Um pouco de impossível todo dia

Alice riu: “Não se pode acreditar em coisas impossíveis“.

Com certeza você não tem muita prática“, disse a Rainha Branca. “Quando eu tinha a sua idade, sempre praticava meia hora por dia. Ora, algumas vezes cheguei a acreditar em até seis coisas impossíveis antes do café da manhã“.

Lembrei desse trecho do livro “Alice no País dos Espelhos” quando vi o filme “Alice” no cinema, há algumas semanas. Na versão Timburtoniana, as palavras vão para a boca do pai de Alice, que tenta convencer um investidor.

Depois lembrei de novo quando pedi para meus alunos desenvolverem um produto conceitual, sem nenhum tipo de restrição técnica ou financeira. Sempre vejo o pessoal reclamar que sua criatividade nunca é bem aproveitada por conta das tais restrições, que podam e bloqueiam seus talentos. Pois é, paguei para ver e o resultado foi menos que decepcionante. Nada extraordinário, tudo bem convencional e dentro da caixinha. Por que será que isso acontece?

Bom, criatividade, como qualquer outra habilidade humana, precisa ser exercitada. Não adianta a Dioclésia dizer que consegue passar no vestibular se não estudar pelo menos um pouco todo dia. Não acredito que o Josenildo consiga acordar um belo dia e escrever um romance; o sujeito não costuma escrever nem mesmo bilhetes curtos. É complicado imaginar a Claudinete preparando sozinha um jantar sofisticado para 18 convidados se ela mal consegue fazer pipoca no microondas. Por que com a criatividade seria diferente?

A gente raramente treina pensar coisas fora do que conhece. Nossas ideias impossíveis são raras e difíceis. Quer ver? Marque 5 minutos no relógio e tente pensar em duas coisas impossíveis de verdade. É difícil, né?

Pois é, e se a gente não pratica, na hora em que tiver a grande chance, vai atrás dos seus queridos neurônios e encontra-os cheios de reumatismos e dores difusas. Tarde demais.

Então, proponho aqui seguir o conselho da Rainha Branca e tirar um tempinho todo dia para pensar em coisas impossíveis. Se a gente quer se superar, virar atleta do impossível, tem que treinar muito. Proponho começar com uma ideia impossível por dia. Vou tentar publicar as minhas 5 melhores toda semana aqui no blog.

Andei praticando por esses dias e olha só algumas ideias impossíveis, para começar:

Usinas eólicas móveis: fiquei imaginando que as usinas eólicas poderiam ter um perfil no twitter e uma avisasse às outras onde é que está bombando o vento. Aí iriam todas para lá, curtiriam o momento e, em seguida, andariam até a próxima ventania.

E falando em andar…

Moto para andar nas nuvens: voar de avião, é, para mim, o equivalente a viajar de carro por terra. E assim como há motos, que faz a gente se integrar mais ao ambiente, deveria haver também uma versão onde se pudesse voar pelo meio das nuvens. Já pensou?

E falando em nuvens…

Nuvens coloridas: haveria um artista em cada cidade (uma equipe poderia se revezar) para escolher as cores das nuvens a cada estação de chuvas. As cidades mais ousadas teriam nuvens estampadas.

E falando em moda…

Bolsa com perninhas que andassem ao nosso lado: Chega de problema na coluna. As bolsas teriam perninhas longas e elegantes e andariam sempre ao nosso lado, como fieis escudeiras. Com o tempo, elas também poderiam usar sapatinhos estilosos.

E falando em bolsas…

Canetas que voltam sozinhas para a bolsa: a gente ensinaria o caminho uma vez só e a caneta aprenderia que aquela bolsa é a casa onde ela deve dormir todo dia. Depois poderiam ser desenvolvidas versões para chaveiros e batons.

E falando em chaveiros…

Carros gelatinosos: Chega de acidentes fatais, vamos nos divertir mais! Com carros feitos de gelatina, a aerodinâmica seria melhorada e o mundo seria mais fofo.

E falando em carros…

Cinto de segurança massageador: Ninguém mais ficaria chateado de ficar preso no engarrafamento, com certeza. As pessoas relaxariam e até poderiam treinar ideias impossíveis.

E falando em ideias impossíveis….

***

PS: Tentei desenhar uma das ideias (a da bolsa com perninhas), mas como não tenho me exercitado muito ultimamente, o traço ficou bem pesado. Vou tentar desenhar pelo menos uma ideia impossível todo dia.

17 Responses

  1. Renato
    Responder
    9 maio 2010 at 6:53 pm

    A caneta que volta sozinha para a bolsa já não é mais original! Na série do Rick Riordan, Percy Jackson e os olimpianos, o protagonista (Percy) tem uma caneta que vira uma poderosa espada que volta para o seu bolso. Continua impossível, mas…

  2. Clô♥
    Responder
    9 maio 2010 at 6:55 pm

    Canetas e chaveiros (e celulares) que voltariam para a bolsa achei genial e perfeitamente viável, por que não?

  3. 9 maio 2010 at 7:25 pm

    Adorei! Isso é tão importante como escovar os dentes todos os dias, claroooooooooooooooo !
    A minha idéia, já velhinha até (e talvez nem tão impossível assim), é que em todas as academias de ginástica, natação, etc., se convertesse a energia gerada pelos alunos em energia para ser utilizada pela próprio estabelecimento.

    Outra coisa: o Mario Quintana sempre dizia que o vento tinha inveja das cores do arco-iris. Talvez as nuvens também tenham…
    Beijos

    Lígia Fascioni: Oi, querida! Acho que já ouvi a propaganda de uma academia com esse recurso (de transformar a energia produzida pelos alunos em algo mais útil do que músculos…eheheh). Acho ótimo quando uma ideia impossível se torna possível. Na engenharia existe um ditado em que o impossível não existe: é tudo uma questão de tempo e dinheiro….

