Faça como Steve Jobs

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Em busca de um jeito melhor de apresentar e organizar minhas ideias, comprei “Faça como Steve Jobs e realize apresentações incríveis em qualquer situação“, de Carmine Gallo. Nossa, se todo mundo lesse isso, quanta diferença em produtividade teríamos.

O autor é especialista no assunto e estudou ponto por ponto o que faz as apresentações de Jobs serem tão encantadoras e convincentes (é claro que ele tem produtos espetaculares para apresentar, o que facilita muito as coisas, mas estes também são reflexo do Job’s way of thinking).

É interessante observar que tudo no livro é absolutamente coerente com a bíblia das apresentações (Presentation Zen – Simple Ideas On Presentation Design And Delivery, de Garr Reynolds), que também recomendo fortemente (além do que, o livro é liiiindo!).

Mas vamos ao que interesssa: o que Steve Jobs faz de tão excepcional que atrai todo mundo para as suas apresentações? Vou compartilhar um pouco do que li, mas recomendo o livro todo.

Primeiramente, a arte de apresentar ideias é estruturada em três partes (ou três atos): criar uma história, transmitir a experiência (montar a apresentação) e refinar (ensaiar exaustivamente).

Parte 1 – criar a história (planejar o roteiro).

As pessoas gostam e entendem melhor se você conseguir apresentar sua ideia na forma de uma história interessante, de preferência com vilões e mocinhos. O vilão pode ser o concorrente ou um problema qualquer, enfim, o que está causando algum tipo de “dor” nos clientes; o mocinho, é claro, é a sua ideia ou produto, que vai resolver tudo. O ser humano adora um bom drama e convém aproveitar bem esse recurso.

A história toda deve ser concebida de maneira a responder à pergunta que martela a cabeça de quem está ouvindo o tempo todo: “por que devo me interessar por isso?“.

Ah, e tudo deve ser feito, bolado, pensado e escrito no papel antes de sentar-se em frente ao Powerpoint, por favor (que aliás, é uma das últimas coisas a serem feitas numa apresentação).

Olha aqui um resumo de dicas para estruturar um roteiro.

1. apresentar uma história que desperte o interesse da plateia.

2. propor um problema (o vilão) ou uma pergunta

3. sugerir uma solução (o mocinho)

4. descrever e enfatizar os benefícios dessa solução (qualidades do mocinho)

5. incitar a plateia a agir

Parte 2 – Transmitir a experiência (montar a apresentação)

Agora sim, chegou a hora de montar a apresentação propriamente dita.

Os slides devem conter muitas imagens e, de preferência, nenhum texto. Se houver texto, que seja na forma de apenas uma palavra ou slogan curto. É como se você estivesse escrevendo para o twitter, só que com menos caracteres. Slogans grudam na cabeça das pessoas e ajudam a fazer com que elas entendam a ideia. Durante a apresentação, repita várias vezes a frase cuidadosamente cunhada e simplificada (um bom livro sobre o tema é outro que estou lendo e adorando: “O mundo em uma frase: uma breve história do aforismo“, de James Geary).

Outra recomendação é evitar ao máximo os bullets (ou listas encadeadas). Se você tem vários itens, coloque um em cada slide, com imagens que reforcem a ideia. Ah, e se vai falar de características do produto, escolha apenas as 3 mais importantes, que você quer que as pessoas se lembrem.

A simplicidade é tudo numa apresentação; portanto, evite excessos, seja zen. Use muita imagem de qualidade e quase nada de texto; elimine efeitos e tabelas complicadas, seja qual for o assunto.

Aliás, se estamos falando em simplificar, traduza a história de maneira a eliminar qualquer tipo de jargão e utilize metáforas para se fazer entender melhor.

Steve Jobs nunca disse que o primeiro iPod tinha 5 Gigabytes de capacidade de memória; ninguém quer saber isso. O que ele disse foi: cabem 1.000 músicas e você pode carregá-lo no bolso. E ele tirou um do próprio bolso mesmo. O foco era o benefício para o cliente, não as características técnicas do aparelho.

Infelizmente, o pessoal da área técnica e de negócios não é muito dado a ler livros sobre apresentações, mas ajudaria muito se fizessem isso. Pense bem: Jobs nunca falou em mudança de paradigmas, sinergia, centrado no princípio, soluções inteligentes, novo conceito, disponibilizando recursos, a nível de Estados Unidos, alavancando oportunidades e essas coisas horríveis e anti-estéticas que o povo anda dizendo por aí…

O objetivo de tudo isso é fazer com que as pessoas entendam a apresentação como uma experiência, onde serão desencadeadas uma série de emoções, como em um espetáculo. E números abstratos acompanhados de linguagem obscura não conseguem proporcionar isso. Não mesmo.

