![\"mikeruiz1\"](\"http:\/\/ligiafascioni.files.wordpress.com\/2008\/11\/mikeruiz1.jpg\" "\\"mikeruiz1\\"")
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O bom de dar disciplinas novas \u00e9 que a pr\u00e1tica <\/span>se torna uma divertida maneira de aprender mais sobre algum assunto. Para cada aula a ser dada, \u00e9 preciso estudar pelo menos 2 ou 3 livros, al\u00e9m de outras refer\u00eancias. Por isso \u00e9 que eu n\u00e3o vejo o menor cabimento professores dizerem que \u201censinam\u201d. Mais do que tudo, aprender \u00e9 a nossa especialidade. <\/span><\/p>\n Tenho investido as \u00faltimas semanas na prepara\u00e7\u00e3o de um curso sobre prospec\u00e7\u00e3o e an\u00e1lise de tend\u00eancias em design e s\u00f3 por isso tive a maravilhosa oportunidade de ler \u201cObservat\u00f3rio de sinais: teoria e pr\u00e1tica da pesquisa de tend\u00eancias<\/em>\u201d, de Dario Caldas.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n A curiosidade come\u00e7a com a origem da palavra tend\u00eancia, que vem do latim tendentia<\/em> que significa \u201ctender para<\/em>\u201d, \u201cinclinar-se para<\/em>\u201d, \u201cser atra\u00eddo por<\/em>\u201d. O autor lembra que a palavra traz a embutida a id\u00e9ia da incerteza do resultado a ser alcan\u00e7ado, uma vez que a for\u00e7a apenas aponta para uma dire\u00e7\u00e3o, sem, necessariamente atingir um fim.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n Caldas vai desenrolando a evolu\u00e7\u00e3o do uso da express\u00e3o at\u00e9 chegarmos ao que ela \u00e9 hoje, onde tend\u00eancia praticamente adquire o sentido de profecia. O autor vai explicando como isso tem a ver com a eterna ang\u00fastia humana do medo do desconhecido. Qualquer coisa que lembre futurologia e descreva o que vai acontecer serve como calmante para nossos c\u00e9rebros aflitos. Isso pode vir da religi\u00e3o, de promessas pol\u00edticas, de supostos videntes e at\u00e9 da ci\u00eancia, n\u00e3o importa. Para suprir essa inseguran\u00e7a, estamos agora a crer nos \u201cgurus de tend\u00eancias\u201d, sejam eles \u201cautoridades\u201d da moda, do marketing, do consumo, das finan\u00e7as ou da administra\u00e7\u00e3o de neg\u00f3cios. O que torna a coisa toda confi\u00e1vel \u00e9 o tom assertivo que essas figuras usam para declarar suas certezas.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n Caldas relaciona com muito fundamento a palavra tend\u00eancia com a doutrina positivista, do fil\u00f3sofo franc\u00eas Auguste Comte. O positivismo baseava-se na id\u00e9ia de que o mundo est\u00e1 em constante evolu\u00e7\u00e3o e tende inexoravelmente para uma civiliza\u00e7\u00e3o mais avan\u00e7ada (\u00f4ba, eu sempre quis usar a palavra inexoravelmente num texto!). Segundo essa corrente, o progresso \u00e9 uma lei geral e inevit\u00e1vel, e, baseado nesse conceito, Comte construiu uma escala de evolu\u00e7\u00e3o dividida em etapas, onde o a civiliza\u00e7\u00e3o mais avan\u00e7ada, vejam que coincid\u00eancia, era a burguesia ocidental branca europ\u00e9ia do s\u00e9culo XIX. Foi da\u00ed que surgiu o conceito de \u201cpa\u00eds desenvolvido\u201d (por que n\u00e3o \u201cpa\u00eds rico\u201d, mais simples e exato?) e a gente ficou com essa mania de dizer que uma coisa legal \u00e9 \u201cde primeiro mundo\u201d. A doutrina vingou t\u00e3o bem aqui abaixo do equador que at\u00e9 os dizeres da nossa bandeira, o tal \u201cordem e progresso\u201d, s\u00e3o, na verdade, um slogan positivista. Bem que essa frase sempre me pareceu importada, completamente desconectada da nossa identidade… <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n A rela\u00e7\u00e3o entre o positivismo e o \u201ctendenciosismo\u201d s\u00e3o claras: os dois aparecem como profetas que eliminam as incertezas do futuro. Assim, a gente n\u00e3o se espanta mais em ouvir declara\u00e7\u00f5es tidas como verdades certas do tipo: \u201cno ver\u00e3o se usar\u00e1 amarelo<\/em>\u201d, \u201cas bolsas v\u00e3o subir em janeiro<\/em>\u201d ou \u201cas pessoas v\u00e3o comprar mais pipoca em 2009<\/em>\u201d em vez de \u201ctudo leva a crer que o amarelo vai fazer sucesso<\/em>\u201d, \u201ch\u00e1 grandes chances da bolsa subir em janeiro<\/em>\u201d ou \u201co consumo de pipoca est\u00e1 crescendo<\/em>\u201d. <\/span>Na moda, a quest\u00e3o \u00e9 resolvida quando os atores da cadeia t\u00eaxtil se organizam e ditam o que vai ser usado (o que descaracteriza completamente a palavra \u2014 na verdade, eles n\u00e3o ditam tend\u00eancias, mas fornecem refer\u00eancias para os profissionais da \u00e1rea). Isso influencia quase tudo, pois a moda, o design, arquitetura, a decora\u00e7\u00e3o, a arte, todos coadunam entre si para traduzir o esp\u00edrito de um tempo, de maneira que \u00e9 imposs\u00edvel desconect\u00e1-los no cen\u00e1rio.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n S\u00f3 que o mundo ficou mais complicado, com muito mais atores e vari\u00e1veis. Sinais (elementos indicadores de tend\u00eancias reais de mudan\u00e7a de comportamento) aparecem por toda parte. A globaliza\u00e7\u00e3o, de certa maneira, aumentou a complexidade das coisas, de modo que hoje n\u00e3o d\u00e1 para indicar uma tend\u00eancia mundial, mas v\u00e1rias e destacadas microtend\u00eancias. Al\u00e9m do mais, as coisas j\u00e1 n\u00e3o s\u00e3o mais t\u00e3o simples como no auge do positivismo: n\u00e3o existe mais um \u00fanico e certo caminho a seguir. As diferen\u00e7as s\u00e3o reconhecidas e as op\u00e7\u00f5es se multiplicam o tempo todo.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n Caldas mostra que o observador de sinais precisa ter ampla cultura geral e muita informa\u00e7\u00e3o, al\u00e9m de uma grande capacidade de an\u00e1lise e s\u00edntese. Mas com m\u00e9todo e uma parcela importante de intui\u00e7\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel identificar tend\u00eancias de fundo, aqueles fatos e comportamentos que ir\u00e3o influenciar os objetos e o consumo nos tempos que seguem. N\u00e3o \u00e9 porque o trabalho \u00e9 dif\u00edcil que ele n\u00e3o precisa ser feito. \u00c9 essencial recolher e interpretar as pistas do que est\u00e1 por vir, mas igualmente importante \u00e9 destacar que a parcela de incerteza n\u00e3o foi eliminada.<\/span><\/p>\n
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