![\"\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2011\/09\/DSC04418.jpg\" "\\"DSC04418\\"")
<\/a><\/p>\nOntem assistimos \u00e0 Maratona de Berlin, com nada menos de 40 mil participantes na categoria principal (e mais 30 mil em eventos paralelos: corrida infantil, para-maratona, patins, entre outras). Por sorte, o dia estava lind\u00edssimo e a cidade ficou bem colorida. No percurso de pouco mais de 42 km, foram espalhadas mais de 80 bandas para animar os corredores e quem estava assistindo ao evento.<\/p>\n
A gente viu a partida (impressionante, pela quantidade de pessoas), depois foi de bicicleta, pelo caminho mais curto, at\u00e9 a chegada. \u00c9 claro que o campe\u00e3o foi um queniano, que chegou praticamente passeando (quebrou o recorde da prova), mais de 5 minutos antes do segundo colocado. Ele chegou, descansou, deu uma volta para cumprimentar a plateia, deu entrevista e s\u00f3 depois chegou o segundo (tamb\u00e9m queniano, veja que coinci\u00eancia). Mais um temp\u00e3o para chegar o resto da elite do atletismo e as mulheres (uma queniana tamb\u00e9m papou o primeiro lugar \u2212\u00a0esse povo deve ser aparentado com gazelas, s\u00f3 pode). Depois das premia\u00e7\u00f5es principais, fomos dar uma volta pelo circuito (uma pequena parte, e mesmo assim, de bicicleta, claro).<\/p>\n
Perto de casa passavam os corredores quase no final, aos 38 km. Fiquei impressionada em ver tantas pessoas idosas, homens e mulheres, correndo. O estado dos semblantes (e respectivos corpitchos) variava muito, mas dava para ver que estava todo mundo muito contente em apenas chegar. Eu disse apenas? Se andar (ou se arrastar) por 42 km j\u00e1 \u00e9 tarefa dura para quem est\u00e1 em muito boa forma, visualize como \u00e9 correr esse peda\u00e7\u00e3o de ch\u00e3o!<\/p>\n
Alguns pareciam realmente esgotados, como se o corpo estivesse prestes a se derreter e aderir ao asfalto. Fiquei pensando: o que move uma pessoa a topar um desafio desses? Os atletas est\u00e3o pela competi\u00e7\u00e3o em si e vivem disso. Mas e aquele pessoal a um passo de ir para a UTI no meio da prova?<\/p>\n
Penso que essas pessoas querem provar que podem, para si, e talvez para os outros tamb\u00e9m. Mas acredito que uma disciplina desse tamanho tem que ter muita automotiva\u00e7\u00e3o, um entusiasmo genu\u00edno (n\u00e3o por acaso, entusiasmo significa “o deus dentro de si”). Porque disciplina n\u00e3o \u00e9 agrad\u00e1vel e nem natural para o ser humano. Quando ela vence a luta entre o desejo (o que o corpo, esse malandro sem vergonha,\u00a0est\u00e1 pedindo) e a vontade (os objetivos de mais longo prazo), a\u00ed a humanidade caminha para valer (ou corre, em alguns casos).<\/p>\n
E olha, podem dizer o que quiserem, mas disciplina s\u00f3 funciona mesmo quando h\u00e1 paix\u00e3o, fervor ou uma vontade muito, muito forte. \u00c9 um arrebatamento de verdade, n\u00e3o aquela coisa acomodada de “ah, que bom seria se eu tivesse uma barriga tanquinho<\/em>” enquanto se esparrama no sof\u00e1 com um Big Mac na m\u00e3o. \u00c9 um querer todo mai\u00fasculo, que empurra o vivente para fora da cama num dia gelado de chuva, mesmo quando o amor da sua vida est\u00e1 quentinho do seu lado. Olha, n\u00e3o \u00e9 para amadores, s\u00f3 posso dizer isso.<\/p>\n Meu respeito mais profundo a esse povo que sabe o que quer e vai muito, mas muito mais longe que os tais 42 km.<\/p>\n