Uma mini-Veneza dentro de Berlim!

Uma das coisas que mais amo nessa cidade é que há cinco anos estou explorando o lugar como turista e não me canso de me surpreender com a quantidade de atrações.

Tenho um mapa gigante na sala e todo final de semana faço um estudo sobre que área vou explorar. Uma das coisas que descobri foi que a empresa de transporte municipal, a BVG, além de ônibus, metrôs, trams e trens, também tem barcos. É que Berlim tem muita água, e em alguns bairros, o acesso mais curto é de barco mesmo. O mais legal é que se usa o mesmo ticket dos outros meios de transporte; como o meu é mensal e me dá direito a andar o quanto quiser em todos eles, não gastei um centavo para fazer o passeio que vou descrever.

Uma das minhas metas era andar por todas as linhas marítimas para ver esses lugares. Não era um grande desafio, pois são apenas seis linhas e a maioria tem apenas dois ou três pontos de embarque/desembarque. Já tinha experimentado duas, mas resolvi testar a mais longa (a F23, com 4 pontos e um percurso que dura 25 minutos e, desde 2014, é movida a energia solar). O negócio era meio longe (levei quase uma hora entre metrô, trem, ônibus e um trecho a pé para chegar lá), mas valeu a pena. Muuuuuito!

Depois de chegar no bairro afastado de Rahnsdorf, caminhei algumas quadras até Müggelwerderweg, em uma pequena baía chamada Die Bänke anexa ao Großer Müggelsee, um grande lago ligado ao rio Spree, que corta toda a cidade.

Olha o terminal do barco, minha gente. Isso é que é transporte público de qualidade!

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#paracegover A imagem mostra uma baía com vários barcos e casas coloridas. O dia está cinematográfico.
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#paracegover A imagem mostra o interior do barco com janelas enormes que permitem apreciar a vista, assentos confortáveis e espaçosos. Uma mulher lê o jornal no canto esquerdo.
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#paracegover A imagem mostra a vista panorâmica da baía, com várias árvores, casas e barcos. No canto esquerdo, o terminal do transporte coletivo.

Bom, o passeio foi extraordinário; muitas aves, muita natureza, muitas embarcações de passeio, muita maravilhosidade.

Chegamos ao ponto final, um vilarejo onde ficava uma antiga colônia de pescadores, chamado, por isso, de Müggelseefischerei. O piloto do barco avisou que passaria lá novamente em uma hora (é o mesmo barco que vai e volta), então passei a explorar o minúsculo lugar, com uma igreja e algumas casas. Mas eis que cheguei até uma central de aluguel de barcos onde voltarei em outra ocasião com meu personal piloto Conrado, que me levará para passear pelos canais… 🙂

É claro que já tinha estudado um pouco antes, mas o moço da central de alugueis me deu um mapa mais detalhado (adoro!).

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#paracegover A imagem mostra uma série de embarcações de madeira para aluguel. São tipo uns mini-apartamentos que viajam pelo rio. O povo usa muito para fazer festas.
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#paracegover A imagem mostra um dos poucos restaurantes do lugar. Não é um ponto turístico; a maioria dos frequentadores tem casa de veraneio. Do lado esquerdo, o restaurante, todo pintado de branco com cerca de madeira da mesma cor, predominantemente frequentado por idosos. Do lado direito, no canal, vê-se um homem de costas pilotando uma pequena lancha.
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#paracegover A imagem mostra uma paisagem muito comum durante todo o passeio. Pessoas nas suas casas tomando sol no gramado à beira do rio. As casas são bem simples, mas com cuidado em cada detalhe. Na da foto, de madeira, pintada de marrom escuro e esquadrias brancas, pode-se ver a porta de vidro coberta com uma cortina de renda e babados do mesmo tecido na janela. Em cima da mesa em volta da qual as pessoas estão sentadas, há um vaso de flores.

Estudando o mapa, descobri que ali pelas imediações havia um lugar chamado Neue Venedig (Nova Veneza) e, pelo desenho, era uma mini Veneza mesmo, cheia de canais e casas entre eles. Resolvi perder o próximo barco, pois a caminhada era de uns 40 minutos, e não me arrependi.

