![\"\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2011\/07\/3.jpg\" "\\"3\\"")
<\/a><\/p>\nVou confessar uma coisa: adoro ouvir peda\u00e7os de conversas quando estou em um caf\u00e9 ou restaurante. Como escuto s\u00f3 partes da hist\u00f3ria, fico imaginando como se desenrola o resto.<\/p>\n
Pois ontem me sentei numa mesa ao lado de dois rapazes de terno que discutiam sobre a necessidade de um aumento de sal\u00e1rio. O peda\u00e7o que eu peguei foi esse aqui:<\/p>\n
\u2014 Faz dois anos que estou nesse emprego e at\u00e9 agora n\u00e3o ganhei nenhum aumento.<\/p>\n
\u2014 Voc\u00ea tem que pedir, sen\u00e3o eles n\u00e3o d\u00e3o.<\/p>\n
\u2014 Mas como vou pedir? Tem clima para isso n\u00e3o… fico nervoso, cara…<\/p>\n
\u2014 Olha, a sua faculdade n\u00e3o aumentou? Ent\u00e3o fala que est\u00e1 precisando de mais dinheiro… ou ent\u00e3o explica que o sal\u00e1rio n\u00e3o est\u00e1 dando, sei l\u00e1.<\/p>\n
\u2014\u00a0Boa ideia. Mesmo assim, sei n\u00e3o se vai dar certo, meu patr\u00e3o \u00e9 meio p\u00e3o duro…<\/p>\n
Pois \u00e9, p\u00e3o-duro ou n\u00e3o, se o sujeito tiver pelo menos dois neur\u00f4nios e no\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas de administra\u00e7\u00e3o, o mo\u00e7o vai ficar mesmo sem aumento. E ele deve, inclusive, rever as amizades, pois os conselhos do amigo s\u00e3o p\u00e9ssimos; duvido que j\u00e1 tenha conseguido alguma coisa com esses argumentos brilhantes.<\/p>\n
Uma coisa \u00f3bvia que nem todo mundo se d\u00e1 conta \u00e9 que, quando se contrata algu\u00e9m, h\u00e1 um acordo. O contratado deve fazer determinadas tarefas e assumir algumas responsabilidades. Por esse valor que agregar\u00e1 \u00e0 empresa, ser\u00e1 remunerado de acordo com o acertado. E ponto. Se mesmo depois de anos as tarefas ou responsabilidades continuam as mesmas, por que o sal\u00e1rio deveria mudar?<\/p>\n
N\u00e3o custa lembrar que estamos falando de aumento, n\u00e3o de reajuste, que \u00e9 uma coisa completamente diferente: o reajuste existe para repor as perdas da infla\u00e7\u00e3o e para o sal\u00e1rio continuar a valer a mesma coisa que valia na \u00e9poca da contrata\u00e7\u00e3o. Quem negocia o reajuste \u00e9 o sindicato da categoria; se n\u00e3o est\u00e1 negociando direito, \u00e9 com ele que voc\u00ea tem que reclamar (voc\u00ea paga 2 dias de trabalho por ano para o sindicato, sabia?). Com o chefe voc\u00ea s\u00f3 pode negociar aumento, ou seja, mudan\u00e7a no seu contrato de trabalho.<\/p>\n
Um porteiro, por exemplo, que seja sempre porteiro, mesmo que trabalhe 20 anos na mesma fun\u00e7\u00e3o, com certeza n\u00e3o merecer\u00e1 aumento. Fazer bem o seu trabalho \u00e9 o combinado; ser competente, atencioso, respons\u00e1vel, \u00e9 o m\u00ednimo que se exige de algu\u00e9m com esse cargo. O sal\u00e1rio contratado para um porteiro \u00e9 para pagar isso mesmo.<\/p>\n
Com o rapaz do caf\u00e9, a hist\u00f3ria \u00e9 a mesma. Se ele continua executando as mesmas fun\u00e7\u00f5es de dois anos atr\u00e1s, por que quer ganhar aumento? Para mudar o valor do contrato, \u00e9 necess\u00e1rio que tenha havido alguma altera\u00e7\u00e3o no escopo. Mais responsabilidades, mais valor, sal\u00e1rio maior. Sen\u00e3o, nada feito.<\/p>\n
E a coisa pior que uma pessoa pode argumentar ao pedir a revis\u00e3o do contrato (\u00e9 exatamente isso que ele faz quando pede aumento) s\u00e3o suas necessidades pessoais. J\u00e1 pensou, voc\u00ea vai comprar p\u00e3o e ele est\u00e1 custando mais caro, sendo que o padeiro justifica que est\u00e1 precisando de dinheiro porque o filho foi fazer interc\u00e2mbio? O que voc\u00ea faz? Vai comprar p\u00e3o em outra padaria, n\u00e9? As contas do padeiro s\u00e3o problema dele, voc\u00ea n\u00e3o tem nada a ver com o interc\u00e2mbio do filho dele. Se ele precisa de mais dinheiro, invente p\u00e3es mais caprichados, agregue mais valor. Choramingos n\u00e3o seduzem ningu\u00e9m. Nem voc\u00ea, nem o mo\u00e7o do caf\u00e9, garanto.<\/p>\n
A \u00fanica coisa que justifica o aumento de pre\u00e7o \u00e9 o aumento de valor do ponto de vista do cliente<\/em><\/strong> (sempre). A gente paga mais caro se acha que a coisa vale. Sabemos que essa percep\u00e7\u00e3o \u00e9 bastante subjetiva, por isso \u00e9 t\u00e3o importante fazer a gest\u00e3o da marca.<\/p>\n Profissionais que constru\u00edram uma marca bem consolidada podem cobrar mais daqueles clientes que conseguem perceber valor no que ele est\u00e1 entregando. Se o chefe do rapaz n\u00e3o est\u00e1 percebendo aumento de valor no trabalho dele, se ele n\u00e3o conseguir mostrar a diferen\u00e7a que est\u00e1 fazendo na empresa, n\u00e3o adianta mesmo se fazer de coitado.<\/p>\n Em resumo, quem est\u00e1 pagando \u00e9 que decide se o pre\u00e7o \u00e9 justo ou n\u00e3o. Se a outra parte discorda e acha que vale mais, conv\u00e9m prospectar outros clientes no mercado. Simples assim.<\/p>\n Mas o que me chamou aten\u00e7\u00e3o mesmo foi outro aspecto da conversa. \u00c9 poss\u00edvel uma pessoa ficar dois anos inteiros fazendo exatamente o mesmo trabalho, sem ter tido nenhuma ideia original para acrescentar ao contrato ou assumido mais responsabilidades?<\/p>\n Pois \u00e9, agora s\u00f3 falta mesmo o mo\u00e7o colocar no curr\u00edculo que \u00e9 proativo…<\/p>\n