![\"\"](\"http:\/\/ligiafascioni.files.wordpress.com\/2008\/10\/valsa.jpg\" "\\"valsa\\"")
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Passei a maior parte da semana passada participando do Congresso Brasileiro de Pesquisa & Desenvolvimento em Design, em S\u00e3o Paulo. O bom desses eventos \u00e9 que a gente aprende um mont\u00e3o e conhece o que as pessoas est\u00e3o pesquisando sobre design, moda, arte, web e \u00e1reas relacionadas. Algumas pesquisas s\u00e3o mais interessantes que outras, assim como as pessoas, mas sempre se ganha muito dando uma olhada com aten\u00e7\u00e3o.<\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n A organiza\u00e7\u00e3o, como de praxe, providenciou palestras internacionais para a troca de experi\u00eancias transoce\u00e2nicas. Assim, pudemos assistir a uma italiana ler todas as suas transpar\u00eancias com uma voz monoc\u00f3rdia, uma inglesa encher de texto ileg\u00edvel sua apresenta\u00e7\u00e3o sobre tipografia como recurso de comunica\u00e7\u00e3o e um indiano mostrar artesanato em bambu que muitos projetos tupiniquins deixariam no chinelo. <\/span>Uma pena mesmo essas pessoas virem de t\u00e3o longe para fazer apresenta\u00e7\u00f5es t\u00e3o sofr\u00edveis. Do ponto de vista visual chegavam a ser constrangedoras, considerando-se o tema do evento.<\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n \n \n \n \n \n \n Mas teve uma palestra que me encantou (ali\u00e1s, n\u00e3o s\u00f3 a mim; o p\u00fablico todo vibrou). Foi a do brasileiro Agnaldo Farias<\/strong>, arquiteto, professor da USP, autor de livros, curador de exposi\u00e7\u00f5es e cr\u00edtico de arte. Gente, que prazer ouvir uma pessoa t\u00e3o culta e cheia de carisma. Ele ia de Clarice Lispector a Chico Buarque, de Roland Barthes a Brancusi, passeava a sua erudi\u00e7\u00e3o de maneira t\u00e3o natural e bem-humorada que nos enchia de admira\u00e7\u00e3o. Aprendi pelo menos meia d\u00fazia de palavras novas que nunca tinha ouvido antes.<\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n \n \n \n \n \n \n Agnaldo passou pelo menos 30 minutos descrevendo o ritual de abrir e saborear um Sonho de Valsa. Ele comparou o bombom \u00e0 arte. A arte se diferencia das demais atividades humanas principalmente porque n\u00e3o tem obriga\u00e7\u00e3o de possuir uma fun\u00e7\u00e3o pr\u00e1tica. Arte s\u00f3 existe para o nosso deleite, para ser apreciada. Eventualmente pode servir para mais alguma coisa, mas n\u00e3o necessariamente. Exatamente como um Sonho de Valsa. <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n \n \n \n \n \n \n Atente para o fato de que o Sonho de Valsa n\u00e3o \u00e9 comida, nem alimento. Quem criou o m\u00edtico bombom n\u00e3o estava nem um pouco preocupado com a nossa nutri\u00e7\u00e3o, nem com as vitaminas e o n\u00famero de calorias. O tom magenta do celofane (cuja principal caracter\u00edstica, al\u00e9m da transpar\u00eancia sedutora, \u00e9 fazer barulhinho) faz a gente ver o mundo em cor-de-rosa quando coloca o papel na frente dos olhos e olha atrav\u00e9s dele. Voc\u00ea acha que o envolt\u00f3rio de alum\u00ednio serve para proteger a iguaria? Que nada, ele foi colocado l\u00e1 com a \u00fanica inten\u00e7\u00e3o de refletir a cor, encantar, atrair, criar suspense na prateleira. Tem coisa mais linda que uma cesta cheia de Sonhos de Valsa? O casal dan\u00e7ando na estampa da embalagem remete \u00e0 sintonia profunda, ao amor eterno, \u00e0 eleg\u00e2ncia suprema. O luxo dos luxos ao alcance de qualquer mortal.<\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n \n \n \n \n \n Comer o bombom propriamente dito, \u00e9 uma experi\u00eancia \u00e0 parte. A casquinha, \u00e0 guisa de crosta terrestre, precisa ser mordida cuidadosamente para n\u00e3o afetar o n\u00facleo macio, branco e com pedacinhos de castanha. \u00c9 poss\u00edvel at\u00e9 analisar o car\u00e1ter de uma pessoa observando a maneira como ela saboreia o m\u00e1gico bombom. Agnaldo acha (e eu concordo), que um indiv\u00edduo que morde um Sonho de Valsa de qualquer jeito, atacando o magma junto com a casca, n\u00e3o merece nem ser comentado, \u00e9 um perfeito sem no\u00e7\u00e3o da seriedade das coisas importantes do mundo. Um bruto insens\u00edvel.<\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n \n \n \n \n \n \n Depois disso tudo, o sujeito ainda nos deu uma aula de arte contempor\u00e2nea para ningu\u00e9m botar defeito. Um verdadeiro banho de cultura. <\/span>No final, ele ainda nos brindou com uma frase que grudou na minha cabe\u00e7a como uma fivela fashion coberta de strass. Leia com aten\u00e7\u00e3o e medite a respeito:<\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n \n \n \n \n \n \n S\u00e3o os arrogantes que fazem o mundo evoluir. <\/span><\/span><\/strong><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n \n \n \n \n \n \n \u00c9 claro, pois, para criar algo novo, voc\u00ea precisa achar que pode fazer melhor do que tudo que j\u00e1 existe, que pode achar uma solu\u00e7\u00e3o mais adequada do que todas as que j\u00e1 foram pensadas at\u00e9 hoje. Tem arrog\u00e2ncia maior? N\u00e3o tive oportunidade de conversar com ele no final, mas desconfio que partilhamos da mesma admira\u00e7\u00e3o pelo Dr. House.<\/span><\/span><\/p>\n <\/span><\/span><\/p>\n