![\"\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2011\/02\/Corey-Arnold-300x221.jpg\" "\\"Corey")
<\/a>Ser\u00e1 que as coisas sempre s\u00e3o o que parecem? Ou comumente s\u00e3o cometidas injusti\u00e7as em nome das apar\u00eancias? Esse \u00e9 um assunto pol\u00eamico, mas sou da opini\u00e3o que a apar\u00eancia deve traduzir a ess\u00eancia. Quando isso n\u00e3o acontece, \u00e9 incompet\u00eancia ou m\u00e1-f\u00e9 de quem parece ser o que n\u00e3o \u00e9.<\/p>\n
Vejamos: se estou calmamente sentada em um caf\u00e9 e adentra no recinto um homem tr\u00f4pego com as vestes em trapos cheirando a \u00e1lcool, ningu\u00e9m pode me acusar de preconceituosa se eu deduzir que o sujeito \u00e9 um b\u00eabado andarilho. O que eu vou fazer com essa leitura \u00e9 outra hist\u00f3ria; o fato da pessoa ser mendiga e b\u00eabada n\u00e3o a faz menos humana e nem me confere o direito a desrespeit\u00e1-la. Mas o que se quer enfatizar aqui \u00e9 que a leitura est\u00e1 certa.<\/p>\n
Vejo muita gente reclamar por ser maltratada em lojas de grife porque entrou no estabelecimento mal vestida. Certamente, a atendente leu ind\u00edcios de limita\u00e7\u00f5es financeiras na bermuda desfiada, a regata com propaganda eleitoral de duas elei\u00e7\u00f5es atr\u00e1s e imita\u00e7\u00f5es de Havaianas. \u00c9 claro que a mo\u00e7a \u00e9 uma ignorante, pois n\u00e3o se trata mal um cliente porque ele \u00e9 pobre \u2013 dizem at\u00e9 que s\u00e3o os melhores pagadores. O que eu quero ressaltar \u00e9 que, se a leitura estava errada e o sujeito \u00e9, na verdade, dono de bilh\u00f5es, a culpa \u00e9 dele mesmo que provocou a confus\u00e3o toda. Quer ser visto e tratado com as honras de milion\u00e1rio? Vista-se de milion\u00e1rio (ou, no caso, fantasie-se).<\/p>\n
Parece-me que o erro geralmente est\u00e1 na atitude (todas as pessoas, independente da apar\u00eancia, s\u00e3o merecedoras de respeito e dignidade), dificilmente na leitura. Os novos-ricos esnobes, por exemplo, s\u00e3o facilmente leg\u00edveis e identific\u00e1veis em qualquer l\u00edngua e situa\u00e7\u00e3o. Nem por isso merecem ser ridicularizados (resista bravamente \u00e0 tenta\u00e7\u00e3o).<\/p>\n
E as empresas? Bem, prestando um pouquinho de aten\u00e7\u00e3o, tamb\u00e9m d\u00e1 para l\u00ea-las com certa facilidade. Veja alguns exemplos.<\/p>\n
H\u00e1 sal\u00f5es de beleza cuja decora\u00e7\u00e3o e a comunica\u00e7\u00e3o visual s\u00e3o um ode ao mau gosto e \u00e0 desarmonia. Ningu\u00e9m pode dizer que foi enganado se sair de l\u00e1 com um cabelo de fazer inveja ao Palha\u00e7o Bozo. Como algu\u00e9m pode vender beleza sendo desprovido de qualquer senso est\u00e9tico?<\/p>\n
H\u00e1 restaurantes que presenteiam clientes do sexo feminino com originais e criativas rosas vermelhas no Dia Internacional da Mulher e no Dia das M\u00e3es, mas n\u00e3o s\u00e3o capazes de oferecer um simples ganchinho para pendurar as suas preciosas bolsas no banheiro ou \u00e0 mesa. \u00c9 assim que eles valorizam e se preocupam em atender \u00e0s necessidades das mulheres? Pura balela.<\/p>\n
E as lojas de m\u00f3veis que vendem tudo para facilitar a sua vida? Parece que voc\u00ea est\u00e1 entrando em um dep\u00f3sito atravancado de m\u00f3veis, bugigangas e eletrodom\u00e9sticos. Alguns ainda completam a balb\u00fardia instalada com bal\u00f5es e confetes espalhados pelo ch\u00e3o. A mensagem mais clara que se pode ler \u00e9: seja nosso cliente, compre tudo da gente e a sua casa ficar\u00e1 assim!<\/p>\n
