<\/a><\/p>\n Dia desses dei uma entrevista<\/a> sobre design thinking<\/em> para uma revista de varejo e a jornalista perguntou sobre a economia e o lucro que a empresa poderia obter aplicando essa abordagem. Respondi, sem titubear, que nenhum profissional s\u00e9rio poderia responder a essa pergunta em termos absolutos. O design thinking<\/em> baseia-se no risco, n\u00e3o h\u00e1 como se ter garantias. Pode dar muito certo ou muito errado; como saber?<\/p>\n Foi o que bastou para disparar uma saraivada de e-mails malcriados vindos de todas as partes em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 minha caixa postal. Um dos que mais me chamou a aten\u00e7\u00e3o foi o de um designer reclamando que, depois de tanto tempo de luta, finalmente a profiss\u00e3o passou a ter seu merecido status. E eu estraguei tudo, pois \u00e9 \u00f3bvio que quem usa design sempre tem benef\u00edcios (seguiu-se, claro, a cl\u00e1ssica frase de que n\u00e3o devia dar palpites sobre isso, uma vez que sou engenheira e n\u00e3o designer).<\/p>\n Um outro escreveu indignado dizendo que era uma irresponsabilidade de minha parte afirmar uma coisa dessas, pois ele sempre garantia resultados em seus projetos e agora os clientes poderiam duvidar da t\u00e9cnica; o sujeito ainda cunhou a express\u00e3o anti-marketing<\/em> para descrever o que eu estava fazendo.<\/p>\n Um terceiro, pequeno empres\u00e1rio, disse que leu a entrevista todo empolgado, mas quando chegou nessa parte desistiu de aplicar o m\u00e9todo, uma vez que, no Brasil, h\u00e1 que se ter muito cuidado em aplicar dinheiro sem ter garantias concretas. E ainda me agradeceu por eu ter aberto os seus olhos (?!).<\/p>\n S\u00e9rio, n\u00e3o sei se fico mais triste pelos designers, que parecem n\u00e3o terem lido a entrevista (e se leram, n\u00e3o entenderam) ou pelo empres\u00e1rio, fadado a falir (se ele n\u00e3o queria correr riscos, por que abriu uma empresa?).<\/p>\n Lembrei disso porque essa semana li um texto sensacional da Helen Valters<\/a> no \u00f3timo Co.Design<\/a> (achei no twitter, para quem acha que l\u00e1 s\u00f3 tem BBB…) onde ela fala com todas as letras: “Design thinking n\u00e3o \u00e9 uma cura milagrosa: ele n\u00e3o vai salvar voc\u00ea<\/em>“. Mas depois do balde de \u00e1gua fria, ela emenda que ele pode ajudar, e muito.<\/p>\n A primeira coisa que Helen deixa claro (que parece ainda estar bastante confuso na cabe\u00e7a de alguns profissionais), \u00e9 que design thinking<\/em> n\u00e3o \u00e9 design. O design thinking<\/em> n\u00e3o substitui o trabalho que os designers normalmente fazem: \u00e9 preciso continuar projetando embalagens, marcas, produtos, sites, pe\u00e7as gr\u00e1ficas e por a\u00ed vai, da mesma maneira como os designers sempre fizeram.<\/p>\n O design thinking<\/em> \u00e9 uma ferramenta de inova\u00e7\u00e3o; \u00e9 uma abordagem predominantemente de gest\u00e3o, que se vale de t\u00e9cnicas que os designers usam para resolver problemas. A confus\u00e3o \u00e9 t\u00e3o grande, mesmo l\u00e1 na terra do Tim Brown, que Don Norman j\u00e1 chegou a dizer que design thinking<\/em> era um termo que deveria morrer para n\u00e3o causar mais estragos.<\/p>\n Por outro lado, o design thinking<\/em>, seja l\u00e1 com o nome que tiver, embute um potencial excepcional para ajudar organiza\u00e7\u00f5es, desde que elas n\u00e3o pensem que isso \u00e9 algum tipo de m\u00e1gica. O design thinking<\/em> \u00e9 um processo como qualquer outro. Precisa ser compat\u00edvel com a cultura da empresa e necessita trabalho \u00e1rduo para florescer e fazer parte do conjunto de ferramentas usadas na rotina de resolu\u00e7\u00e3o de problemas do dia-a-dia dos profissionais.<\/p>\n Minha opini\u00e3o \u00e9 que o design thinking<\/em> \u00e9 uma das ferramentas para se fazer a gest\u00e3o do design na empresa. Mas n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica e nem resolve automaticamente todos os problemas.<\/p>\n Dito isso, h\u00e1 que se considerar que o design thinking<\/em> \u00e9 \u00f3timo para fertilizar e nutrir ideias, basta lembrar que elas n\u00e3o nascem dentro de uma caixa preta. \u00c9 \u00fatil, principalmente, quando a empresa n\u00e3o tem designers entre seus l\u00edderes e n\u00e3o est\u00e1 mergulhada numa cultura de design consolidada. Um bom exemplo \u00e9 a Apple, que n\u00e3o usa formalmente o design thinking<\/em>, mas respira design por todos os poros; e olha que ela \u00e9 a empresa mais orientada ao design que se tem not\u00edcia.<\/p>\n Sim, design thinking<\/em> \u00e9 realmente um instrumento poderoso, que pode ajudar de verdade sua empresa inovar. Mas ainda assim \u00e9 apenas uma ferramenta, incluindo todos os poderes e limita\u00e7\u00f5es que qualquer ferramenta tem.<\/p>\n Ent\u00e3o, pessoas, \u00e9 isso. Design thinking<\/em> n\u00e3o \u00e9 super-her\u00f3i, n\u00e3o \u00e9 investimento com retorno garantido, n\u00e3o \u00e9 santo milagreiro, n\u00e3o \u00e9 artista da moda, n\u00e3o \u00e9 Viagra, n\u00e3o \u00e9 design de produto e tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 o santo padroeiro dos empres\u00e1rios desesperados.<\/p>\n Mesmo assim, se eu fosse voc\u00ea, apostaria.<\/p>\n ***<\/p>\n