Pertinho do céu

Morar em Berlim me faz ter esperança que o mundo ainda tem jeito. Fazia tempo que eu sabia da existência do Klunkerkranisch, mas hoje resolvi fazer uma visita. Olha, restaurei minha fé na humanidade mais um pouco.

Já disse aqui que shopping center em Berlin não faz o menor sucesso; os maiores são prioritariamente frequentados por turistas, mas a maioria é centro comercial de bairro mesmo.

Outra coisa que já falei aqui é que só tem carro quem realmente precisa. E que jamais vai passar pela cabeça de um Berlinense pegar um carro para ir passear (?!!) num shopping. A cidade tem mais de mil parques e jardins, quase uma centena de lagos, que competem arduamente com os montes de cafés e museus. Shopping não tem chance mesmo.

Pois um deles (dos pequenos e antigos), instalado no centro do bairro hype de Neuköln, fica num prédio de 6 andares. O shopping ocupa os três primeiros, no quarto tem a biblioteca pública e os dois últimos são de estacionamento. Só que, como falei, quase ninguém vai de carro ao shopping.

Eis que pessoas querendo mudar o mundo (tem muitos deles nessa cidade) resolveram fazer um projeto para transformar os telhados planos da cidade em áreas verdes. Conseguiram mudas de plantas com o Ministério do Meio Ambiente e, pasmem: desativaram o estacionamento do sexto andar.

O que tem instalado lá agora é bem a cara de Berlim: um misto de jardim, horta comunitária, clube aberto, caixa de areia para crianças, street-food, cinema, teatro e shows ao ar livre. Nos intervalos, tem sempre um DJ tocando, das 10 da manhã à 1h30 do dia seguinte. A partir das 16h eles cobram ingresso (não sei quanto é porque cheguei antes, mas deve ser simbólico). É chegar e arrumar um sofá, pufe, banquinho ou sentar/deitar num tablado curtindo a vista maravilhosa.

É bem despojado, como tudo na cidade: móveis reaproveitados, muito pallet, vasinhos, jardins, matinhos, gambiarras e muita criatividade. Não tem moda, não tem exibicionismo, não tem lounge, não tem comida gourmet, ostentação é prática ignorada e ninguém fica desfilando por lá. O povo só quer se divertir num belo cenário e ser feliz. E disso, os berlinenses entendem mais que ninguém, pois conseguem se concentrar no essencial, sem perder tempo com firulas e jogos de aparências.

Tudo foi construído por iniciativa dos cidadãos; o Klunkerkranisch não tem dono, pois faz parte de uma associação que mantém o lugar. O legal é que você não precisa consumir nada, o espaço é livre para todo mundo curtir. Esse é o primeiro “telhado” a ser transformado em área verde cultural e funciona desde junho de 2013; o melhor é que esse povo do bem quer ocupar todos!

Fala sério: não é demais? Não é à toa que amo tanto esse lugar…

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Repare como o estacionamento do 5. andar está vazio.

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Favela chique

Uma vez estava andando pela Oderberger Straße, para mim uma das ruas mais lindas e charmosas de Prenzlauerberg, quando entrei numa portinha que parecia um café (não vi placa do lado de fora). Não voltei lá depois e também não fiquei sabendo muita coisa mais, pois o lugar estava deserto e não tinha ninguém para atender atrás do balcão (o que não é nada estranho em se tratando de Berlin).