Eu Amanhã

Gente, olha só que luxo! Acabei de ganhar mais um filho, e esse já nasce super-mega-ultra-super-plus conceituado. É que o pai é a revista de negócios Amanhã, uma das mais respeitadas publicações da região sul.

Meu novo blog se chama DNA Corporativo e vai falar, adivinhe? Sobre identidade corporativa, claro! Toda semana vou postar textos sobre o tema e penso que a interação com os leitores vai ser bem bacana. Apesar do frio na barriga que dá ao ter mais um desafio para dar conta, a sensação é deliciosa.

Vai dar uma voltinha, vai? E também preciso lembrar que meus colegas daquele pedaço não são fracos não. Vale a pena conferir…

São uns artistas

Já foi dada a largada para a maratona da volta, e vim para casa só para trocar as malas. Amanhã vou a Joinville , depois São Paulo e finalmente, na quinta, volto a Berlin. Por isso, pode ser que esse canto fique um pouquinho abandonado por esses dias.

Mas gente, vê se não é para a pessoa ficar com o coração na mão de deixar esses verdadeiros artistas cuidando da casa. O que vale é que os avós, que estão morrendo de saudades, vão mimar bastante esses fofinhos até março, quando volto para mais um mês de bastante trabalho.

Por ora, fiquem na luxuosa companhia desses charmosos rapazes…

Heitor em primeiro plano, seguido do Otávio e do Haroldo. O cachê do Horácio estava muito caro e não deu para pagar...eheheh

Sacola inteligente

Olha só o que descobri no twitter da @alesie: uma brasileira que mora em Londres e está participando de um projeto muito bacana e original. A ideia era fazer uma revista sobre sustentabilidade e vida saudável. Aí o povo pensou melhor e viu que a revista devia servir para mais alguma coisa. Foi aí que nasceu a Elpis MagBag, uma revista em forma de sacola que é distribuída gratuitamente nos estabelecimentos que respeitam a sustentabilidade (fora que a sacola é de papel, anos-luz mais charmosa que as manés de plástico…).

Como a sacola é de graça, a ideia é financiar o projeto com anúncios. Não é genial?

Dá para saber mais sobre o projeto e até colaborar, clicando aqui. O link que a @alesie postou foi esse aqui (blog ótimo de uma brasileira morando em Londres cheio de dicas bacanas).

Na pele do palhaço

Mesmo com a correria toda, consegui ver dois filmes nessa semana (dificilmente eles vão passar em Berlin; e lá eu tenho que catar os que são exibidos com o som original, geralmente em inglês, pois a maioria é dublado em alemão). Então lá fui eu ver “A pele que habito“, do genial Almodovar e “O palhaço” do talentosíssimo Selton Melo.

Comecemos pela obra de Almodovar. Olha, sou suspeita, pois adoro esse cineasta. Além de ótimo diretor, a capacidade dele de inventar histórias inusitadas é fantástica. Eita homem criativo. Fico pensando de onde ele tira tanta coisa que ninguém tinha pensado antes.

A pele que habito” conta a história de um médico (Antonio Banderas, irrepreensível) obcecado pela esposa, que morre depois de ter sido totalmente queimada num acidente de carro.

Muitas coisas acontecem, e o sujeito cisma que vai desenvolver uma pele resistente ao fogo. Acontece muita coisa a partir dessa ideia aparentemente simples e a história é tão mirabolante, chocante e surpreendente que só posso classificá-la de genial.

Mas como ele vai até às últimas consequências nessa loucura criativa, preciso dizer também que o filme é bem pesado, desses que a gente fica dias depois pensando e relembrando trechos. Prepare-se psicologicamente e vá. Recomendo demais.

Já “O palhaço“, de Selton Melo, tem um elenco impecável, fotografia linda, direção indefectível e tudo funcionando direitinho. Selton desencantou Moacir Franco, numa das melhores cenas do filme, e até o Ferrugem, o menino sardento que estampava as capas dos livros de matemática da minha infância.

O ponto fraco (além do som bem ruim, mas isso, por algum motivo, é típico de filme nacional) é justamente o roteiro. A história é bonita, mas de tão simples chega a ser simplória. Não há trama, não há tensão, não há emoção. Apenas uma bela historinha bem contada.

Olha, o Selton é genial como ator e uma grande revelação como diretor, mas como roteirista ainda tem bastante chão. Mesmo assim, recomendo ver, desde que não se vá com grandes expectativas.

