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{"id":10990,"date":"2011-03-28T15:20:44","date_gmt":"2011-03-28T18:20:44","guid":{"rendered":"http:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/?p=10990"},"modified":"2011-03-28T15:20:44","modified_gmt":"2011-03-28T18:20:44","slug":"criatividade-sem-inovacao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/criatividade-sem-inovacao\/","title":{"rendered":"Criatividade sem inova\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"

\"IMG_0796\"<\/a><\/p>\n

O design \u00e9 irm\u00e3o da inova\u00e7\u00e3o. N\u00e3o diria que \u00e9 o pai porque a inova\u00e7\u00e3o nasceu bem antes do design (ela nasceu com o mundo: ele, com a revolu\u00e7\u00e3o industrial). Tamb\u00e9m n\u00e3o d\u00e1 para dizer que a inova\u00e7\u00e3o \u00e9 a m\u00e3e do design porque h\u00e1 montes de projetos onde os genes inovadores s\u00e3o flagrantemente recessivos. Fiquemos ent\u00e3o assim: s\u00e3o irm\u00e3os ligad\u00edssimos, unha e cut\u00edcula. Pois, no Brasil, um vive chorando no colo do outro porque est\u00e3o os dois sem pai nem m\u00e3e.<\/p>\n

Digo isso baseada no excelente ensaio do prestigiado Clemente da N\u00f3brega na\u00a0\u00c9poca Neg\u00f3cios\u00a0de outubro de 2007 (ali\u00e1s, essa revista tem se revelado uma agrad\u00e1vel surpresa num segmento at\u00e9 ent\u00e3o dominado pela jur\u00e1ssica Exame). O t\u00edtulo roubou minha aten\u00e7\u00e3o j\u00e1 na banca: \u201cPor que o Brasil \u00e9 ruim de inova\u00e7\u00e3o?\u201d<\/strong> (leia o artigo na \u00edntegra aqui<\/a>).<\/p>\n

Tentando responder porque o Brasil ocupa um long\u00ednquo 40\u00b0\u00a0lugar em um ranking mundial organizado pelo prestigiado INSEAD, N\u00f3brega nos conta que depois de mergulhar em muitos estudos e estat\u00edsticas, chegou a conclus\u00f5es bem tristes sobre a predomin\u00e2ncia do conservadorismo nas nossas empresas. Simplesmente n\u00e3o h\u00e1 ambiente para inova\u00e7\u00e3o no Brasil; o risco \u00e9 desproporcional aos ganhos. Mas vamos por partes, a fim de que a linha de racioc\u00ednio fique mais clara.<\/p>\n

N\u00f3brega comparou atributos de pa\u00edses l\u00edderes em inova\u00e7\u00e3o e descobriu que os inovadores s\u00e3o ricos de uma maneira muito semelhante. J\u00e1 os n\u00e3o inovadores s\u00e3o pobres de maneiras diferentes.<\/p>\n

Vejamos algumas caracter\u00edsticas que fazem toda a diferen\u00e7a. Primeiro, nos inovadores (e ricos) h\u00e1 um alto n\u00edvel de confian\u00e7a nas rela\u00e7\u00f5es interpessoais<\/em>. Isso quer dizer que a\u00a0coopera\u00e7\u00e3o com base na reciprocidade\u00a0est\u00e1 fortemente arraigada na cultura do lugar. Em outras palavras, as pessoas recebem proporcionalmente ao que d\u00e3o. N\u00e3o se tolera algu\u00e9m receber por algo para o qual n\u00e3o contribuiu; da mesma forma, n\u00e3o se admite que algu\u00e9m que contribuiu n\u00e3o receba a sua justa parte. O outro nome para essa regrinha b\u00e1sica de civilidade \u00e9\u00a0meritocracia,\u00a0onde \u00e9 imoral pegar carona no esfor\u00e7o de outrem. E inova\u00e7\u00e3o \u00e9 esfor\u00e7o, risco. Quanto mais radical a inova\u00e7\u00e3o, mais alto \u00e9 o risco de acabar com uma empresa falida e cheia de d\u00edvidas. Se voc\u00ea n\u00e3o tem garantias que receber\u00e1 uma retribui\u00e7\u00e3o \u00e0 altura dos resultados que conseguir, para que se arriscar tanto?<\/p>\n

Esse tra\u00e7o acaba dando origem a outro. Como o sucesso nos pa\u00edses n\u00e3o inovadores est\u00e1 desvinculado do esfor\u00e7o pessoal (inclusive, aqui \u00e9 muito feio a pessoa ficar rica \u00e0 custa de seu pr\u00f3prio trabalho \u2013 ela \u00e9 acusada de ser \u201cdazelite<\/em>\u201d), essas sociedades, em vez de preferirem gest\u00f5es mais pragm\u00e1ticas e racionais, tendem a abra\u00e7ar o oculto e o m\u00e1gico, os grandes l\u00edderes carism\u00e1ticos e populistas.<\/p>\n

