Chefe ou líder?

 

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De vez em quando vejo pessoas falando sobre liderança e tratam o termo chefe como sinônimo de líder. Pois é, então fica a pergunta: um líder é um chefe? Precisa ser chefe para ser líder?

Outra questão que aparece bastante nos treinamentos para empresas: para que vou dar um curso de desenvolvimento de liderança para pessoas que não têm subordinados?

Bem, vamos analisar primeiro o conceito de chefe. O dicionário Aulete diz que é a pessoa que exerce a autoridade principal, de comando, que tem poder de decisão, que dirige.

Já sobre líder, gosto da definição de Peter Drucker: “Líder é alguém que possui seguidores”. A de Wishard também é clara: “A essência da liderança é a visão”. Só para acabar, o resumão de Lin Bothwell consegue sintetizar de maneira brilhante: “A moral da história é clara: para ser líder é necessário saber para onde se vai”.

Não sei se vocês repararam, mas as definições de chefe e líder não têm nada a ver uma com a outra. Uma define posição, autoridade. Outra trata principalmente de inspiração.

Mas vamos desdobrar essas ideias direitinho para ver por que a confusão acontece.

Durcker diz que líder é aquele que tem seguidores (observe: seguidores, não fãs!).

O líder é um sujeito que consegue enxergar para o futuro e ver um cenário que deseja que se torne real. Como o líder quer muito que essa visão se materialize, pensa num jeito de fazê-la acontecer; estuda caminhos e descobre um jeito. Quanto mais ambicioso é o cenário, mais o líder entende que não consegue construi-lo sozinho — precisa de ajuda de outras pessoas, outros profissionais, outras competências. Precisa de mais gente que também tenha a mesma visão e que queira ir junto com ele no caminho para chegar lá.

Então, o que o líder faz? Apresenta esse cenário de maneira que consiga inspirar outras pessoas a segui-lo. Ele consegue comunicar a ideia de maneira que os seguidores consigam ver e entender o papel e a importância de cada um na construção do caminho.

E tem mais: dependendo da complexidade do cenário, o líder entende que o caminho é longo, penoso e que não consegue dar conta sozinho. Aí, não tem outro jeito: ele tem que preparar alguns seguidores para assumir a liderança em determinados trechos. Os envolvidos sabem que o foco é a visão, o cenário futuro, que não inclui o umbigo de ninguém; quem é o líder em qual parte do caminho é apenas um detalhe técnico.

Vamos a exemplos práticos: Martin Luther King inspirou milhões de pessoas na construção de um cenário que apresentava um mundo sem racismo. A visão era grande, complexa e de difícil realização, mas importantíssima. Ele conseguiu apresentar a ideia de maneira muito clara, e mais; conseguiu mostrar aos seguidores a importância de cada um nessa luta. O cenário em questão ainda está em obras, Martin já morreu, mas deixou muitos seguidores-líderes que se revezam na batalha. São pessoas de países, línguas e culturas diferentes, com atuações em diversos campos, com abordagens diferentes, mas que têm em comum a mesma visão.

Um exemplo mais do dia-a-dia, vejo defensores de animais abandonados. Tem muita gente trabalhando para construir um mundo sem bichos sofrendo maus tratos, atuando em diversas frentes. Há muitos seguidores e muitos líderes. Não há estrelas ou egos; há o futuro desejado, a visão.

O importante é que se saiba que o papel do líder é temporário e limitado, mas fundamental. E que a pessoa que está líder no momento é apenas um instrumento para fazer a visão se realizar.

E onde é que entra o chefe nessa história?

Bem, o chefe deveria ser a pessoa que foi escolhida pela empresa para tomar decisões justamente porque ele conhece e entende bem o cenário futuro, a visão da organização. Ele deveria ser uma pessoa que consegue traduzir bem esse quadro para sua equipe e inspirá-la a trabalhar juntos para construi-lo.

Nem sempre o chefe e a empresa possuem essa clareza de definições e acontece muito de pessoas assumirem o cargo sem estar preparadas, achando que precisam de fãs (ou então tementes). E, como disse antes, líder não precisa ter subordinados, mas seguidores. Pessoas que acreditam na ideia e sentem-se motivadas a participar.

A senhora que serve o café pode ser uma líder muito mais influente que o diretor da divisão, pois pode conseguir mudar o comportamento das pessoas se tiver grande poder de comunicação, mesmo não tendo nenhuma autoridade. Então, a questão de ter ou não subordinados, não é relevante nesse caso. O pessoal que faz trabalhos voluntários, às vezes sequer pode contar com uma pessoa ajudando no início do projeto — começa sozinho mesmo e vai arregimentado seguidores enquanto caminha.

Todos somos líderes e liderados em muitas e diversas causas, só depende da situação e do contexto. Mudamos de papel o tempo todo e, o mais importante para empresas, chefes, subordinados, líderes e seguidores entenderem é que as pessoas são movidas pela visão.

E é somente ela que importa, no final das contas.

5 Responses

  1. 4 setembro 2014 at 6:34 am

    Muito bom o esclarecimento, Lígia. E nada impede que o Chefe seja um líder, não é mesmo? Aliás, para a empresa (se o chefe for escolhido justamente por ter a mesma visão da empresa) seria o melhor dos mundos.

    • ligiafascioni
      Responder
      4 setembro 2014 at 4:00 pm

      Um chefe líder é o sonho de consumo de todo mundo. Mas, para isso, é preciso que ele, os liderados e a empresa entendam o conceito e o papel do líder, né, líder dos engenheiros brasileiros?

  2. Tereza Jardim
    Responder
    4 setembro 2014 at 3:57 pm

    Já havia lido e pensado sobre essa questão líder x chefe, e costumo trazer isso pra minha realidade na sala de aula. Não gosto de ser a professora-chefe, a que tem a autoridade dentro da sala, cospe conteúdo aos alunos que devem estar calados e atenciosos, e cobra o resultado numa prova no final. Prefiro inspirá-los, como líder, a enxergar o design como eu exergo: uma ferramenta fantástica que você pode dominar e usar pro mundo ser um lugar mais legal, mais inteligente e mais responsável socialmente e ambientalmente. Gosto de inspirá-los a conectar as disciplinas que podem parecer tão distantes, e conectar os conteúdos com a ida ao supermercado, e conectar as suas diferentes bagagens com o processo de aprendizagem que deve ser construído por eles mesmos, onde nós professores somos meros facilitadores =)

    • ligiafascioni
      Responder
      4 setembro 2014 at 3:58 pm

      Queria ter aula com você… <3 <3 <3

  3. Wílson Santos Filho
    Responder
    5 setembro 2014 at 11:52 am

    QUEM TEM CHEFE É ÍNDIO, OU DEPENDENTE.

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