O escorpião e o cisne

Ontem fui ver Bruna Sufirstinha, admito, por pura curiosidade, já que não li o livro (Doce veneno do escorpião) e nunca consegui entender o motivo de tanto sucesso (continuei não entendendo). A produção é bem feita e a história, bem contada. As cenas apelativas e até muito constrangedoras são bem colocadas para contextualizar a história. Deve ter sido bem difícil para a ariz.

Li que o roteiro tem partes fictícias e não segue totalmente o livro, mas pelo que entendi, os argumentos da Bruna para ter virado garota de programa são bem furados. Sinceramente, penso que cada um faz o que quer da própria vida sem dever explicações sobre suas escolhas — justificar o que não carece de justificativa raramente dá certo. Só que em vários momentos do filme, a protagonista deixa claro que escolheu essa vida porque queria liberdade. Mas liberdade submetendo seu corpo aos desejos e vontades de estranhos? Achei meio contraditório.

De qualquer forma, talvez porque ainda estivesse bem impactada pelo Cisne Negro, vislumbrei um paralelo entre as duas histórias, que no fundo, são a mesma. Mulheres que têm a auto-estima debaixo do pé e querem, mais que tudo, ser amadas e admiradas. Para isso, torturam seu próprio corpo, machucam-se e ferem-se para o deleite de outras pessoas, no mais das vezes, perfeitas estranhas, que nem se dão conta do quanto custa isso.

A Nina do Cisne Negro esgotou-se a ponto de enlouquecer. Será que quem assistiu ao espetáculo onde ela dá literalmente tudo de si, soube valorizá-lo à altura de tanta dedicação? Será que os primeiros clientes que infringiram sofrimento à adolescente tinham noção do que ela estava sentindo? E as atrizes, de ambos os papeis, que devem ter ficado exauridas e passando mal?

Bem, essas mulheres estavam em suas posições por livre e espontânea vontade e ninguém tem nada com isso. Mas penso que resolver essa questão da auto-estima faria bem para ambas as personagens (na verdade, para todas as mulheres), independente da profissão que escolheram para ganhar a vida.

Quem não se ama, acaba dando o que não tem e ficando com um vazio enorme no lugar. E, pelo que tenho visto, dói muito.

4 Responses

  1. Mariana Nogueira
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    28 fevereiro 2011 at 3:41 pm

    Ótimo post. Ainda não vi nenhum dos filmes, mas já estão na lista para serem vistos. O que acredito é que temos essa ideia de buscar do lugar ao Sol. Queremos sempre liberdade. Óbvio, nada melhor do que ser dona do próprio nariz. Mas tem gente que segue pelo caminho mais difícil. É o famoso trecho da música de Renato Russo: “…era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”. Muita gente enfia os pés pelas mãos.
    Eu espero que as pessoas encontrem seu caminho, com liberdade sim, mas na cabeça. No coração. Sem medo de ser feliz. E com amor. Em tudo. Conheço gente que por querer tanto a liberdade, acaba se prendendo em seu pequeno mundo… E deixa de viver.

  2. 28 fevereiro 2011 at 3:41 pm

    Oi Ligia!

    Assisiti Bruna Surfistinha nesse final de semana e gostei do filme!
    Assim como você, fiquei pensando no quanto deve ter sido constrangedor para os atores fazerem aquelas cenas…rs

    Ainda não assisti o Cisne Negro, mas adorei o paralelo que você traçou e que, provavelmente, matou toda a charada: “Quem não se ama, acaba dando o que não tem e ficando com um vazio enorme no lugar.”

    A dica é boa: Mulheres, se amem mais!

    Beijo

    Mônica

  3. 28 fevereiro 2011 at 6:51 pm

    Que coincidência Lígia!!! Eu e Breno também assistimos ao filme ontem. =D

    O ponto de vista da auto-estima vc expôs um fato irrefutável.
    Apesar de ainda não ter assistido Cisne Negro, pude imaginar sua intenção de fazer o paralelo e entendi da mesma forma a semelhança gritante entre as duas personagens.
    Falando sobre Bruna Surfistinha, o filme, vi que as coisas foram mostradas de forma um tanto glamurosa: cheia de festas, dinheiro, felicidade, facilidade. O filme não explorou clichês como “a garota de programa que apanha” mas deixou de passar pelo menos uma boa mensagem no contexto sexual do filme, tipo o uso da camisinha. Não vi sequer uma no filme (nem ouvi falar). Ainda mais porque o filme recebeu incentivos de fundos federais. Mas fazer o quê…

    Foi um bom filme no fim das contas!
    A garota não teve MESMO uma vida fácil.
    Recomendo!

    O próximo que vou assistir será o Cisne Negro e a Natalie Portman que sou fã!

    Bj

    Júnior

  4. THiago Valinho
    Responder
    1 março 2011 at 12:44 am

    Excelente post!

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