O povo contra o PPT: será que o curso vale a pena?

Os bastidores

Gente, olha que tudo: eu fui paga para ASSISTIR a um curso sobre como fazer apresentações lindonas! Já pode começar a usar uma camiseta com os dizeres “essa pessoa venceu na vida”?

Peraí que vou contar como foi. O Flávio Reis, sócio da La Gracia, empresa que conheço há anos de São Paulo, me pediu um orçamento para fazer um testemunho de um curso deles (fiquei me sentindo “a influencer“…rs). 

Apesar de conhecer o histórico seríssimo da empresa, fui obrigada a dizer que não faço esse trabalho por um motivo muito simples: se eu não gostar, não consigo fingir. Não tem como prometer falar bem de uma coisa que não sei se vou admirar (e quem me segue sabe como sou chata no último com avaliações).

Minha proposta: como o assunto me interessava, ele poderia liberar o curso para eu fazer. Se gostasse, falaria bem para todo mundo. Se não gostasse, falaria mal, mas só para ele…rs. 

Mesmo que ele topasse, o problema ainda era a agenda apertadíssima e um pouco da minha alergia a vídeos (tenho que fazer muito esforço para conseguir assistir cursos online). Eis que o Flávio me propôs: então ele me pagaria pelas horas que eu ia gastar fazendo o curso como se fosse uma consultoria só para eu poder colocar na minha agenda como um job. 

Fechou então!

No final, posso dizer que gostei e aprendi bastante, mas, de fato, fiz muitas críticas. Mas olha o que é uma empresa séria: o Flávio me liberou para publicar minha análise INCLUINDO as críticas

Muito respeito por profissionais assim, viu?

A ideia do curso

Mas, do que afinal trata o curso? Bom, a maioria das apresentações que a gente assiste por aí com o uso do Powerpoint chegam a machucar os olhos, de tão ruins, concorda?

Então a La Gracia, especializada em apresentações corporativas, teve a ideia de colocar o Powerpoint num tribunal popular para ser julgado. Daí o nome do curso: “O povo contra o PPT”. 

Eles fizeram uma metáfora com um juiz (super tendencioso, por sinal…rs) que pede a ajuda de um especialista (os dois personagens são dramatizados com maestria pelo Flávio) para entender melhor as acusações e refutá-las. Um jeito leve, engraçado e divertido de introduzir o assunto; gostei muito.

A ideia é mostrar que a culpa de tanta feiúra não é do Powerpoint, mas do mau uso que se faz da ferramenta. Aí o especialista vai mostrando como dá para fazer coisas maravilhosas que ninguém diria que é um PPT.

A reclamona

Minha primeira crítica é que o principal problema do ppt não foi abordado: as pessoas querem transformar um documento escrito em apresentação, usando o mesmo texto, as mesmas tabelas, os mesmos gráficos e a mesma linguagem. 

No curso, o especialista recomenda que se reduza o texto, mas não com a ênfase necessária, na minha opinião. Os resultados finais dos exemplos mostrados  são peças gráficas realmente belíssimas, mas para uma brochura ou documento impresso; não para uma apresentação. Eu atormentei o Flávio até o final com essa história de excesso de texto nos slides. Mas o moço é muito paciente. Muito.

Ele me explicou que o curso não é voltado para palestrantes, que sobem no palco, abusam do storytelling e seguem à risca os conselhos do Steve Jobs. A ideia aqui não é preparar as pessoas para darem uma palestra no TEDx. 

É para aquele povo que precisa apresentar um TCC, um relatório de projeto para o chefe e a equipe, o resultado de uma pesquisa para um grupo de especialistas, enfim, pessoas que não são palestrantes profissionais, mas que também não precisam maltratar quem está assistindo a apresentação. 

Tem tabela? Tem. Tem gráfico? Tem. Tem mais de texto do que seria o ideal? Tem. Mas tudo isso sem machucar os olhos de quem está assistindo.

Para palestras mais espetaculares voltadas a profissionais da área, a empresa tem outros programas específicos, inclusive alguns especialmente voltados à construção de conteúdo e storytelling

Mas esse curso em especial foi pensado para ensinar como usar o powerpoint para fazer apresentações do dia-a-dia mais bonitas e com aparência mais profissional. 

Teimosa, ainda acredito que o ideal seria gerar esses resultados num formato impresso ou pdf em que as pessoas vão ter acesso sem ninguém para apresentar (se está tudo escrito lá, o palestrante é desnecessário) e fazer uma versão mais enxuta e com quase nada de texto quando for falar em público. Mas vá lá. Pelo menos a informação está bem organizada e agradável de se ver. E, uma vez que a apresentação completa está pronta e linda, fica fácil de tirar excessos.

