A canção de Achilles

Começo do mês passado, participei de um Hackathon em Mannheim e conheci muitas mulheres maravilhosas. Fizemos vários grupos e uma delas, quando pegou o trem na volta, postou a capa do livro “The song of Achilles”, de Madeline Miller. A menina, indiana, disse que estava gostando muito, apesar do vocabulário um pouco complicado.

Então eu fiz o quê? A única coisa possível, que foi comprar o livro na Amazon.

E quer saber? É a história de amor mais bonita e tocante que eu já li na vida. Por alguns dias vivi na Grécia antiga, junto com deuses e semi deuses. A autora é professora de Literatura Clássica na Brown University e dá aula de latim, grego e Shakespeare; ela levou 10 anos para completar essa obra prima.

Mas vamos à história, que é narrada por Patroclus, filho de um rei não muito rico ou influente, na Grécia antiga. 

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100 coisas que todo designer precisa saber sobre pessoas

Confesso que quando a Amazon me sugeriu esse título (o robô deles é muito bom; quase sempre acerta), nem pensei duas vezes: “100 things every designer needs to know about people”, de Susan M. Weinschenk é um convite irrecusável, ainda mais no meu caso.

Na minha “encadernação passada”(como diz a minha queridíssima Maria Flávia Bastos) onde eu era engenheira eletricista, sempre fiquei intrigada como na engenharia a gente sempre começa com o problema já definido; não raro, a solução também já está lá. Tipo: precisamos construir uma ponte. Ou: aqui vamos instalar um robô e essa máquina será automatizada. 

Já no design, em qualquer que seja a sua modalidade, a gente nunca assume que já sabe o que é melhor para os outros: a gente pergunta, observa, investiga, procura entender as dores e os sentimentos de quem está do outro lado para só então tentar definir qual é exatamente o problema.

Pensar numa solução é um passo adiante.

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Bellini e o labirinto

Não sei se você sabe, mas o Tony Bellotto, dos Titãs, também escreve. E bem. Muito bem. Além de autor, o moço é roteirista de sucesso (ele escreveu a série Dom, que, para variar, não assisti, mas estou com o livro na minha pilha).

Já tinha lido a primeira aventura do Remo Bellini, seu detetive, logo que foi lançado em 1995 (“Bellini e a Esfinge”, que foi adaptado para o cinema e ganhou vários prêmios). Nessa época eu lia muito, mas não tinha ainda o hábito de escrever resenhas. Então me lembro de ter gostado muito, e só. Por isso gosto tanto de escrever resenhas hoje em dia; é como se eu estivesse lendo o livro novamente, lembrando de toda a história. Meio como fotos e relatos de viagens.

Tinha realmente ficado impressionada com o talento do moço com as palavras (sou muito fã dos Titãs e as letras do Tony têm muito a ver com isso) e, ano passado, quando voltei ao Brasil, aproveitei para me reabastecer de autores brasileiros. Foi então que, visitando uma livraria, dei de cara com “Bellini e o Labirinto”, a mais recente aventura do detetive Bellini, publicado em 2014 (nossa, lá se vão quase 10 anos). Depois disso, Tony escreveu muita coisa, mas não revisitou mais esse personagem.

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Range

Achei difícil traduzir o título “Range: How Generalists Triumph in a Specialized World”, de David Epstein. Aí fui olhar o título em português e vi que nem os tradutores profissionais conseguiram; deixaram só o subtítulo “Como generalistas triunfam num mundo especializado”. 

É que range é uma palavra que a gente também usa em português, apesar de não fazer parte do nosso idioma — e talvez seja justamente por causa da dificuldade de comunicar a ideia de maneira exata. Range quer dizer gama, amplitude, faixa de variedade, largura, extensão. Mas se colocasse quaisquer dessas palavras no título, ia ficar meio esquisito. Não é a mesma ideia. 

Bom, dito isso, a primeira vez que vi esse livro foi fazendo pesquisas de ideias de capa para o meu mais recente (Atitude Pró Inovação); a editora pediu referências (que foram ignoradas…rs) e essa foi uma das que eu selecionei na loja da Amazon.

Depois fui olhar melhor e vi que o assunto era altamente do meu interesse; na verdade, não podia deixar de ler esse livro. Apesar de dizer que sou uma pessoa especializada (fiz doutorado numa área específica; dá para dizer que isso é o máximo de especialização numa carreira), também não dá para negar que sou generalista, dada a variedade de assuntos pelos quais me interesso e estudo.

Então bora ver o que esse moço tem a falar sobre generalistas e especialistas.

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Estranho numa terra estranha

Para ser bem sincera, não me lembro exatamente como cheguei nesse livro, mas foi alguma recomendação forte, e já faz alguns meses. “Stranger in a Strange Land” (tradução livre: “Estranho numa terra estranha”), de Robert A. Heinlein me foi apresentado como um clássico da ficção científica do qual eu nunca tinha ouvido falar.

Olha, como é bom ser ignorante e descobrir esses tesouros, mesmo que com anos de atraso! 

