A revista abcDesign<\/span><\/a> desse m\u00eas* traz um interessante ensaio de Massimo<\/span> Picchi<\/span>, coordenador geral da Escola Panamericana<\/span> de Arte e Design. Ele fala da experi\u00eancia da escola, que tem lutado com dificuldade contra a falta de inspira\u00e7\u00e3o generalizada das profiss\u00f5es consideradas criativas (design, publicidade, fotografia).<\/p>\n

Sem fazer acusa\u00e7\u00f5es formais ou buscar culpados, Massimo<\/span> observa que a massifica\u00e7\u00e3o das id\u00e9ias tornou-se mais evidente com a superoferta<\/span> de ferramentas tecnol\u00f3gicas para esses profissionais. Agora ficou f\u00e1cil pular etapas, copiar trabalhos, usar refer\u00eancias. Ele detectou a correla\u00e7\u00e3o, mas foi inteligente o suficiente para n\u00e3o atacar a tecnologia como a causa (seria simplista demais, apesar desse potencial culpado estar t\u00e3o \u00e0 m\u00e3o).<\/span><\/p>\n

Eu me arrisco aqui a dar um pitaco<\/span>. Para mim, o problema maior n\u00e3o \u00e9 a tecnologia, mas a falta de tempo. Reconhe\u00e7o, \u00e9 claro, que h\u00e1 outros e complexos atores que contribuem para o fen\u00f4meno e tamb\u00e9m n\u00e3o quero cair na tenta\u00e7\u00e3o de achar um vil\u00e3o. Mas acompanhe s\u00f3 o meu racioc\u00ednio.<\/span><\/p>\n

Numa das minhas aulas de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o em marketing, tive a oportunidade de aprender muito sobre criatividade com a Dulce Magalh\u00e3es, palestrante admirada que tenho como refer\u00eancia sobre o que quero ser quando crescer. Ela deu uma aula que vou tentar reproduzir da melhor maneira que consigo, mesmo sabendo que haver\u00e1 perdas (o que vou compartilhar \u00e9 apenas a minha limitada percep\u00e7\u00e3o do que ela disse).<\/span><\/p>\n

O processo criativo funciona, grosso modo, mais ou menos assim: a gente passa o dia inteiro recolhendo informa\u00e7\u00f5es de todos os tipos. Tudo o que os nossos sentidos conseguem captar e consideramos dignos da nossa aten\u00e7\u00e3o s\u00e3o armazenados. Observe que, como \u00e9 humanamente imposs\u00edvel captar e guardar tudo, cada um de n\u00f3s desenvolve os pr\u00f3prios filtros sobre o que \u00e9 ou n\u00e3o interessante.<\/span><\/p>\n

Essas verdadeiras peneiras pessoais (n\u00f3s, em \u00faltima inst\u00e2ncia) decidem o que vamos ver ou ouvir. H\u00e1 pessoas bastante alheias que n\u00e3o prestam aten\u00e7\u00e3o em muita coisa. H\u00e1 as que escolhem olhar o mundo como quem visita um museu ou assiste a um filme. H\u00e1 as que v\u00eaem o mundo pela tela da TV, as que ignoram o c\u00e9u, os cen\u00e1rios, as pessoas, os fatos. H\u00e1 as que querem saber tudo, sorvem as informa\u00e7\u00f5es como uma bebida deliciosa. H\u00e1 aquelas que s\u00f3 aprendem o que j\u00e1 sabem, nem querem conhecer outras naturezas ou pontos de vista. De qualquer maneira, esses filtros \u00e9 que nos fazem \u00fanicos, uma vez que n\u00e3o h\u00e1 dois iguais.<\/span><\/p>\n

Quando a gente vai para a cama dormir (ou cochilar), toma um banho ou apenas senta para relaxar, o nosso c\u00e9rebro reconhece que houve uma pausa de aquisi\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00f5es e come\u00e7a a botar ordem em tudo o que acumulou durante o dia. As sinapses come\u00e7am a trabalhar para guardar todas as coisas em seus devidos lugares, sen\u00e3o a gente n\u00e3o consegue resgatar as informa\u00e7\u00f5es depois pela mem\u00f3ria.<\/span><\/p>\n

Pois justamente durante o processo de reorganiza\u00e7\u00e3o \u00e9 que acontece, \u00e0s vezes, do c\u00e9rebro guardar coisas em lugares diferentes do esperado e fazer conex\u00f5es bizarras entre assuntos. Nesse ponto, acontece uma recombina\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00f5es e \u00e9 quando gente tem id\u00e9ias originais, coisas banais sob \u00e2ngulos inusitados.<\/span><\/p>\n

Isso \u00e9 t\u00e3o forte em mim, que n\u00e3o consigo dormir sem papel e caneta ao lado da cama. O momento em que estou quase dormindo \u00e9 quando tenho mais id\u00e9ias (inclusive sobre colunas). Recombino informa\u00e7\u00f5es acumuladas h\u00e1 anos, dias ou horas em um texto; junto refer\u00eancias visuais de muitas fontes distintas para pintar um quadro; re\u00fano o cen\u00e1rio de um livro, um recorte de jornal e o comportamento de um cachorro na rua para desenvolver um m\u00e9todo.<\/span><\/p>\n

Ent\u00e3o, a criatividade precisa de duas coisas essenciais para acontecer: informa\u00e7\u00f5es e relaxamento.<\/span><\/p>\n

Precisamos de muitas informa\u00e7\u00f5es para recombinar, sen\u00e3o n\u00e3o h\u00e1 combust\u00edvel para a enriquecer mistura. Por isso, a gente precisa ler, ver, ouvir, viver muito, alargar o filtro ao m\u00e1ximo poss\u00edvel. Mas tamb\u00e9m precisamos de tempo para cozinhar o caldo.<\/span><\/p>\n

Vejo muito trabalho pobre em termos de criatividade porque o sujeito n\u00e3o re\u00fane informa\u00e7\u00f5es suficientes. Se a pessoa n\u00e3o l\u00ea, mal ouve, e, principalmente, n\u00e3o \u00e9 curiosa, n\u00e3o h\u00e1 como ser criativa. Se o indiv\u00edduo passa o dia como quem vive uma maratona e n\u00e3o relaxa nunca, tamb\u00e9m n\u00e3o tem jeito. Se n\u00e3o desgruda do telefone nunca, o c\u00e9rebro n\u00e3o consegue detectar pausas, ou seja, imposs\u00edvel processar as informa\u00e7\u00f5es acumuladas durante o dia inteiro.\u00a0<\/span><\/p>\n

Por falta de tempo, as pessoas acabam lendo pouco, vendo pouco, vivendo mal, sem relaxar nunca. O resultado \u00e9 o que a gente est\u00e1 vendo a\u00ed. Ou n\u00e3o. Tenho certeza que tem um povo que nem reparou…<\/span><\/p>\n

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*NOTA: esse artigo foi publicado pela primeira vez em setembro de 2008. A parte do telefone foi inserida depois, j\u00e1 que naquela \u00e9poca esse problema n\u00e3o era t\u00e3o intenso como hoje.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Voc\u00ea vive com a cara enfiada no telefone e anda um pouco sem inspira\u00e7\u00e3o? Olha, n\u00e3o quero dizer nada, mas talvez uma coisa tenha tudo a ver com a outra….<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":23825,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[45,46,23,25,26,57],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2008\/09\/IMG_5881.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1006"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1006"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1006\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":24993,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1006\/revisions\/24993"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/23825"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1006"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1006"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1006"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}