Qualquer maneira de ler vale a pena, qualquer maneira de ler valerá…

Foto: Su Blackwell
Foto: Su Blackwell

Esses dias me dei conta que meu jornal preferido por essas bandas é o Berliner Zeitung. As pessoas olham para mim meio desconfiadas quando falo isso, pois acham que estou brincando.

É que esse é um jornal nos moldes do “Notícias Populares” ou “A Hora de Santa Catarina“. Sabe aqueles periódicos bem povão mesmo? Com textos curtos e muitas fotos? É isso (a diferença é que aqui não tem mulher pelada na capa…rsrsrs). Adoro!

E sabe por quê? É que lendo esse jornal eu entendo quase tudo e me divirto bastante, diferente de quando tento decifrar um “Die Zeit“, um jornal considerado sério e respeitado, mais adequado para alguém do meu “nível cultural”…rsrsrs…. O “Die Zeit” tem análises primorosas, mas nunca consigo passar do terceiro parágrafo (durmo antes).

Aí me lembrei que quando era pequena adorava ler gibis e qualquer porcaria que me caísse nas mãos. Muita gente acha que criança só deve ler coisas instrutivas e que o Tio Patinhas chega a ser anti-ético, de tão absurdo e preconceituoso. De fato ele o é, mas só cheguei a essa conclusão anos e muitas outras leituras depois, às quais só cheguei graças justamente ao Tio Patinhas.

O que boa parte das pessoas não se dá conta é que, no início, o objetivo é ficar fluente na leitura, ficar à vontade com as palavras, mergulhar nas letras sem pensar muito.

Depois desse período para ganhar intimidade, dá para ler outras coisas, se a pessoa quiser. Então, um monte de gente pode achar absurdo o que vou dizer, mas vale ler qualquer lixo quando se trata de obter fluência. Qualquer mesmo, até livro de auto-ajuda (que considero o pior uso para a palavra impressa). Vale livro de bolso de bang-bang, romance tipo Sabrina, revista de celebridades, jornal popular, enfim, qualquer coisa que tenha palavras impressas.

Foi assim que me viciei na leitura quando era pequena, foi assim que comecei a ler em inglês (Sidney Sheldon é ótimo para isso) e é assim que vou partir para o alemão, já decidi.

Parei de tentar decifrar textos que eu leria em português ou inglês, mas que ainda não estão ao meu alcance nessa língua de bárbaros. Então vamos de Dan Brown e Berliner Zeitung mesmo. Estou lendo “O símbolo perdido” (acho que em português saiu com esse nome) e o prazer da leitura voltou com tudo. Ok, os personagens são rasos e o autor apenas descreve as cenas, sem muitas firulas. Não dá para aprender muita coisa, mas como diversão já está de bom tamanho. Tem ação o tempo todo e dá para ler quase sem dicionário. Pra que mais, minha gente?

Pois então, vou me divertir bastante e depois que tiver mais confiante, passo para o próximo nível.

Começar a viver em outro país e aprender uma língua nova aos 45 anos é um baita exercício de autoconhecimento, além da revisão dos conceitos e preconceitos. Todos os nossos processos cognitivos precisam ser repensados; por outro lado, hábitos que eu tinha quando criança e ainda estava começando a aprender coisas acabaram voltando com tudo.

Então fica aqui a dica para quem estiver aprendendo outra língua ou mesmo tentando adquirir o hábito da leitura: leia qualquer coisa, qualquer mesmo. Pelo menos umas 20 páginas por dia. E para quem não tem tempo, olha como eu faço: sempre levo um livro que não precise de dicionário para ler no metrô (em inglês, na maioria das vezes) e o mais difícil (geralmente em alemão) leio antes de dormir, com um lápis na mão, para anotar as palavras novas.

Funciona, eu garanto!

***

Quer dizer, tem que funcionar….rsrsrsrs

7 Responses

  1. 10 setembro 2013 at 7:41 pm

    Perfeito. Isso mesmo. Ler qualquer coisa é melhor do que não ler nada!
    Tive uma professora de português na faculdade (sim eu tive Português na Faculdade de Engenharia!) que era um poço de cultura. Lia Sartre, Foucault, Baudelaire… mas também lia Sabrina e outros romances que os acadêmicos demonizavam. Ela simplesmente lia DE TUDO!
    O nome dela é Regina Carvalho. Aprendi muito com ela. Até hoje sou fã.

