Sobre as minhas palestras

Puxa, essa semana aconteceu de novo. Normalmente recebo 3 a 5 convites por mês para dar palestras em eventos acadêmicos de design. No final do ano, às vezes chegam a ser 8 convites (esse mês foi quase isso). É claro que fico honradíssima e muito feliz com a lembrança, ainda mais porque adoro falar com estudantes. Só tem um probleminha: todos esses convites são para falar gratuitamente, uma espécie de trabalho voluntário. Quando o evento é em outra cidade ou estado, eles pagam o transporte e a hospedagem, mas mesmo assim perco no mínimo dois dias de trabalho para ir, falar e voltar.

Queria deixar bem claro que adoro esses convites e gosto mais ainda de dar palestras nesse tipo de evento. O problema é que dou palestras profissionalmente, essa é uma das minhas fontes de renda e um serviço que ofereço para clientes. Invisto bastante nisso, não só em termos de tempo e estudo, como em livros (muitos e bem caros) e cursos. Tenho uma empresa, preciso pagar despesas e impostos e não tenho vínculo empregatício com nenhuma instituição (não tenho salário, décimo terceiro ou qualquer direito trabalhista).

Assim, é bastante difícil aceitar todos esses convites. É claro que tenho responsabilidade social e faço várias palestras gratuitamente, mas não dá para trocar um trabalho remunerado, que é a minha sobrevivência, por palestras gratuitas. Vejo muitas vezes organizadores reclamando, me chamando de mercenária e citando várias pessoas que fazem palestras gratuitas. É confortável me chamar de mercenária quando o seu salário está lá na sua conta, no final do mês, o que não é o meu caso.

As pessoas que generosamente oferecem palestras gratuitas, são, muitas vezes, professores de universidades cujo salário não será descontado por causa da falta para viajar e palestrar. Claro que há outros profissionais em situação mais estável (e confortável) que também colaboram, mas também são poucas palestras por ano (todo mundo precisa trabalhar, né?).

Assim, pessoas que me convidam, por favor, não me levem a mal e compreendam a situação. Eu geralmente faço uma proposta cobrando menos da metade do que cobraria de uma empresa, mas mesmo assim preciso cobrar. É como se você fosse um designer, fizesse marcas gráficas bacanas e recebesse vários convites todo mês para fazer seu trabalho de graça. Não dá, por mais boa vontade que você tenha…

6 Responses

  1. Jacque
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    22 setembro 2009 at 1:51 pm

    Querida Lígia, você está certíssima em suas colocações a respeito e parabéns por torná-las públicas. Palestrar por questões de amizade e generosidade ou outro fator na mesma linha é prazeiroso, mas isso se tornar um hábito já passa a ser um abuso e é subestimar a nossa inteligência, não é mesmo? beijo, Jacque

  2. 22 setembro 2009 at 4:37 pm

    puxa… será que suas palavras conseguem ganhar o mundo?
    concordo em gênero, número e grau!
    bj

  3. 22 setembro 2009 at 11:11 pm

    É isso aí, Lígia! Certíssima.
    Fazer palestras, em qualquer área profissional, faz parte do trabalho da gente. Independe de sermos designers, médicos, professores, publicitários ou palestrantes. As palestras existem para compartilhar conhecimento e são o resultado de muita, muita dedicação.
    Sucesso pra você sempre, abraço

  4. 23 setembro 2009 at 9:27 am

    Eu sempre digo que se o Padeiro não me cobrasse o pão, o Governo não me cobrasse “o imposto” e a Celesc não me cobrasse a luz, eu não teria problema algum em realizar meu trabalho também sem cobrar.

    Tem uma frase que ouvi há um tempo, e que achei ótima: “Não me peça para fazer de graça a única coisa que eu sei fazer para ganhar dinheiro”.

    Benevolência tem limite, né?

    Um abraço,
    Antonio

  5. 3 outubro 2009 at 7:21 pm

    Oi, Lígia
    O meu caso, como você sabe, é muito parecido com o seu.
    E eu resolvi da seguinte forma: desde o ano passado eu inaugurei o PROJETO UNIVERSIDADES. funciona assim: se eu tiver um curso ou palestra agendado em uma determinada cidade e uma universidade (Coordenação de Curso ou Centro Acadêmico) solicitar, eu faço a palestra, um dia antes ou um dia depois, sem cobrar honorários. Neste caso a universidade paga apenas duas diárias no hotel em que eu estiver hospedado.
    Tem funcionado muito bem. Já fiz palestras em lugares bem bacanas por este projeto (UnB, UFBA, UFSC, UEL, Unipar…)
    Todo mundo fica feliz (todo mundo mesmo, porque eu também adoro dar palestras em universidades) e fica mais fácil dizer não para as palestras que quebram a agenda.
    Imagina ir daqui a Salvador para dar uma palestra em troco de hotel e refeições!

  6. Maria Helena dos Santos
    Responder
    20 outubro 2009 at 8:45 am

    Adorei a sua colocação. As pessoas, ao nos procurar levam em consideração o fato de sermos bons profissionais ou o fato de cobrarmos barato ou ainda por nada cobrarmos. Para mim, somente a primeira razão é que importa porque as outras duas, quando insistimos em aceitá-las poderão estar mascarando a nossa percepção quanto a capacidade e se inistirmos em abraçá-las poderemos entrar num buraco sem fundo. Sua colocação foi simples, objetiva e principalmente, isenta de orgulho. Um forte abraço para você e fique com Deus.

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