Ligeiramente grávida

Nesses dias de correria onde mal dá tempo para aparecer por aqui, lá vai outra coluna requentada. Essa é de 2006, quando lancei “Quem sua empresa pensa que é?“. Mas continua cabendo direitinho para o meu quarto livro, “DNA Empresarial“, olha só.

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Escolhi não ter filhos. Mas calma, antes que alguém se levante da cadeira, quero deixar bem claro: não, não tenho absolutamente nada contra os atuais e futuros papais e mamães (tenho, acredite, casos assim na minha própria família). Aliás, dou graças a Deus que nem toda gente pense como eu, senão o mundo, além de muito chato, já teria se acabado. Sem dizer que eu nem existiria.

É que me conheço o suficiente para saber que não me satisfaria ser uma mãe “mais ou menos”, então, decidi não ser mãe. Acredito realmente que a experiência de gerar um filho é transformadora, mas, o empenho e a dedicação que eu me exigiria são incompatíveis com as outras experiências que escolhi viver. Só saberei se acertei ou não no balanço final. Mas vou arriscar. De qualquer maneira, sempre desconfio de quem tem muita certeza das coisas – isso significa que sempre há a remota possibilidade de eu mudar de idéia algum dia (ou não, como diria o paradoxal Caetano).

Falo isso porque estou lançando um livro em Florianópolis semana que vem (é o quarto), e muitas pessoas que convidei fizeram uma analogia do evento com o nascimento de um filho. E fiquei pensando em como essas duas coisas têm diferenças e semelhanças interessantes.

Livros e filhos são muito prazerosos de se conceber. É divertido e bom. A gravidez de ambos é mágica e estimulante, você se sente importante e especial. O problema é trazê-los ao mundo e fazer com que tenham uma vida longa, feliz e saudável. Porque escrever um livro é a parte mais fácil. A mais difícil é encontrar uma editora disposta a publicá-lo e distribui-lo com competência.

Ambos são a prova de sua passagem pelo mundo, a marca que você vai deixar, a diferença que você vai fazer. Dependendo do filho ou do livro, você pode ser lembrado com carinho ou xingado sem dó por um bom pedaço da eternidade. Ou ser solenemente ignorado pela eternidade inteira.

Mas não se deve esquecer que, tal qual para criar bem uma criança, para lançar um livro é bom que se tenha a ajuda de um pai. A editora faz as vezes desse segundo poder e é responsável por dar forma ao corpo ao volume, distribui-lo e promovê-lo. E o pai, nesses casos, pode encher o filho de carinho e ajudá-lo a crescer e ser feliz ou pode ignorá-lo e impingir-lhe traumas intransponíveis, impedindo-o de se desenvolver. Quem saberá até que o trabalho seja feito? Por sorte, esse meu último rebento tem a Integrare como pai e ele tem sido irrepreensível, um verdadeiro modelo.

Pode-se educar e cuidar de um filho, mas seu caráter já nasce com ele.  Isso deve explicar porque irmãos criados da mesma maneira são tão diferentes.  Também exime um pouco os pais de alguns comportamentos inexplicáveis dos filhos, pois, como nos lembra Sartre, “o essencial não é aquilo que se fez do homem, mas aquilo que ele fez daquilo que fizeram dele”. Assim, se um filho, por infortúnio dos genitores, virar ladrão ou assassino, não dá para simplesmente culpar os pais. Se ele for um gênio, também não. O humano é um ser muito complexo.

Já um livro é muito simples. Se você não gostar, achar chato, pretensioso, entendiante ou um desperdício de papel, a culpa é toda de quem o escreveu. Se for um amontoado de asneiras, se for cheio de veleidades e absurdos, se não servir nem para calço de mesa, o autor é o único responsável.

Dito isso, espero todo mundo no auditório da Acate, dia 7, segunda-feira, em Floripa, para apresentar a minha mais nova cria (inscrições para a palestra aqui).

Mas e alguém for lá e achar o meu rebento muito feio, sem sal, inconveniente, magrinho, mal-educado ou com cara de joelho, por favor, não me diga nada não; coração de mãe é muito sensível…rsrsrsrsrs

No ano que vem, espero aumentar a família com mais dois irmãozinhos para meus filhotes. Uns 9 meses e eles devem estar nascendo…

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