Como bem lembra o autor, Gregory Bens, em “O iconoclasta” (este está na minha lista), o cérebro nada mais é do que um pedaço de carne preguiçoso, que procura preservar energia. Faça o cérebro dos outros trabalhar muito e perderá sua audiência. Além do mais, ninguém se interessa em ouvir coisas chatas. Então, seja simples, didático, divertido.

As demonstrações são sempre bem-vindas e reconhecer o trabalho alheio também. Steve sempre agradece aos funcionários, amigos e parceiros por terem conseguido fazer coisas tão sensacionais e, não raro, convida alguns deles para fazer parte da apresentação: já teve de tudo, do vice-presidente de design da Apple, John Ives, até o presidente da Intel (Paul Otellini), passando por Madonna, pelo músico John Mayer e, até, vejam só, pelo arqui-rival Bill Gates.

Parte 3 – Refinar (ensaiar, ensaiar, ensaiar)

Agora chega a parte chata: ensaiar exaustivamente, até obter a perfeição ou algo próximo disso. A maioria das pessoas pula essa etapa, o que prejudica muito o desempenho. Isso é especialmente importante se você obteve ajuda de outra pessoa para fazer os slides; é constrangedor ver alguém que não sabe o que vem na próxima tela e se perde no tempo, no assunto, no foco.

Steve Jobs não nasceu falando em público – o sujeito é obcecado pela excelência e ensaia cada frase exaustivamente, até que ele se sinta completamente à vontade e consiga fazer isso parecer extremamente fácil. Tudo é testado, calculado, ensaiado: luz, música, efeitos, frases, demonstrações. Por incrível que pareça, o resultado parece mais espontâneo justamente porque a pessoa está mais segura e não transparece nervosismo (gente nervosa deixa todo mundo aflito e constrangido, é horrível).

O ensaio também serve para contornar imprevistos. Por mais que o apresentador se prepare, sempre é possível algo dar errado (isso já aconteceu várias vezes com Steve e ele nunca perde a calma em público – usa o humor para distrair a plateia e funciona sempre).

Sobre a roupa, muito cuidado. Jobs pode se vestir como quiser, porque ele é ninguém menos que Steve Jobs, o mito. Quando ele foi pedir um empréstimo para a nova empresa que estava fundando quando saiu da Apple, trajava, elegantemente, um terno caríssimo e bem cortado. Se você não é Steve Jobs (ou Mark Zuckerberg, ou Sergey Brin, ou Larry Page), não se arrisque a fazer uma apresentação para investidores ou possíveis clientes de jeans, camiseta e tênis.

Outra coisa importante que o autor observou foi a paixão na voz de Jobs. Dá para perceber que ele está encantado e impressionado com o produto que está apresentando e se diverte muito fazendo isso. Ele realmente é apaixonado pelo que faz e, como se sabe, paixão é contagiante. Se você não está sinceramente fascinado, apaixonado, caidinho pelo assunto que vai apresentar, desista, pois não vai convencer ninguém. Esse é um dos motivos pelos quais a gente deve trabalhar no que gosta. Não sei há sucesso sem paixão, mas apresentações memoráveis, com certeza, não há.

E não é só isso…

O último truque para manter a plateia atenta é deixar uma surpresa para o final. Pode ser uma notícia, alguma característica que não foi dita, um projeto. Enfim, qualquer coisa que faça o povo dizer ohhh… e sair correndo para comprar seu produto. No caso do Steve, sempre dá certo. Então, vou deixar para o final uma frase desse cara que, para mim, resume tudo:

Mantenha-se ávido, mas não se leve tão a sério

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

4 Responses

  1. Marciane Faes
    Responder
    31 agosto 2010 at 9:48 am

    Ligia
    Dentro desse contexto de apresentação de produto, o que dirias a respeito dos concursos culturais, em que o consumidor é estimulado a colocar em uma frase sua relação com o produto?

    Lígia Fascioni: Oi, Marciane! Acho essas iniciativas uma ótima oportunidade de observar como o cliente vê o produto. Se bem que, como é um concurso cultural, o participante só vai falar bem e não necessariamente a percepção dele. Mesmo assim, acho bastante válido!

  2. Marcelo Magalhães
    Responder
    4 maio 2012 at 5:51 pm

    Muito bom Lígia.
    Principalmente quem trabalha com designe áreas afins deveria saber disso na hora de fazer suas apresentações.

    E se os professores da universidade fizessem uma apresentação legal para seus alunoe hein. Quantos deixariam de dormir!?!

    Abraço!

    • ligiafascioni
      Responder
      4 maio 2012 at 6:01 pm

      Pois é, Marcelo! Eles deviam ensinar isso no pré-primário….eheheheh
      Abraços e sucesso!

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