Minha segunda crítica: tive que instalar o Powerpoint (só uso Keynote) para fazer os exercícios propostos. De fato, algumas funções específicas só estão disponíveis no programa da Microsoft, mas nada que prejudique o resultado final. 

O Flávio me explicou que a maior parte do público de interesse usa esse programa, mas está nos planos fazer versões futuras para outras ferramentas, como o Keynote, o Prezi e Google Slides. Precisava escolher um programa específico, senão não seria possível ensinar todos os truques e fazer os exercícios práticos.

E o que tem de bom?

Além da estrutura geral e dos conceitos, vem a parte que realmente interessa para aprender como fazer para uma apresentação ficar lindona:  o domínio sobre as cores e formas, o uso inteligente das imagens e a tipografia. Cada módulo desses é um show que vale o curso inteiro, na minha opinião. 

Cores e formas

O módulo sobre cores e formas é sensacional, mas o episódio sobre cores está especialmente útil, claro, objetivo e muito bem explicado. 

Mesmo quem é palestrante profissional vai ficar encantado com as ferramentas online que ajudam a escolher a paleta de cores da apresentação de maneira que elas fiquem harmônicas. Foi o módulo que mais gostei.

Imagens

Nota 10 para a aula sobre imagens. Chega daqueles bonequinhos manjados e das mesmas fotos de sempre que são um convite ao tédio.

Achei também muito importante a ênfase para não ignorar a autoria e a licença de uso, assim como as dicas de palavras-chave em inglês para encontrar as imagens certas e não cair no óbvio. 

A recomendação de não distorcer a imagem e como fazer tudo se encaixar é fundamental até para muito profissional que vejo por aí.

As dicas para recortar as fotos usando as formas pré-desenhadas também são fantásticas. E os exemplos do tutorial sobre as associações  de imagens com ideias também está perfeito. Quase podia ser um curso à parte. 

Fontes tipográficas

Excelente a apresentação sobre fontes; onde encontrá-las, como combiná-las.  Também a questão das colunas, alinhamentos, contrastes, espaçamentos, kerning estão muito bem explicadas e exemplificadas. Com certeza vai ajudar muito as pessoas que não saem do Arial.

Conclusões

Olha, fico feliz em recomendar o curso, inclusive para colegas palestrantes profissionais, porque acredito que ele tem muitas qualidades; mesmo já conhecendo praticamente todos os recursos apresentados, ainda aprendi muita coisa.

Na verdade, mais que isso: eu me dei conta de como ando preguiçosa para fazer apresentações mais caprichadas. Uso sempre fotos minhas como objeto de atenção principal para nortear o storytelling, mas as palavras-chave mereciam um melhor trato e fontes mais criativas.

No mais, parabéns à equipe envolvida e obrigadíssima pela infinita paciência do Flávio. O trabalho ficou primoroso e tive um enorme prazer em assistir às aulas. Vocês são sensacionais! Vai ser um sucesso!

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Quem ficou curioso, quiser se inscrever ou saber mais, o link é esse aqui: O povo contra o PPT.

2 Responses

  1. ENIO PADILHA
    Responder
    14 outubro 2020 at 8:21 am

    Excelente resenha do curso. Deu vontade de assistir. Quanto às suas queixas, desta vez vou ficar do lado do Tio Flávio. Eu pessoalmente, gosto quando os slides contém informações que contribuem para o conteúdo da palestra ou do curso. Slides apenas com imagens, em geral, não me agradam. O problema, pra mim é quando os slides têm muito texto e ainda por cima o palestrante começa a ler o que já está escrito. Aí é de chorar.
    Mas o design gráfico das minhas apresentações é uma coisa que eu preciso melhorar muito (embora sejam, hoje, muito melhores do que há 20 anos). Li vários livros sobre esse assunto e recomendo pra você, que é mais visual, o livro do Professor Baratieri (O SHOW), um trabalho espetacular, com recomendações ótimas sobre composição de slides para palestras (com uso do Keynote). Uso, hoje, muita coisa que aprendi nesse livro.

  2. Walkiria Maciel
    Responder
    22 outubro 2020 at 11:47 pm

    Adorei a análise do curso! Fiquei interessada nele! Concordo quanto ao texto. Ser mais objetivo no texto enriquece a fala de que está apresentando. Quando vejo texto e não palavras chaves ou frases curtas, fico na dúvida se presto atenção no apresentador ou leio e interpreto o texto no slide.

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