Nesse feriado tive o privil\u00e9gio de participar do workshop Inova\u00e7\u00e3o + Design Thinking<\/em><\/strong> promovido pela dupla din\u00e2mica Maria Augusta Orofino<\/a> e Maur\u00edcio Manh\u00e3es, da InnovaService<\/a>. Foram dois dias inteiros para descolar os neur\u00f4nios, como disse uma participante. Uma coisa \u00e9 estudar inova\u00e7\u00e3o e design thinking<\/em> em livros, outra bem diferente \u00e9 desenvolver um produto inovador na pr\u00e1tica.<\/p>\n Eles come\u00e7am os trabalhos falando do conceito da VaCa RoSa, acr\u00f4nimo para a t\u00e9cnica de Varia\u00e7\u00e3o Cega e Reten\u00e7\u00e3o Seletiva. A varia\u00e7\u00e3o cega parte da met\u00e1fora baseada no darwinismo, onde a natureza faz varia\u00e7\u00f5es aleat\u00f3rias sobre um tema (ou, no caso, ser vivo) e a reten\u00e7\u00e3o \u00e9 feita seletivamente, pelo desempenho de cada uma. Ent\u00e3o, no come\u00e7o houve girafas pesco\u00e7udas, orelhudas, linguarudas e at\u00e9 estr\u00e1bicas. As caracter\u00edsticas que tiveram desempenho melhor e contribu\u00edram para a sobreviv\u00eancia da esp\u00e9cie foram reproduzidas, fazendo esses animais, hoje em dia, terem pesco\u00e7os e orelhas bem desenvolvidos. Mas, no come\u00e7o da varia\u00e7\u00e3o cega, n\u00e3o havia como saber como ia ser a forma final da girafa.<\/p>\n Com a inova\u00e7\u00e3o, acontece algo semelhante: n\u00e3o se sabe se a ideia ser\u00e1 bem sucedida at\u00e9 ela se tornar febre. Antes disso, nem mesmo o Steve Jobs consegue garantir o que exatamente vai dar certo. As vari\u00e1veis s\u00e3o muitas e complexas, o que torna a gest\u00e3o da inova\u00e7\u00e3o algo muito improv\u00e1vel. O que se consegue gerir \u00e9 o design (sem design, n\u00e3o h\u00e1 inova\u00e7\u00e3o). Ent\u00e3o, a chave \u00e9 ter uma profus\u00e3o de ideias (varia\u00e7\u00e3o cega) para s\u00f3 ent\u00e3o fazer uma sele\u00e7\u00e3o e desenvolver designs para as melhores. A\u00ed \u00e9 test\u00e1-las, mesmo que ainda n\u00e3o estejam prontas, ver o desempenho, selecionar de novo e por a\u00ed vai. \u00c9 como sua av\u00f3 j\u00e1 dizia: n\u00e3o coloque todos os ovos na mesma cesta \u2013 aposte em v\u00e1rias ideias diferentes e v\u00e1 incrementando o investimento conforme o desempenho de cada uma.<\/p>\n Passamos ent\u00e3o o primeiro dia exercitando a tal da varia\u00e7\u00e3o cega e, para minha surpresa, n\u00e3o havia um problema para ser resolvido, apenas um tema a ser explorado. A\u00ed ficou clara a principal diferen\u00e7a entre a engenharia e o design; enquanto a engenharia parte de um problema e se vale de um conjunto de ferramentas para resolv\u00ea-lo, o design para inova\u00e7\u00e3o parte de uma figura chamada muito apropriadamente espa\u00e7o-problema-solu\u00e7\u00e3o<\/em>, onde tanto o problema como a solu\u00e7\u00e3o ainda est\u00e3o indefinidos e misturados no mesmo espa\u00e7o conceitual.<\/p>\n Da\u00ed o valor da varia\u00e7\u00e3o cega: relacionar ideias e conceitos de maneira exaustiva (depois de duas horas, minha equipe achou que j\u00e1 havia esgotado o assunto; com um empurr\u00e3ozinho, criou mais um conjunto equivalente, ou seja, a gente j\u00e1 tinha se dado por satisfeito s\u00f3 com a metade e ia perder boa parte das possibilidades; bom ter isso em mente).<\/p>\n A varia\u00e7\u00e3o cega \u00e9 uma bagun\u00e7a organizada; os facilitadores sempre lembravam que ela era cega, n\u00e3o burra. O cego a\u00ed \u00e9 no sentido que todas as ideias t\u00eam o mesmo valor, como a justi\u00e7a, mas n\u00e3o podem fugir demais do tema principal. Post-its, pe\u00e7as de Lego, canetinhas, fantasias e objetos diversos foram muito \u00fateis na brincadeira.<\/p>\n O pr\u00f3ximo passo era tentar montar narrativas com aquelas ideias todas, usando a t\u00e9cnica do storytelling<\/em> (ou, em bom portugu\u00eas, conta\u00e7\u00e3o de hist\u00f3rias). Esse exerc\u00edcio nos deu alguns insights<\/em> de produtos\/servi\u00e7os que poderiam ser desenvolvidos; fomos incentivados novamente a n\u00e3o nos contentarmos com pouco e pensamos em uma d\u00fazia de op\u00e7\u00f5es. Selecionamos uma para explorar melhor e a\u00ed a gente descobriu o verdadeiro valor da prototipagem. Montamos a hist\u00f3ria para apresentar o produto para o grande grupo e, como feedback<\/em>, descobrimos que n\u00e3o t\u00ednhamos conseguido comunicar o valor e o conceito do produto.<\/p>\n Outra descoberta: \u00e9 muito f\u00e1cil mudar de ideia quando se tem muitas<\/em><\/strong>. A pessoa s\u00f3 se agarra numa opini\u00e3o e teima quando isso \u00e9 tudo o que ela tem. Como a gente estava rico de potenciais produtos e tinha uma lista enorme para escolher, resolvemos mudar radicalmente e testar outra alternativa. A apresenta\u00e7\u00e3o final (prototipada e testada internamente v\u00e1rias vezes, com contribui\u00e7\u00f5es de todos os lados) foi um sucesso! Se o produto realmente existisse, vender\u00edamos horrores.<\/p>\n O mais bacana \u00e9 que o workshop aconteceu na mesma semana em que a revista \u00c9poca Neg\u00f3cios mostra as vantagens da varia\u00e7\u00e3o cega no processo de inova\u00e7\u00e3o bem na mat\u00e9ria de capa (Pense pequeno<\/a>). Sinal de que muita gente boa est\u00e1 trilhando por esse caminho que aparece como tend\u00eancia clara no mundo inteiro.<\/p>\n Confesso que estou muito animada com tudo o que aprendi, pois sou a pr\u00f3pria varia\u00e7\u00e3o cega materializada num profissional. De onde ser\u00e1 que a pr\u00f3xima inova\u00e7\u00e3o vai sair?<\/p>\n