    Lígia, ficou uma dúvida: você está lendo Dan Browm em inglês ou alemão?

    PS. Também gosto dos livros dele. Costumo dizer que ele é o Sidney Sheldon dos nossos dias.

    PS2. Adorei a afirmação de que “livro de auto-ajuda é o pior uso para a palavra impressa”.

    Show!

    • ligiafascioni
      Responder
      11 setembro 2013 at 11:07 am

      Oi, Ênio!

      Bem lembrado; a Regina Carvalho é um ícone na engenharia; todo mundo teve aula com ela. Adoro aquela mulher, ainda mais depois que me fui morar na Trindade e descobri que ela era minha vizinha de bloco.

      Estou lendo o Dan Brown em alemão (Das Verlorene Symbol) ; em inglês deixo para ler coisas que ainda não consigo em alemão. Em português só leio blogs (é que nessa língua já sou fluente….eheheheh)…

      Beijos e até breve!!!!

  2. 11 setembro 2013 at 11:51 am

    Estou conseguindo ler alguns textos sem ajuda de tradutor/dicionário, em inglês. Quero ficar fluente nessa língua, na leitura.
    Eu vou comprar um livro caro que seja no idioma inglês, vou ver se tem na seção de importados da livraria, ou comprar pela internet mesmo.
    Eu penso assim: Posso muito bem ler os textos da internet inglês mesmo, acessando o http://google.com/?hl=en e fazendo buscas em inglês como se eu estivesse nos EUA, para aprender inglês, mas eu comprando um livro no idioma Inglês, como vou estar pagando caro, vou ter a obrigação de ler, mesmo que demore muito, para não perder o dinheiro hehehe.
    Agora depois de ler este texto, vou pensar em procurar literatura infantil em inglês (que tem vocabulário fácil), ou até mesmo uma revista estilo esses jornais de polêmicas, com muitas imagens e textos informativos pequenos.

    • ligiafascioni
      Responder
      11 setembro 2013 at 11:59 am

      Oi!
      Na Saraiva tem livros de bolso em inglês com preços ótimos (mais baratos que os em português). A Amazon.com vende livros usados a preço de banana (já comprei vários por menos de U$ 1,00). O que dói é o frete (mais ou menos U$ 12), mas vale muito a pena. E não precisa começar com livro difícil; comece com Dan Brown, Sidney Sheldon e esses aí que são bem fáceis. Praticamente só tem diálogos e descrições sucintas dos lugares, você vai ler quase sem dicionário e quando perceber já foi um tijolinho 🙂
      Boa sorte e sucesso!!

  3. Clotilde♥Fascioni
    Responder
    11 setembro 2013 at 2:20 pm

    Maravilha, pena que sou analfabeta em outras linguas.

    • ligiafascioni
      Responder
      12 setembro 2013 at 3:40 am

      Mas em português mesmo já dá para a pessoa gastar várias vidas para dar conta de tudo o que há para ler…ehehehe
      Beijinhos <3

  4. Vera Gomes
    Responder
    29 julho 2015 at 7:22 pm

    Oi Ligia, adorei o blog e este texto em especial. Concordo plenamente, principalemte se tratando do alemão, hehe.
    E agora, já adquiriu fluência?
    Eu sempre digo que eu precisei de 3 anos para deixar de ter dor de cabeça nas conversas com alemães (dor de cabeça para tentar seguir o que eles estavam falando, um trabalhão no começo!).
    Só uma coisinha, você provavelmente se referiu ao B.Z., não? Existe em Berlim também um Berliner Zeitung decente no nível do Tagespiegel e do Berliner Morgenpost (ok, não no nível do Die Zeit ou FAZ, convenhamos), mas quando você disse que era nos moldes do “notícias populares” achei que você estivesse se referindo ao B.Z. Abraços

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