Leitinho que é um conforto para os olhos

A Federação dos Produtores de Leite de Quebec, Canadá, teve uma ideia muito bacana para promover o consumo do laticínios: convidou 6 artistas da cidade para ilustrar caixinhas de leite. O desafio era transmitir o conceito da campanha: “leite é uma fonte natural de conforto“. A ideia era lembrar a sensação acolhedora que é tomar um copo de leite com biscoitos antes de dormir.

Se o povo passou a tomar mais leite, não sei, mas as embalagens ficaram um show. Olha só as que eu achei mais bonitas.

Achei no sempre ótimo Packaging UQAM.

O profissional inovador

Esses dias dei uma palestra em Minas Gerais sobre o profissional inovador. O povo pediu um texto, então, ei-lo.

Comecemos a conversa esclarecendo o que vem a ser esse tal de profissional inovador. Quando a gente diz inovador, está falando daquele sujeito que usa a criatividade para gerar valor para o cliente e está sempre buscando oportunidades de fazer isso acontecer. A frase parece simples, mas é fácil esquecer que a referência é o cliente, esse ser que nos remunera pelo trabalho que fazemos, ou, em última instância, pela mudança que provocamos na vida dele.

É tentador cair na armadilha de investir tempo e dinheiro construindo uma coisa para a qual o cliente não está nem aí, mas que a gente acha que vai ser o máximo da inovação. Em se tratando de profissionais criativos, o ego é uma armadilha perigosa que nunca sossega. Inovação não é para ganhar prêmio ou fazer sucesso na balada, é para provocar mudança boa na vida dos clientes.

Dito isso, vamos aos hábitos que convém desenvolver para tornar a inovação uma prática cotidiana.

1. Não se acomode. O mundo é dos insatisfeitos, daquelas pessoas que não se conformam, que acham que se pode fazer melhor. O profissional inovador não poderia ser diferente, pois está sempre em busca de algo que ainda não existe; você jamais vai ouvi-lo dizer “é, nosso atendimento está ruim, mas há piores” ou “em time que está ganhando (ou empatando) não se mexe“. Nivelar por baixo não faz parte de seus princípios. Seu mantra é “mesmo que os clientes tenham elogiado, ainda podemos melhorar muito“.

2. Seja curioso. As experiências que a gente vive no dia-a-dia são a principal matéria-prima para criar. Inovação nada mais é do que a recombinação de informações que já existem para criar algo novo e de valor. Se a pessoa tem um repertório pobre e convencional, dificilmente vai conseguir fazer recombinações inéditas e valiosas. Se não tem elementos originais, não alimenta seus sentidos com sensações diferentes e inusitadas, corre o sério risco de cair no lugar-comum. Aí, babaus inovação. Experimente uma textura, sabor ou cheiro novo todo dia. Ouça sons que normalmente não escolheria. Dê comidinha nova para seus olhos. Sempre.

3. Não alimente preconceitos. Ok, essa é a mais difícil, pois a gente é geneticamente programado para ser preconceituoso (nosso cérebro categoriza as coisas para economizar energia e processamento), mas faça um esforço para não tirar conclusões antes de ter as informações completas. Se a gente não julga e não tenta encaixar as coisas em caixinhas estanques, o mundo fica maior e mais cheio de possibilidades.

4. Coloque-se no lugar do outro. O nome disso é empatia e faz a gente ficar muito mais tolerante com os erros alheios, além de ser ótimo para acabar com preconceitos. Também abre as portas da percepção para perceber coisas que antes passavam batido. Um bom jeito de potencializar a capacidade de empatia é fazer um curso de teatro. Quer mais empatia do que emprestar seu corpo para dar vida a um ser completamente diferente de você? Toda vez que estiver discutindo com alguém, proponha vocês trocarem de lugar e defenderem o ponto de vista um do outro. É uma experiência transformadora e nem dói tanto quanto parece.

5. Equilibre os lados do cérebro. O lado esquerdo é o racional, analítico, sequencial. O direito é emocional, sintetizador, simultâneo. O profissional inovador sabe usar os dois lados sem privilegiar nenhum em especial, para não ficar manco. A pessoa que é pura emoção e intuição não consegue converter suas ideias em realidade; então é como se não as tivesse tido. Quem é pura razão deixa escapar sutilezas que poderiam ser valiosas. Por isso é que quem usa um lado só, simplesmente não inova.