Outro tipo comum \u00e9 a loja que vende \u201cdesign, bom gosto e sofistica\u00e7\u00e3o<\/em>\u201d. Voc\u00ea entra e os produtos s\u00e3o todos c\u00f3pias mal feitas de m\u00f3veis consagrados, p\u00e9ssimo acabamento, propor\u00e7\u00f5es erradas e pre\u00e7os incompreens\u00edveis. Pseudo-design na sua melhor forma. Mais ou menos como os restaurantes que se gabam de sua comida maravilhosa e excelente cozinha, mas t\u00eam um banheiro que d\u00e1 medo de imaginar o resto. Estou lendo errado?<\/p>\n Uma vez cheguei ao c\u00famulo me deparar com uma vitrine cuja roupa exposta, al\u00e9m de amassada, tinha um bot\u00e3o faltando. Trof\u00e9u \u201csem no\u00e7\u00e3o<\/em>\u201d para o talento persuasivo desse lojista!<\/p>\n Tenho uma cole\u00e7\u00e3o de maus exemplos que conta com um folheto pavoroso, com cores todas \u201clavadas\u201d e uma diagrama\u00e7\u00e3o totalmente equivocada que \u00e9, pasmem, de uma gr\u00e1fica que oferece impress\u00e3o com “padr\u00e3o de primeiro mundo<\/em>” e servi\u00e7os de \u201cdesigner<\/em>\u201d!<\/p>\n Numa viagem \u00e0 serra ga\u00facha tive a oportunidade de me deparar com uma loja chamada \u201cExpensive<\/em>\u201d (caro, em ingl\u00eas) com um enorme cartaz de liq\u00fcida\u00e7\u00e3o na vitrine oferecendo vestidos a R$ 10,00! Em S\u00e3o Jos\u00e9 h\u00e1 uma escola que oferece cursos \u201cdo ber\u00e7\u00e1rio a 8a<\/sup> s\u00e9rie<\/em>\u201d (sic). Parece que o uso da crase\u00a0n\u00e3o faz parte do curr\u00edculo.<\/p>\n E o que se pode esperar encontrar dentro de uma boutique chamada\u00a0V\u00e1cuo<\/em>? Teria esse nome sido escolhido por sua adequa\u00e7\u00e3o ao conceito do neg\u00f3cio ou por causa de sua sonoridade peculiar? Mist\u00e9rios insond\u00e1veis do marketing que nem Philip Kotler saberia responder.<\/p>\n Dia desses estava pilotando numa rodovia quando fiquei atr\u00e1s de um \u00f4nibus invocado e um caminh\u00e3o furioso pertencentes a um conjunto musical chamado \u201cquinta dimens\u00e3o<\/em>\u201d. Fiquei pensando que todo mundo deve ter aprendido em f\u00edsica que a primeira dimens\u00e3o \u00e9 a largura, a segunda \u00e9 a altura e a terceira, a profundidade; a quarta pode ser o tempo, mas e a quinta? Bem, n\u00e3o tenho id\u00e9ia da resposta, mas posso dizer que a sensa\u00e7\u00e3o de ultrapassar a \u201cquinta dimens\u00e3o<\/em>\u201d foi \u00f3tima!<\/p>\n Os exemplos s\u00e3o infinitos: atendentes de farm\u00e1cia com cara de doentes; balconistas de cosm\u00e9ticos que parecem ter sa\u00eddo diretamente da cama sem nem ao menos pentear os cabelos; webdesigners que n\u00e3o t\u00eam site; ag\u00eancias de propaganda completamente desconhecidas; palestrantes profissionais que escrevem (e l\u00eaem!) textos intermin\u00e1veis em transpar\u00eancias; lojas de flores com todas as \u00e1reas livres cimentadas; intelectuais cult\u00edssimos que falam \u201ca n\u00edvel de<\/em>\u201d; profissionais de marketing com cart\u00f5es de visita toscos; designers que nem cart\u00e3o de visita t\u00eam; atendentes de livrarias que n\u00e3o gostam de ler; e por a\u00ed vai.<\/p>\n A imagem \u00e9 como um quebra-cabe\u00e7as que se constr\u00f3i na mente das pessoas. As pe\u00e7as s\u00e3o distribu\u00eddas pela pr\u00f3pria empresa ou profissional, mesmo que eles n\u00e3o percebam. Por isso, n\u00e3o adianta gastar fortunas em um an\u00fancio de p\u00e1gina inteira na Veja se a distribui\u00e7\u00e3o de pe\u00e7as que contradizem a genial campanha publicit\u00e1ria \u00e9 farta e prol\u00edfica. N\u00e3o adianta usar o melhor terno na palestra se o seu portugu\u00eas d\u00f3i nos ouvidos.<\/p>\n Toda crian\u00e7a sabe que pe\u00e7as faltando ou sobrando num quebra cabe\u00e7as devem ser de outro jogo. Est\u00e3o perdidas ou misturadas, n\u00e3o servem para montar uma imagem coerente.<\/p>\n Mas at\u00e9 o Bob Esponja sabe que o destino delas \u00e9 o lixo.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Ser\u00e1 que as coisas sempre s\u00e3o o que parecem? Ou comumente s\u00e3o cometidas injusti\u00e7as em nome das apar\u00eancias? 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