O livro me despertou emoções bem dúbias. Primeiro porque não sei se dá para classificá-lo como ficção científica, pois o mundo futuro é mais um pretexto, um cenário, do que a essência da obra. Depois porque foi escrito em 1961 e quase consigo ver as personagens femininas com seus figurinos compostos por sutiãs de cone e minissaias; competentíssimas como enfermeiras, cozinheiras ou secretárias; mas, de resto, ignorantes de todas as outras coisas do mundo… sem falar que a história trata mais de filosofia, política e religião do que ciência. 

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Por que falhamos

Um livro bem diagramado, com uma bela capa e sobre um assunto que amo: como resistir?

Encontrei “Why we fail: Learning from Experience Design Failures” (tradução livre: “Porque falhamos: aprendendo com falhas de design de experiência”), de Victor Lombardi, com prefácio de ninguém menos que Don Norman.

O autor (até achei que fosse brasileiro pelo nome, mas não consegui descobrir) trabalha há mais de 30 anos no desenvolvimento de produtos digitais. Para escrever o livro ele fez uma extensa pesquisa e selecionou 10; quatro websites, dois serviços, um pacote de software, um sistema operacional e dois produtos baseados em hardware (acredito que seja software embarcado).

Gostei muito dos critérios: todos eram produtos inovadores (não tentavam copiar ou melhorar um concorrente) e não falharam por incompetência (o que é muito comum).

Logo no começo, Lombardi já deixa claro uma coisa importante: ele está considerando, nesse livro, somente as falhas de experiência dos clientes; ou seja, o produto falhou em proporcionar uma boa experiência.

Má experiência = design ruim?

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O peso do pássaro morto

Nem sei como começar a descrever “O peso do pássaro morto”, da Aline Bei. Eu sabia que ia ser puxado; meu amigo Tio Flávio, que procurou esse livro comigo nas livrarias de Belo Horizonte quando estive no Brasil no ano passado, já tinha me preparado. Ele achou (depois que fui embora), leu e compartilhou. Aí, quando minha irmã veio do Brasil me visitar, pedi para ela trazer (na verdade, a Andréa foi quem provocou isso tudo; foi ela quem me apresentou a Aline Bei com o belíssimo “A pequena coreografia do adeus”, que já resenhei aqui).

Olha, muito difícil. Se eu tivesse que resumir o livro em uma frase diria que é puro sofrimento compactado em forma de poesia. Eu nunca tinha lido algo tão forte, tão pungente, tão doloroso e, ao mesmo tempo, tão belo.

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Werder: uma primavera de cidade

Ontem fui com minha amiga Carla da Silva bater perna numa cidadezinha linda a apenas 40 minutos de trem de Berlim: Werder (Havel).

O rio Havel é cheio de penínsulas e ilhas fluviais com várias cidades instaladas ao longo dele. Werder fica numa península e parte do centro histórico está localizado numa ilha próxima.

Da estação de trem (Regional RE1) até o centro, são cerca de 40 minutos de caminhada ao longo da movimentadíssima Eisenstraße. A gente passeou bastante, tirou fotos, brincamos de balanço (não resisto quando vejo um), comemos num restaurante à beira d’água, tomamos sorvete, vimos muitas embarcações de todos os tipos, e no final do dia, com 16 km de pernada, pegamos o trem de volta para casa. Cansadas, mas felizes.

Werder é famosa por sua festa das cerejeiras em flor, entre abril e maio. Mas essa semana as frutas estão começando a amadurecer. Começo de abril vai ter a festa das cerejas. Olha aí uma dica de programa!

Por ora, fique aqui com imagens dessa belezinha!

Gente fria

Essa foi a maior supresa literária do ano; sem brincadeira!

Quando peguei “Cold People” (Tradução livre: “Gente fria”), de Tom Rob Smith, o que me chamou atenção foi a capa minimalista belíssima (já expliquei; sou dessas… rs).

Estava na seção de livros usados de uma livraria especializada em ficção científica que costumo frequentar aqui em Berlim. Sempre tem coisas boas por lá!

Eu nunca tinha ouvido falar nesse autor, mas pelo que pesquisei, é um escritor e roteirista famoso e já tem grandes sucessos no mercado, sendo o mais conhecido, a trilogia que começa com “Criança 44”. Até onde sei, “Cold People” é a primeira incursão dele na ficção científica. O que dizer? Já ansiosa esperando os próximos!

Mas vamos à história.

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Sinal vermelho para o UX Design

Uma inovação no sistema de semáforos em Berlim está causando polêmica (e, a meu ver, com razão).

Não consegui descobrir a origem da ideia, mas funciona da seguinte maneira: você vai atravessar uma rua quando o bonequinho do semáforo está verde. Eis que, subitamente, o bonequinho fica vermelho.

Para que as pessoas não sejam pegas de surpresa, o setor de transportes pensou: ok, vamos colocar um contador numérico para a pessoa saber quantos segundos ela tem para atravessar a rua, como em muitas cidades ao redor do mundo. Seria o mais óbvio, não é?

Pois a questão é que estamos na Alemanha, e aqui o óbvio não tem muito espaço. Para que colocar números, conhecidos universalmente, se podemos inserir um ícone de uma mini faixa de segurança logo que o sinal ficar vermelho onde suas cinco faixas vão se apagando consecutivamente?

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