O lugar existe desde 1890, mas foi em 1925-1926 que os 5 km de canais foram construídos, entre 374 lotes de terra. O interessante dessa região é que não se pode asfaltar as ruas porque os terrenos são pantanosos. Também não se pode morar lá (todas as caprichadas residências são de veraneio ou fim de semana), pois, como a cidade é cheia de água, utiliza um sistema eclusas para controlar o nível do rio e impedir enchentes. São previstas situações em que, para salvar a cidade, algumas áreas são alagadas, e Neue Venedig é uma delas. Assim, todas as pessoas que têm propriedade lá, são cientes dessa questão. Apesar disso, esse tipo de evento é bem raro; o último foi em 1947, quando as águas subiram 74 cm por conta do não funcionamento de uma eclusa destruída durante um bombardeio na Segunda Guerra.

Mas olhe as fotos e veja se não é um paraíso!

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#paracegover A imagem mostra um canal visto de cima, onde um cisne está em plena sessão de exibicionismo. Nessa região, só é possível ver a água quando se está em cima de uma das pontes, pois as ruas têm casas particulares que dão fundos para o canal. Achei muito legal o “recorte” no canal para guardar o barco. Todas as casas têm.
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#paracegover A imagem mostra uma das pontes onde se pode ver o canal. Ela é de ferro branca e ornada, em cima, por um par de passarinhos. Essa se chama Finkenweg Brücke; foi construída em 1951 e depois reformada em 1992. Ao fundo, casas e muito verde em volta.
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#paracegover A imagem mostra um homem de camiseta vermelha em uma pequena lancha branca passando por um dos canais.
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#paracegover Aqui são duas imagens: a da esquerda mostra o detalhe dos dois pássaros na ponte de ferro pintada de branco e a da direita, detalhes de um quintal florido à beira de um dos canais.
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#paracegover A imagem mostra um homem com um caiaque e remos com pás amarelas navegando por um dos canais.

Pois é. Depois de alimentar muito bem os olhos, voltei caminhando para o vilarejo e peguei o barco de volta, refazendo todo o caminho.

#paracegover A imagem mostra o ponto onde se espera pelo barco, com bancos de ferro em frente a um píer. Você já viu um ponto de transporte público mais charmoso?
#paracegover A imagem mostra o ponto onde se espera pelo barco, com bancos de ferro em frente a um píer. Você já viu um ponto de transporte público mais charmoso?
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#paracegover A imagem mostra uma moça entrando no barco carregando uma bicicleta, ato que recomendo fortemente se a pessoa não puder/quiser caminhar tantas horas.

Se você quiser fazer o passeio, atente para o fato de que o barco opera somente entre os meses de maio e outubro. Nas outras épocas não se pode garantir a regularidade, por isso o serviço não é oferecido, uma vez que é bem provável que todos os caminhos estejam congelados.

5 Responses

  1. 12 setembro 2016 at 6:42 am

    Que lindo. Adorei o passeio. (achei que ficou faltando a foto do terminal do barco. Estou certo?)

    • ligiafascioni
      Responder
      12 setembro 2016 at 6:47 am

      Oi! O terminal aparece na terceira foto, bem no canto esquerdo. É um píer pequeno 😉

  2. Luciane
    Responder
    12 setembro 2016 at 9:42 am

    Deslumbrante! Tb achei q foi uma aula de planejamento urbano-ambiental, um exemplo didático de como é possível “desenvolver preservando”, um assunto tabu aqui no Brasil, por pura falta de conhecimento, na minha opinião. Obrigaf a Lígia, esse texto do me comprovou que nunca estive errada em meus conceitos que semprecpareceram utópicos!

  3. 12 setembro 2016 at 2:49 pm

    Demais, Ligia!
    É por isso que morando em Berlim você nem precisa viajar pra conhecer outra cidade ?

  4. Claudia
    Responder
    22 fevereiro 2017 at 5:34 am

    Esse ano eu vou com certeza!

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