próprio filho pequeno. Eles combinaram que todos os dias antes de dormir, o pequeno poderia perguntar o que quisesse (é claro que ele poderia perguntar em outros horários, mas esse era um ritual). O pai responderia como pudesse, mas, em contrapartida, poderia fazer uma espécie de “teste” para ver o quanto do assunto tinha sido entendido (algo simples, como perguntas de confirmação). As dúvidas do menino eram algo como “o que é a luz?”, “por que não existem mais dinossauros?” e coisas do tipo, típicas das crianças, que ainda não perderam a curiosidade natural que vem de fábrica.

Além de aproximar pai e filho de um jeito maravilhoso, Charles instiga a curiosidade do filho que passa o dia procurando algo interessante para perguntar; eles se divertem muito e a brincadeira perdura há anos, para deleite de ambos. Bezerra está ansioso porque sabe que, em breve, os papeis serão trocados e ele será o perguntador. Tem jeito mais lindo e querido de educar uma criança?

Mas uma coisa tenho que confessar: achei muito curioso o fato do autor falar sobre a integração entre todas as áreas, sobre como as disciplinas não são isoladas e ter usado uma metáfora tão cartesiana para representar o cérebro humano: uma máquina. Exatamente como Descartes falava, quando ainda não se falava em integração e se considerava que para se resolver um problema, bastava que ele fosse dividido em partes inteligíveis até encontrar a “peça defeituosa”. Será que o autor se deu conta do anacronismo? Talvez tenha sido proposital (pelo que vi, ele estudou muito mais filosofia do que eu, você e a torcida do Flamengo; não deve ter passado batido). Mas, para mim, ficou essa lacuna.

Foi muito fácil gostar do livro porque percebo que penso de uma maneira muito parecida com a do autor: que aprender apenas para acumular conhecimento não serve para nada e que não se cria coisa alguma de maneira isolada. Como ele mesmo diz, é muito difícil dizer, nesse livro, o quanto do conteúdo é de autoria dele e o quanto é de seus influenciadores, as pessoas que ele estudou para chegar a essas conclusões.

E concordo em gênero, número e grau quando diz “Criar é um ato coletivo, mesmo quando acontece em uma mente isolada“.

Recomendo muito a leitura.

Ah, e antes que eu me esqueça: muito obrigada, Mário Verdi!

2 Responses

  1. 26 junho 2013 at 10:27 am

    Oi, Ligia! Acredito que o por quê do uso da simbologia cartesiana “máquina” atrelada ao conceito sinérgico “inovação” seja justamente para enfatizar que não há lacuna entre esses dois mundos: um vive se ajustando às mudanças no outro, ou seja, ambos, o lado cartesiano inclusive (assim como o tal lado esquerdo do cérebro), são vivos, mesmo um dos lados sendo percebido como puramente artificial.

    O autor Joel de Rosnay disserta sobre o assunto no livro “O Homem Simbiótico” (disponível gratuitamente em pdf em inglês na página do grupo do autor – http://pespmc1.vub.ac.be/books/DeRosnay.TheSymbioticMan.pdf): a ligação entre esses mundos é de difícil interpretação e muito do que podemos distinguir hoje em dia, nasceu justamente na área de estudo do Complexo, na teoria do Caos – regras simples, funcionando paralelamente, somam-se a ponto de serem tomadas como uma inteligência.

    • ligiafascioni
      Responder
      27 junho 2013 at 3:44 am

      Oi, Bruno!
      Obrigada pelo esclarecimento. De fato, faz todo o sentido. Vou baixar o livro para ler, obrigada pela dica 🙂
      Abraços!

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