Isso faz com que o Brasil lidere um ranking que, de nenhuma forma pode ajudar a melhorar o quadro: o grau de desconfian\u00e7a.\u00a0Em uma pesquisa realizada em v\u00e1rios pa\u00edses do mundo foi perguntado se a pessoa achava que, em seu pa\u00eds, a maioria das pessoas \u00e9 confi\u00e1vel. Cerca de\u00a065% dos noruegueses<\/strong> responderam que sim. Os\u00a0suecos,\u00a0um pouco mais desconfiados, tiveram\u00a060% <\/strong>das respostas favor\u00e1veis. Quanto voc\u00ea acha que foi o \u00edndice dos brasileiros? Sente-se primeiro, pois vai doer: apenas\u00a03%<\/strong> (isso mesmo, tr\u00eas em cada cem) dos\u00a0brasileiros\u00a0acha seus compatriotas confi\u00e1veis. \u00c9 mole?<\/p>\n

No excelente artigo h\u00e1 ainda um esclarecimento sobre o termo tecnologia no \u00e2mbito dos estudos da inova\u00e7\u00e3o. H\u00e1, segundo o autor, dois tipos de tecnologia: as\u00a0f\u00edsicas<\/strong> e as\u00a0sociais<\/strong>.\u00a0As f\u00edsicas s\u00e3o aquelas que a gente pensou logo que leu a palavra tecnologia \u2013 ferramentas e conhecimentos que tornam poss\u00edvel a constru\u00e7\u00e3o de uma esta\u00e7\u00e3o espacial ou um iPhone, por exemplo.<\/p>\n

As\u00a0tecnologias sociais\u00a0s\u00e3o maneiras de organizar as pessoas para colaborarem em empreendimentos comuns: linhas de montagem, sistemas de gest\u00e3o, franquias, leis, etc. Para N\u00f3brega, as tecnologias sociais s\u00e3o mais importantes que as f\u00edsicas para a inova\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que as primeiras podem ser compradas, mas as segundas, n\u00e3o, pois s\u00e3o dependentes da cultura. Se o pa\u00eds n\u00e3o possui tecnologias sociais, ele fica dependente de g\u00eanios para gerar inven\u00e7\u00f5es que quem sabe, um dia, poder\u00e3o ser utilizadas para gerar riqueza. O autor enfatiza: s\u00f3 um louco pode apostar na prolifera\u00e7\u00e3o de g\u00eanios acima da m\u00e9dia para conseguir qualquer coisa.<\/p>\n

Uma das tecnologias mais importantes para a inova\u00e7\u00e3o \u00e9 o\u00a0sistema de leis<\/em> (n\u00e3o s\u00f3 sua elabora\u00e7\u00e3o, mas o seu cumprimento, principalmente). Em um ambiente trambiqueiro, onde as normas sociais n\u00e3o d\u00e3o suporte \u00e0 coopera\u00e7\u00e3o, as pessoas est\u00e3o sempre desconfiadas e todo mundo tende a proteger seu pr\u00f3prio traseiro (palavras do Clemente). Todo mundo se acha \u201cesperto\u201d e a corrup\u00e7\u00e3o, a desonestidade e a roubalheira acabam sendo normas culturais, com atitudes morais distorcidas do tipo \u201cse eu n\u00e3o fizer, outro faz<\/em>\u201d.<\/p>\n

Pois \u00e9, por mais que a FINEP, o CNPq, a CAPES e outros tantos organismos trabalhem e promovam programas para incentivar a inova\u00e7\u00e3o, a conclus\u00e3o \u00e9 inequ\u00edvoca: reformar o sistema jur\u00eddico e pol\u00edtico no Brasil \u00e9 mais importante para inova\u00e7\u00e3o do que investir rios de dinheiro em bolsas, cursos, programas e estudos.<\/p>\n

Pois agora\u2026<\/p>\n

L\u00edgia Fascioni\u00a0| www.ligiafascioni.com.br<\/a><\/p>\n

***<\/p>\n

Publicado originalmente em novembro de 2007.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O design \u00e9 irm\u00e3o da inova\u00e7\u00e3o. N\u00e3o diria que \u00e9 o pai porque a inova\u00e7\u00e3o nasceu bem antes do design (ela nasceu com o mundo: ele, com a revolu\u00e7\u00e3o industrial). Tamb\u00e9m n\u00e3o d\u00e1 para dizer que a inova\u00e7\u00e3o \u00e9 a m\u00e3e do design porque h\u00e1 montes de projetos onde os genes inovadores s\u00e3o flagrantemente recessivos. Fiquemos ent\u00e3o assim: s\u00e3o irm\u00e3os ligad\u00edssimos, unha e cut\u00edcula. Pois, no Brasil, um vive chorando no colo do outro porque est\u00e3o os dois sem pai nem m\u00e3e.
\nTentando responder porque o Brasil ocupa um long\u00ednquo 40o lugar em um ranking mundial organizado pelo prestigiado INSEAD, N\u00f3brega nos conta que depois de mergulhar em muitos estudos e estat\u00edsticas, chegou a conclus\u00f5es bem tristes sobre a predomin\u00e2ncia do conservadorismo nas nossas empresas. Simplesmente n\u00e3o h\u00e1 ambiente para inova\u00e7\u00e3o no Brasil; o risco \u00e9 desproporcional aos ganhos. Mas vamos por partes, a fim de que a linha de racioc\u00ednio fique mais clara.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":22635,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[45,46,23,24,25,26,57,28,76,77],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/10990"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=10990"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/10990\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=10990"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=10990"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=10990"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}