  4. 10 maio 2010 at 11:26 pm

    Gostei da brincadeira e vou adicionar uma invenção! Queria um óculos (ou lente se melhorarem depois a tecnologia) que nos permitisse enxergar alter-egos, aqueles seres que estão dentro da gente mas não se revelam fisicamente! Claro que todos nós possuímos mais de um, então serviria como uma espécie de catálogo, personificando um por vez, (isso se ninguém criasse uma interface pra visualizar mais de um ao mesmo tempo!)

    🙂

    p.s: Ah, só pra constar… A Rainha de Copas é muito mais divertida. XD

  5. 10 maio 2010 at 11:50 pm

    Aaaahh não aguentei, mais algumas

    Um espelho que mostrasse 360°
    Colírio que mudasse a cor dos olhos incluindo cores artificiais como violeta
    Uma pílula que tirasse o sono e descansasse o corpo
    Uma máquina que grava sentimentos ao invés de filmes ou imagens (poder guardar a sensação do beijo ao invés de uma foto seria tudo)

    Pronto. risos

  6. 11 maio 2010 at 3:06 am

    AMIGO EM PÓ: a criatura está acabrunhada, solitária, cambaleante. Puxa da gaveta da cozinha um envelope semelhante àquele do sal de frutas. Meio copo d’água seria o sufuciente e shhhhhhhhh, do borbulhinho surge um amigo, daqueles animados, achando tudo tão interessante!

    MONITOR DE GULOSISSES: esta maquininha exxxpetacular faria um bip cada vez que seu corpo registrasse um, talvez, deficit de calorias, sinalizando exatamente quantas, de formas que a pessoa sinta-se liberada imediatamente para o sorvete de carambola que está ali, no seu congelador, aguardando liberação. Delícia!

    CORRETOR AUTOMÁTICO DE EXCESSOS VERBAIS: seria instalado em todos os ambientes de trabalho, hospitais, cinemas, teatros, etc., de formas que, quando a criatura fala mais do que convém ao contexto, um suave sussuro, que apenas chega aos seus ouvidos particulares, sopra: “menos amigo(a), menos…”

    PROJETOR UNIVERSAL HOLOGRÁFICO DE IMAGENS PENSADAS: este honorável equipo seria revolucionário, sobretudo, no mundo animal. Conectando seus sensores à uma caixola qualquer, poderia se transcodificar imagens pensadas em projeções holográficas. Por exemplo, poder-se-ia visualizar hologramas de imagens formadas na mente de um colibri, ou de uma jaguatirica, uma jibóia! Macaco, pulga, ornitorrinco, borboleta. Caramba, eu adoraria isso!

    Saravá, Lígia! Você é sempre ótima!

  7. Clô♥
    Responder
    11 maio 2010 at 10:31 am

    Claudia de Siervi você é genial. Imagina coisas incríveis e invejáveis para o nosso mundo real, como o “amigo em pó”,por exemplo, eu usaria em mim mesma quando ficasse “tristinha”, bastaria um envelope eshshshshshss…e pronto, uma nova pessoa novinha em folha. O holograma na nossa caixola revelando o que pensam as pessoas, apesar de “perigoso”, acho teríamos um mundo mais sincero. A máquina que memorisasse as sensações dos sentimentos também… Adorei suas idéias.♥

  8. 17 maio 2010 at 2:06 am

    aheuaheau
    sensacional, ligia!
    como diria a adidas, impossible is nothing!
    gostei MUITO das nuvens coloridas e usinas eolicas moveis :))))

  9. Adriana
    Responder
    4 outubro 2010 at 10:42 am

    Ligia, adorei a coluna. Vou visitar mais vezes com certeza.
    Um livro sobre idéias impossíveis seria algo inspirador, estimulador e com certeza revelador.

    Claudia, minha amiga, eu tenho ainda algumas boas idéias à serem aperfeiçoadas 😉

  10. 17 março 2012 at 3:49 pm

    Adorei esse blog, principalmente esse post sobre criatividade, super importante !! Achei as ideias impossiveis muito legais mas…alguns pensamentos me chocam por serem deveras tecnológicos e convenhamos que não levantar mais o bumbum do sofá para desligar a tv prejudica muito mais do que ajuda, pensando no aspecto saúde.
    Uma coisa é certa esse blog é muito inspirador!! Sucesso! Bjs

    Débora
    La Provence Atelier

    • ligiafascioni
      Responder
      19 março 2012 at 8:06 am

      Que bom, La Provence! Preciso dizer que esse seu nome é também muito inspirador….rsrsrsrs
      Abraços e obrigada, Débora!

  11. 21 março 2012 at 8:19 pm

    Muito interessante esta matéria. É a primeira vez aqui e estou adorando!
    É bom perceber que ter idéias impossíveis é possível, ainda mais quando lemos as tão criativas aqui… parece que nos inspira ou nos faz parar de ter vergonha de dizer as chamadas coisas absurdas.
    Valeu pela dica e vou tentar praticar todo o dia!!!
    Bjks

  12. 22 outubro 2013 at 7:17 pm

    Já há um bom tempo que procuro algo tão interessante quanto este blog para aprender mais
    sobre criatividade, e doravante você acaba de ganhar mais um seguidor, melhor dizendo perseguidor.

    Kleber

    • ligiafascioni
      Responder
      23 outubro 2013 at 12:07 pm

      Que bom, Kleber! Seja bem-vindo!

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