A saga brasileira

Esse eu já terminei faz tempo, mas só agora estou conseguindo me organizar para compartilhar. Ganhei dos queridos Maria Helena e Marcos, do Delícias Portuguesas, o ótimo “Saga Brasileira“, da Míriam Leitão (gente, a Helena é a melhor chef que eu conheci na vida; a mulher parece que tem uma varinha de condão para fazer qualquer coisa que toca ficar escandalosamente delicioso — lá em Berlin, a comida que eu mais senti saudades foi o bacalhau assado que essa moça faz).

Mas, voltando ao livro, penso que ele deveria ser incluído como texto obrigatório nas escolas; ainda bem que a Míriam se dispôs a escrevê-lo. Ela conta todo o processo que nos levou da hiperinflação até a estabilidade que desfrutamos hoje.

Quem não viveu em tempos de inflação alta não faz ideia do inferno que é; os preços das coisas mudavam todo dia, não tinha como se planejar. Vários governos tentaram planos mirabolantes sem sucesso: o Sarney, que fez as donas de casa fiscalizarem os supermercados escoltadas por policiais; o Collor, com aquela pantomina estrelada pela incompetente e irresponsável equipe da Zélia Cardoso de Melo, só para citar os mais famosos e impactantes.

A Miriam conta a história com uma fundamentação bem feita baseada em pesquisas, mas também inclui histórias de personagens reais que fazem tudo ficar mais interessante. Fazia pouco mais de um mês que eu estava no meu primeiro emprego como engenheira quando o Collor fez a economia brasileira ficar de ponta cabeça e tirou quase todo o dinheiro disponível no mercado; muitas empresas quebraram e, por sorte, a WEG, onde eu trabalhava, resistiu.

A autora também fala do processo regido pelo Fernado Henrique Cardoso que trouxe a estabilidade sem planos mágicos e com transparência; ninguém aguentava mais pacotes-surpresa. Fala de como o PT fez tudo o que estava a seu alcance para boicotar e torpedear o plano (ainda bem que não conseguiu, senão o Lula não teria conseguido desfrutar da estabilidade quando assumiu o governo), das dificuldades todas encontradas pelo caminho e do risco que a gente corre até hoje se não fizer a lição de casa bem direitinho (sei não, mas essa copa está botando as coisas na corda bamba com esses gastos todos sem orçamento).

Mas Míriam fala também da extraordinária capacidade que os brasileiros têm de se adaptar às situações mais improváveis; imagina um povo semi-analfabeto (fato) que precisou dividir a moeda velha por 2750 para encontrar o valor da nova. Pois o pessoal tirou de letra, fazendo os países que adotaram o Euro ficarem com vergonha (lá a conta era bem mais simples e muitos europeus não conseguiam entender).

Olha, esse livro não é de economia. É de história. Básica. Coisa que quem passou não devia esquecer (para não repetir a experiência nefasta) e quem ainda não tinha nascido ter uma ideia de como é. Recomendo com estrelinhas.

1 Response

  1. 7 novembro 2011 at 10:52 am

    Essa sua opinião me deu vontade de ler o livro, conhecer melhor a história do Brasil… Quando houve esse problema da hiperinflação eu era ainda muito pequena, tinha 3 ou 4 anos de idade.

    Beijos

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