O nome Suzana Herculano<\/a> n\u00e3o me era estranho, mas nunca tinha prestado muita aten\u00e7\u00e3o at\u00e9 ser completamente abduzida por uma reportagem da TPM<\/a> (minha revista favorita). L\u00e1 fiquei sabendo que a mo\u00e7a formou-se em biologia aos 19 anos e foi estudar gen\u00e9tica nos Estados Unidos, quando apaixonou-se por neuroci\u00eancia. Mergulhou literalmente de cabe\u00e7a no neg\u00f3cio e j\u00e1 recebeu pr\u00eamios internacionais de respeito por sua pesquisa na \u00e1rea. Pensa que a nega \u00e9 daquelas CDFs que nem sabem o que \u00e9 batom? Pois saiba que \u00e9 uma morena bem bonita, m\u00e3e de dois filhos, que tamb\u00e9m toca piano, viol\u00e3o, violoncelo e flauta transversal. J\u00e1 fez muscula\u00e7\u00e3o, corrida, sapateado e agora pratica pilates. L\u00ea de tudo um pouco, vai ao cinema, adora viajar e escreve muito bem. Enfim, como n\u00e3o se apaixonar? Virou minha \u00eddola instantaneamente.<\/p>\n Foi fechar a revista e correr para comprar os livros dela (s\u00e3o 6, mas s\u00f3 li 2 at\u00e9 agora). Fiquei sabendo tamb\u00e9m que Suzana tem um quadro no Fant\u00e1stico chamado Neurol\u00f3gica, mas como n\u00e3o assisto, vou aprender o que puder pelos textos mesmo (meu c\u00e9rebro n\u00e3o tem muita paci\u00eancia de ir atr\u00e1s dos v\u00eddeos).<\/p>\n O grande barato dessa neurocientista de plant\u00e3o, como se autodenomina, \u00e9 que ela usa absolutamente tudo o que acontece no dia-a-dia como pretexto para explicar como o c\u00e9rebro funciona em cada caso. Por que ela adora o cheirinho da filha; por que sente saudades do marido; o que o c\u00e9rebro faz enquanto a gente v\u00ea TV; o que acontece enquanto a gente dorme, se apaixona, leva um fora ou se lembra de algo. Enfim, \u00e9 uma aventura sem fim, cheia de explica\u00e7\u00f5es interessantes e com forte embasamento cient\u00edfico oferecidas como papinha de nen\u00ea, bem mastigadinhas.<\/p>\n Em \u201cP\u00edlulas de neuroci\u00eancia para uma vida melhor<\/em><\/strong>\u201d (jamais compraria um livro com esse t\u00edtulo se n\u00e3o tivesse uma indica\u00e7\u00e3o; meu c\u00e9rebro \u00e9 muito preconceituoso) ela come\u00e7a explicando que a \u00faltima coisa que o famoso teste de QI mede \u00e9 a intelig\u00eancia. O question\u00e1rio nasceu em 1904, quando o governo franc\u00eas encomendou ao psic\u00f3logo Alfred Binet um instrumento para identificar crian\u00e7as com dificuldade de aprendizado (o objetivo era prover refor\u00e7o para elas). O teste media quantas tarefas uma crian\u00e7a conseguia acertar em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s outras da mesma idade. A diferen\u00e7a entre a pontua\u00e7\u00e3o da crian\u00e7a e a m\u00e9dia das outras de sua idade revelava sua \u201cidade mental\u201d. Subtraindo-se a \u201cidade mental\u201d da idade biol\u00f3gica da crian\u00e7a, chegava-se ao \u201cn\u00edvel intelectual\u201d. As crian\u00e7as com maior diferen\u00e7a entre as \u201cidades\u201d, iam para um programa especial de educa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Em 1912, tr\u00eas psic\u00f3logos americanos resolveram mudar a conta: em vez de diminuir a idade cronol\u00f3gica da idade mental, dividiram uma pela outra, criando o famoso \u201cquociente\u00a0 de intelig\u00eancia\u201d. A ideia era us\u00e1-lo para recusar a entrada de imigrantes considerados de \u201cra\u00e7a inferior\u201d e o neg\u00f3cio virou moda. Mas, na real, o teste diz que se uma pessoa de 30 anos tem um QI de 138, quer dizer que sua idade mental \u00e9 de 30 x 1.38, ou seja, 41.1 anos, o que significa que ela \u00e9 mentalmente mais velha do que de fato o \u00e9; nada mais al\u00e9m disso.