6. Tenha bom humor. Gente ranzinza gasta muito tempo reclamando das coisas e perde a chance de aprender com situações inusitadas; é como se fechasse as oportunidades para o cérebro “viajar”. Bom humor é essencial no processo criativo. Além disso, excesso de seriedade afasta as pessoas e isso é péssimo, haja vista o fato de que não é possível criar nada sozinho. Bom ter em mente que pessoas com competências diferentes das nossas são indispensáveis no processo de inovação — ninguém consegue ser bom em tudo e inovar sozinho.

7. Estude muito. Conhecimento não cai do céu, é preciso ralar muito, não tem como pular essa parte chata. Saber como executar e tornar real a ideia é tão importante como ter a ideia. Ainda mais porque o estudar amplia em muito a possibilidade de criar, já que aumenta a quantidade de matéria-prima que se tem para recombinar. Malcom Gladwell já demonstrou que não dá para ser excelente em nada se não dedicar pelo menos 10.000 horas ao tema que se quer dominar. Inovação não é exceção.

8. Saiba ouvir. Falar é bem legal, mas a gente aprende muito ouvindo, principalmente o cliente. Às vezes, de uma frase solta a gente consegue desenvolver uma ideia bem original. Ouvir pessoas, de uma maneira geral, é uma experiência enriquecedora, além de desenvolver a paciência, o que não é pouco. Não dá para inovar sem ouvir. Fato.

9. Pense a longo prazo. Faz parte do processo de inovação pensar em como aquela ideia pode se desenrolar no decorrer do tempo. Sustentabilidade não é só ecologia; trata de como manter a coisa funcionando no médio e longo prazos. De que adianta uma coisa ser bacana e encantar o cliente por um período curto, se depois ele quer mais e não consigo entregar? Ser consequente é essencial para inovar com responsabilidade.

10. Acredite no impossível. Já dizia o artista francês Jacques Cocteau: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez“. Isso resume bem o espírito da inovação. Certamente haverá muita gente para dizer que a ideia é impossível, que não dará certo. Se o profissional usou bem os lados esquerdo e direito do cérebro, já terá calculado os riscos e planejado o sucesso. A inovação é a arte de tornar possível o impossível, e todo profissional inovador sabe bem disso.

Sexênio, imodificável e demissão

IMG_6547

Mais um contículo criado a partir de 3 palavras achadas aleatoriamente no dicionário (exercício de criatividade; tente fazer em casa!).

***

O deputado Túlio Ricardo não aguentava mais aquela situação. Sexênio, seu secretário particular há anos, estava escondendo alguma coisa desde anteontem, quando voltou das férias no Qatar. Aquele arzinho de quem sabe mais que os outros não o enganava não; ele já tinha pêgo o rapaz rindo sozinho várias vezes sem nenhum motivo aparente. TR tinha que descobrir o que era.

Perguntar diretamente não era uma opção; não era à toa que o sujeito havia sido criteriosamente escolhido para ser seu assessor em assuntos randômicos. Nunca responder a uma pergunta era uma arte que ele cultivava com dedicação desmedida há muitos anos — tempo suficiente para tornar esse traço do seu caráter imodificável.

Mas nada que um bom detetive particular não pudesse resolver. O relatório estava agora sob sua mesa. Quem diria… então Sexênio tinha participado como ator num curta metragem alternativo e recebeu um prêmio como revelação no festival nacional de Qatar. Ganhou uma dinheirama de respeito e agora era celebridade naquelas bandas. Sexênio agora era Sex.

Céus, e agora? Se Sexênio pedisse demissão, quem iria atender ao telefone quando a ex-mulher de TR ligasse?

O deputado tomou a decisão: iria se matricular urgentemente num curso de teatro e providenciar passagens para o Qatar. Sem Sexênio, ele ficaria aqui completamente à mercê de Vandycreude. Resolveu então que tentaria a carreira artística e ficaria lá por pelo menos seis anos…

A saga brasileira

Esse eu já terminei faz tempo, mas só agora estou conseguindo me organizar para compartilhar. Ganhei dos queridos Maria Helena e Marcos, do Delícias Portuguesas, o ótimo “Saga Brasileira“, da Míriam Leitão (gente, a Helena é a melhor chef que eu conheci na vida; a mulher parece que tem uma varinha de condão para fazer qualquer coisa que toca ficar escandalosamente delicioso — lá em Berlin, a comida que eu mais senti saudades foi o bacalhau assado que essa moça faz).

