<\/a><\/p>\n Essa semana est\u00e1 t\u00e3o atribulada que imaginei que a pr\u00f3xima coluna j\u00e1 seria enviada diretamente de Berlim, para onde me mudo de mala e cuia na pr\u00f3xima quinta-feira, dia 21. Mas hoje foi um dia t\u00e3o especial e transformador que n\u00e3o vou conseguir dormir sem compartilhar a experi\u00eancia.<\/p>\n Certamente muita gente j\u00e1 ouviu falar do TED<\/a>, sigla de Technology, Entertainment and Design<\/em>, nome de uma funda\u00e7\u00e3o americana que convida pessoas com ideias que merecem ser espalhadas (esse \u00e9 o slogan do projeto) para palestras de 15 minutos. Dispon\u00edveis na internet no TED.com<\/a>, j\u00e1 assisti a dezenas dessas confer\u00eancias r\u00e1pidas (a assinatura do podcast \u00e9 gr\u00e1tis), mas nunca tinha participado de um evento pessoalmente. Com o sucesso do projeto, a organiza\u00e7\u00e3o criou o TEDx, uma esp\u00e9cie de franquia gratuita para quem quer replicar o modelo ao redor do planeta. Pois hoje rolou pela primeira vez o TEDxFloripa<\/a> e tive a sorte de estar na plateia.<\/p>\n Como disse, j\u00e1 tinha assistido virtualmente a v\u00e1rias apresenta\u00e7\u00f5es, mas nada se compara \u00e0 sensa\u00e7\u00e3o de compartilhar o espa\u00e7o com uma centena de pessoas embu\u00eddas pelo esp\u00edrito transformador reunidas num pequeno e charmoso teatro. D\u00e1 para sentir a energia no ar e posso dizer que a sensa\u00e7\u00e3o \u00e9 extasiante. A gente passa realmente a achar que o mundo tem solu\u00e7\u00e3o, e que nem estamos assim t\u00e3o longe.<\/p>\n Claro que h\u00e1 apresenta\u00e7\u00f5es melhores que outras e nem sempre a gente concorda com tudo o que est\u00e1 sendo dito, mas isso \u00e9 o de menos. At\u00e9 fiquei um pouco surpresa ao constatar que ainda h\u00e1 pessoas adultas, inteligentes e com ideias bacanas que acreditam piamente que o mundo se divide binariamente entre mocinhos e bandidos. Algumas palestras adotaram esse tom manique\u00edsta, que, na minha opini\u00e3o, simplifica e empobrece a quest\u00e3o da complexidade que \u00e9 o ser humano, mas, enfim, s\u00e3o maneiras de ver e abordar os problemas. A quest\u00e3o \u00e9 que todo mundo que falou, de fato merecia mesmo ser ouvido. As ideias foram permeadas pelo querido e espirituoso apresentador Marcos Piangers, que tratou de manter o astral do pessoal na estratosfera.<\/p>\n Bom, foram 21 ideias que merecem ser espalhadas e n\u00e3o vou aqui fazer um relat\u00f3rio completo (os v\u00eddeos estar\u00e3o logo dispon\u00edveis no site do TEDxFloripa<\/a>), mas quero muito compartilhar aquelas que me impactaram, emocionaram e surpreenderam mais, ou pelo ineditismo da proposta, ou pelo talento do palestrante.<\/p>\n Lixo Zero<\/strong> (Rodrigo Sabatini<\/a>). O Rodrigo foi meu colega na universidade e, assim como eu, sempre foi inquieto e cada vez que o encontro est\u00e1 com alguma ideia nova e diferente. Pois ele nos fez pensar em quando \u00e9 que o lixo se torna lixo. Ser\u00e1 que h\u00e1 um momento m\u00e1gico que dura milisegundos e opera a milagrosa transforma\u00e7\u00e3o de algo de valor (que voc\u00ea comprou) em um estorvo que voc\u00ea quer se livrar? Pois o momento em que isso acontece \u00e9 quando voc\u00ea mistura e desorganiza as coisas. Se voc\u00ea mant\u00e9m os restos de seu consumo limpos, separados e organizados, eles nunca viram lixo; passam instantaneamente de objeto \u00fatil a mat\u00e9ria-prima \u00fatil. Lixo s\u00f3 vira lixo com sua preciosa e inestim\u00e1vel ajuda. Simples assim.<\/p>\n Eu sou gay<\/strong> (Carol Almeida<\/a>). A jornalista, revoltada com a not\u00edcia do assassinato de uma garota de 16 anos pelo pai da namorada em maio deste ano, fez um desabafo em seu blog<\/a> e prop\u00f4s que pessoas lhe enviassem fotos com os dizeres \u201ceu sou gay<\/em>\u201d, independente da orienta\u00e7\u00e3o sexual. Para a surpresa da mo\u00e7a, sua caixa postal ficou entupida em quest\u00e3o de horas e ela n\u00e3o d\u00e1 conta at\u00e9 hoje. Carol usou as fotos para produzir um v\u00eddeo que j\u00e1 foi visto por milh\u00f5es de pessoas ao redor do globo (veja aqui<\/a>, \u00e9 lindo). Ela leu uma carta que recebeu de um rapaz na semana passada, contando que \u201ceu sou gay<\/em>\u201d foram as tr\u00eas palavras mais dif\u00edceis que ele pronunciou na vida, e que elas eram t\u00e3o importantes, afirmativas e reveladoras como aquelas outras tr\u00eas t\u00e3o dif\u00edceis quanto: \u201ceu te amo<\/em>\u201d. Ele disse que os amigos que o acompanham na foto segurando o cartaz \u201ceu sou gay<\/em>\u201d, na verdade, estavam dizendo um grande \u201ceu te amo<\/em>\u201d. E que ele sonha com o dia em que sua orienta\u00e7\u00e3o sexual n\u00e3o mais o defina como pessoa; que seja o que de fato \u00e9, apenas mais uma de suas in\u00fameras caracter\u00edsticas. Eu tamb\u00e9m sonho com isso. A Carol tamb\u00e9m. E, pelo jeito, a galera do TEDxFloripa<\/a> tamb\u00e9m, pois todo mundo chorou com o depoimento corajoso do rapaz lido por uma Carol emocionada.<\/p>\n Instituto Guga Kuerten<\/strong> (Alice Kuerten<\/a>). Eu j\u00e1 tinha visto a Alice em reportagens (at\u00e9 frequentamos a mesma sala de aula de ingl\u00eas no s\u00e9culo passado), mas nunca a tinha visto falar em p\u00fablico. Gente, a mulher arrasa! Bela, elegant\u00edssima, segura, com uma voz linda e mostrando compet\u00eancia, deixa muito palestrante profissional no chinelo. Mostrou servi\u00e7o numa \u00e1rea onde \u00e9 f\u00e1cil cair no assistencialismo barato de uma maneira muito objetiva e focada; \u00e9 uma executiva de primeira linha. Al\u00e9m disso, ela trata o Guga como algu\u00e9m que faz bem o seu trabalho, n\u00e3o como um \u00eddolo. Se um d\u00e9cimo dessas celebridades que a gente v\u00ea por a\u00ed tivesse uma m\u00e3e dessas, o mundo seria muito diferente (pra melhor). O Guga certamente n\u00e3o \u00e9 uma pessoa t\u00e3o fant\u00e1stica, querida, sem estrelismos e com uma rara no\u00e7\u00e3o de perspectiva assim, \u00e0 toa. Essa D. Alice n\u00e3o \u00e9 fraca n\u00e3o, n\u00e3o tem como n\u00e3o amar e admirar.<\/p>\n