<\/p>\n Binet deve estar se revirando no t\u00famulo com o uso que fizeram do teste dele, principalmente porque a neuroci\u00eancia descobriu que a intelig\u00eancia<\/em>, definida como a capacidade de analisar situa\u00e7\u00f5es novas e usar informa\u00e7\u00f5es anteriores para resolver problemas<\/em>, tem uma metade facilitada pela gen\u00e9tica, mas a outra depende do ambiente (educa\u00e7\u00e3o e experi\u00eancias). Al\u00e9m do mais, \u00e9 perfeitamente poss\u00edvel aumentar o n\u00edvel de intelig\u00eancia desenvolvendo habilidades que exercitem a capacidade de resolver problemas. Fato.<\/p>\n Outra coisa interessante \u00e9 quando ela fala que op\u00e7\u00e3o sexual n\u00e3o \u00e9 l\u00e1 um termo muito correto, pois a prefer\u00eancia de uma pessoa quanto a esse quesito \u00e9 biol\u00f3gica (perfeitamente identific\u00e1vel no c\u00e9rebro). A pessoa j\u00e1 nasce com os genes predipostos a se sentir atra\u00edda por pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo, independente de fatores externos (ambiente, cultura, educa\u00e7\u00e3o, etc); \u00e9 como ter olhos azuis ou pernas compridas. Estatisticamente, cerca de 10% da popula\u00e7\u00e3o nasce homossexual, n\u00e3o escolhe; por isso, \u00e9 complicado falar em op\u00e7\u00e3o. A \u00fanica op\u00e7\u00e3o que a pessoa tem, no caso, \u00e9 entre violentar ou n\u00e3o sua natureza; tentar ou n\u00e3o ser feliz.<\/p>\n Suzana fala tamb\u00e9m que o c\u00e9rebro precisa de carinho f\u00edsico para se desenvolver melhor, principalmente quando ainda est\u00e1 na fase de forma\u00e7\u00e3o. Quem teve azar quando crian\u00e7a (viveu num orfanato ou tinha pais n\u00f3rdicos pouco dados a demonstra\u00e7\u00f5es), ainda pode se recuperar se ganhar bastante carinho depois de adulto. Fazer cafun\u00e9 nas pessoas que a gente ama faz bem para o c\u00e9rebro em qualquer idade, quem poderia desconfiar de uma coisa dessas?<\/p>\n E tem mais: suar fazendo exerc\u00edcios f\u00edsicos \u00e9 fundamental para a sa\u00fade do c\u00e9rebro. Se seus neur\u00f4nios ficarem moles e pregui\u00e7osos, n\u00e3o adianta passar o dia na frente do computador ou hibernando na biblioteca. Tem que sair para a rua e botar as gl\u00e2ndulas sudor\u00edparas para trabalhar, n\u00e3o tem outro jeito.<\/p>\n Ela explica tamb\u00e9m por que frequentar restaurantes a quilo engorda; da import\u00e2ncia de beber \u00e1gua; porque o sentido mais importante e vital \u00e9 o equil\u00edbrio (controlado pelos \u00f3rg\u00e3os vestibulares, como o labirinto); porque o melhor rem\u00e9dio para a mem\u00f3ria \u00e9… dormir; enfim, d\u00e1 para se divertir um mont\u00e3o.<\/p>\n Depois disso tudo, minha massa cinzenta n\u00e3o se cansa de questionar: por que \u00e9 que n\u00e3o ensinam neuroci\u00eancia na escola, do jardim de inf\u00e2ncia at\u00e9 a faculdade, heim? Os c\u00e9rebros todos seriam muito mais saud\u00e1veis e felizes. E nossos corpitchos tamb\u00e9m…<\/p>\n