Mas, voltando ao livro, penso que ele deveria ser incluído como texto obrigatório nas escolas; ainda bem que a Míriam se dispôs a escrevê-lo. Ela conta todo o processo que nos levou da hiperinflação até a estabilidade que desfrutamos hoje.

Quem não viveu em tempos de inflação alta não faz ideia do inferno que é; os preços das coisas mudavam todo dia, não tinha como se planejar. Vários governos tentaram planos mirabolantes sem sucesso: o Sarney, que fez as donas de casa fiscalizarem os supermercados escoltadas por policiais; o Collor, com aquela pantomina estrelada pela incompetente e irresponsável equipe da Zélia Cardoso de Melo, só para citar os mais famosos e impactantes.

A Miriam conta a história com uma fundamentação bem feita baseada em pesquisas, mas também inclui histórias de personagens reais que fazem tudo ficar mais interessante. Fazia pouco mais de um mês que eu estava no meu primeiro emprego como engenheira quando o Collor fez a economia brasileira ficar de ponta cabeça e tirou quase todo o dinheiro disponível no mercado; muitas empresas quebraram e, por sorte, a WEG, onde eu trabalhava, resistiu.

A autora também fala do processo regido pelo Fernado Henrique Cardoso que trouxe a estabilidade sem planos mágicos e com transparência; ninguém aguentava mais pacotes-surpresa. Fala de como o PT fez tudo o que estava a seu alcance para boicotar e torpedear o plano (ainda bem que não conseguiu, senão o Lula não teria conseguido desfrutar da estabilidade quando assumiu o governo), das dificuldades todas encontradas pelo caminho e do risco que a gente corre até hoje se não fizer a lição de casa bem direitinho (sei não, mas essa copa está botando as coisas na corda bamba com esses gastos todos sem orçamento).

Mas Míriam fala também da extraordinária capacidade que os brasileiros têm de se adaptar às situações mais improváveis; imagina um povo semi-analfabeto (fato) que precisou dividir a moeda velha por 2750 para encontrar o valor da nova. Pois o pessoal tirou de letra, fazendo os países que adotaram o Euro ficarem com vergonha (lá a conta era bem mais simples e muitos europeus não conseguiam entender).

Olha, esse livro não é de economia. É de história. Básica. Coisa que quem passou não devia esquecer (para não repetir a experiência nefasta) e quem ainda não tinha nascido ter uma ideia de como é. Recomendo com estrelinhas.

Vamos por partes

Ilustração: Julia Randall

Estou em Belo Horizonte agora (sorry, morram de inveja, queridos) para uma palestra e passei boa parte do voo da vinda me deliciando com “O amante detalhista“, de Alberto Manguel.

O livro conta a história de Anatole Vasanpeine, um solitário funcionário dos banhos públicos da cidade francesa de Poitier. Anatole é descrito desde o começo como uma figura sem graça ou ambição. Mas uma coisa ele tem de especial: em vez de olhar o todo, como a maioria das pessoas, tem um fascínio compulsivo pelas partes. Partes de tudo: paisagens, lugares, edificações.

Sabe quando você  foca um detalhe e o resto fica borrado? Pois nosso personagem vê tudo assim, sem reparar que vê o mundo diferente, até que descobre o encanto que é o corpo humano em todas as suas minúsculas particularidades: uma dobra de cotovelo, um vão atrás da orelha, uma mecha de cabelos, um dedo, um pulso. Ele não faz distinção se a pessoa é homem, mulher ou criança; apenas admira, embevecido, as singularidades de cada um.

Vasanpeine aprende a fotografar e cria um novo tipo de arte: captura imagens de detalhes entrevistos em um vão de um dos quartos de banho. Atente para o fato de que não é o que se poderia chamar, apressadamente, de voyeur, pois ele fotografa sem ver; apenas a lente da câmera tem acesso ao modelo. Ele descobre o que fotografou e desfruta da obra somente depois que a foto é revelada.

A história é curta, muito bem escrita, e não vou contar o curioso final, mas fiquei tentada a passar um dia olhando apenas as partes das coisas, sem considerar o todo. Preciso contar que é difícil, muito difícil mesmo. Mas vale exercitar esse novo jeito de ver o mundo que nunca tinha passado pela minha cabeça… que tal tentar também?