![\"Sim,](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2012\/03\/DSCN0151.jpg\" "\\"DSCN0151\\"")
<\/a>Meu e-mail est\u00e1 parecendo consult\u00f3rio sentimental de r\u00e1dio popular; parece que as pessoas combinam os assuntos. Agora meus consulentes querem saber se podem usar piercing<\/em> e tatuagem no local de trabalho. A resposta n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o simples quanto parece, vamos l\u00e1.<\/p>\n As roupas, o corpo, a maneira como a gente se veste e se movimenta comunicam muito sobre o ser humano que est\u00e1 carregando isso tudo. A gente usa esses recursos para se expressar e se mostrar para o mundo; para marcar posi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n N\u00e3o custa lembrar, isso nada tem a ver com recursos financeiros. J\u00e1 cansei de falar aqui que uma das pessoas mais elegantes, dignas e com atitude profissional exemplar era uma varredora de rua que conheci; fin\u00edssima. E o programa “Mulheres Ricas<\/em>” est\u00e1 a\u00ed para provar que boas maneiras e eleg\u00e2ncia n\u00e3o est\u00e3o \u00e0 venda nas lojas para quem quiser compr\u00e1-las.<\/p>\n Pois \u00e9, ent\u00e3o nosso corpo \u00e9 uma ferramenta poderos\u00edssima para expressar quem a gente \u00e9 e o que pensa dessa baga\u00e7a toda; fato. Quando a pessoa faz uma tatuagem, h\u00e1 um monte de mensagens impl\u00edcitas e expl\u00edcitas sobre como ela v\u00ea o mundo (depende do desenho, do tamanho, do lugar, da quantidade, da postura e da roupa que vai junto, entre outras coisas).<\/p>\n Geralmente quem faz uma tatuagem agressiva, usa um alargador na orelha ou um piercing<\/em> no rosto, demonstra algum tipo de revolta com o estado vigente das coisas, algum inconformismo com as regras e “com tudo isso que est\u00e1 a\u00ed<\/em>“. \u00c9 tamb\u00e9m uma forma de se destacar na multid\u00e3o, de mostrar que \u00e9 diferente, de n\u00e3o ser “enquadrado” no sistema. Claro que essa \u00e9 uma interpreta\u00e7\u00e3o gen\u00e9rica e h\u00e1 quem fa\u00e7a tudo isso por uma quest\u00e3o est\u00e9tica, apenas porque acha bonito.<\/p>\n Bom, o ponto em que eu queria chegar \u00e9 que, quando a pessoa trabalha numa empresa, ela est\u00e1 sendo contratada para transmitir e compartilhar a identidade dessa empresa. E, como j\u00e1 cansei de falar aqui, a organiza\u00e7\u00e3o tem que ter um discurso coerente e bem encaixadinho para ajudar a construir uma imagem de credibilidade.<\/p>\n Pois ent\u00e3o. Se a identidade da empresa tamb\u00e9m \u00e9 de inconformismo, de mudan\u00e7a, de ousadia e de quebra de paradigmas, nada mais adequado do que contratar pessoas com um visual, digamos assim, mais alternativo. \u00c9 mais que coerente; \u00e9 desej\u00e1vel. Ficaria muito estranho um sujeito de terno azul marinho e gravata, todo lambidinho, trabalhando num est\u00fadio de tatuagem ou numa sex shop, por exemplo. Mas um juiz de bermud\u00e3o e com uma sereia na testa tamb\u00e9m n\u00e3o faz muito sentido (o trabalho dele \u00e9 fazer com que as regras\/leis sejam cumpridas; \u00e9 uma incoer\u00eancia da parte dele contest\u00e1-las).<\/p>\n Resumindo: empresas mais ousadas t\u00eam maior probabilidade de lidar bem com esses acess\u00f3rios; por outro lado, em organiza\u00e7\u00f5es mais conservadoras e totalmente adaptadas \u00e0s regras, um alargador do tamanho de uma argola de baiana do acaraj\u00e9 n\u00e3o se encaixa; \u00e9 um ru\u00eddo grave na sua comunica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Ent\u00e3o, a resposta \u00e9: estude seu cliente. A empresa compra a maior parte das suas horas e lhe contrata para ajud\u00e1-la a comunicar a identidade dela. Se todas as pe\u00e7as que ela distribui por a\u00ed forem ousadas e transgressoras, capriche no visual hardcore<\/em> e v\u00e1 firme para a entrevista.<\/p>\n Mas se ela parecer mais convencional ou voc\u00ea passou num concurso p\u00fablico (j\u00e1 sabia muito bem onde estava se metendo, n\u00e3o se fa\u00e7a de desentendido), h\u00e1 duas op\u00e7\u00f5es: ou voc\u00ea esconde as manifesta\u00e7\u00f5es mais radicais de sua arte corporal (n\u00e3o mata ningu\u00e9m; conhe\u00e7o um monte de gente que tira o piercing para trabalhar numa boa) ou reavalie se voc\u00ea quer mesmo trabalhar l\u00e1.<\/p>\n Talvez voc\u00ea e a empresa n\u00e3o tenham um conjunto suficiente de atributos comuns para garantir a sintonia e a conviv\u00eancia pac\u00edfica; acontece. Nesse caso, mude para outra que seja mais compat\u00edvel com sua identidade profissional. Quem contrata (no caso, o cliente) tem o direito de escolher como quer ser representado no mercado; quanto a isso, n\u00e3o h\u00e1 discuss\u00e3o.<\/p>\n E perceba que n\u00e3o tem ningu\u00e9m errado nessa hist\u00f3ria. \u00c9 s\u00f3 uma quest\u00e3o de adapta\u00e7\u00e3o a cada caso.<\/p>\n Curiosidade: tenho duas tatuagens antigas que s\u00e3o administradas conforme o cliente; na primeira reuni\u00e3o elas sempre est\u00e3o escondidas. Se tiver espa\u00e7o e for conveniente, a flor atr\u00e1s do pes\u00e7o\u00e7o e a borboleta no bra\u00e7o podem aparecer. Eu as fiz, primeiro, por quest\u00f5es est\u00e9ticas; mas confesso que elas fazem parte de minha hist\u00f3ria e tamb\u00e9m representam meu lado revoltadinho adolescente sim, n\u00e3o vou enganar voc\u00eas n\u00e3o….<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Meu e-mail est\u00e1 parecendo consult\u00f3rio sentimental de r\u00e1dio popular; parece que as pessoas combinam os assuntos. 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