![\"130_1_med\"](\"http:\/\/ligiafascioni.files.wordpress.com\/2009\/02\/130_1_med.jpg\" "\\"130_1_med\\"")
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Li em algum lugar um fil\u00f3sofo contempor\u00e2neo observar que as pessoas n\u00e3o est\u00e3o mais amadurecendo, que a inf\u00e2ncia est\u00e1 cada vez mais invadindo partes importantes da vida adulta e isso n\u00e3o est\u00e1 sendo bom para o planeta. Ele se referia mais especificamente aos americanos que continuam, na vida adulta, agindo como crian\u00e7as crescidas. Mas faz sentido para o mundo todo, olha s\u00f3.<\/p>\n
Crian\u00e7a s\u00f3 quer comer bobagem e, de prefer\u00eancia, muita, at\u00e9 n\u00e3o aguentar mais. Na falta de um adulto que controle a sua alimenta\u00e7\u00e3o, a vontade \u00e9 de almo\u00e7ar sorvete, jantar batata frita e preencher o resto do dia entupindo-se de balas, salgadinhos e biscoitos recheados. O paladar infantil ainda n\u00e3o est\u00e1 formado e, por isso, aprecia sabores simples, sem muitas nuances. Pois boa parte da por\u00e7\u00e3o considerada adulta da humanidade est\u00e1 comendo assim e o que se v\u00ea \u00e9 o aumento preocupante do percentual de obesos m\u00f3rbidos na popula\u00e7\u00e3o. Ruim pra todo mundo.<\/p>\n
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Crian\u00e7a quer tudo que v\u00ea. Se mal educada, inferniza a vida dos pais at\u00e9 conseguir o tal trenzinho. N\u00e3o sabe esperar, n\u00e3o sabe planejar, n\u00e3o tem paci\u00eancia, n\u00e3o conhece o valor do dinheiro. Adultos-crian\u00e7as tamb\u00e9m n\u00e3o esperam: fazem malabarismos com o cart\u00e3o de cr\u00e9dito, endividam-se por v\u00e1rias gera\u00e7\u00f5es, compram compulsivamente bobagens como se tivessem acabado de ganhar um dinheirinho da vov\u00f3. Resultado? A crise em escala global no mercado financeiro est\u00e1 a\u00ed mesmo para quem quiser ver, resultado de gente que comprou e n\u00e3o conseguiu pagar.<\/p>\n
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Para crian\u00e7as muito pequenas, o universo se resume \u00e0 sua casa e \u00e0 sua fam\u00edlia. O centro de tudo \u00e9 o seu lindo umbiguinho. Elas n\u00e3o t\u00eam no\u00e7\u00e3o de que existem outras pessoas, outras necessidades, outras realidades. Tudo o que querem \u00e9 aten\u00e7\u00e3o exclusiva, que o mundo gire ao redor delas. Pois gente portadora de superumbigos e hipnotizada pela pr\u00f3pria imagem no espelho \u00e9 o perfil mais comum de se encontrar hoje em dia. Reflexos no tr\u00e2nsito, no consumo, no comportamento e nos relacionamentos podem ser vistos em todo lugar.<\/p>\n
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Quando muito novinhas, as crian\u00e7as t\u00eam dificuldade de se concentrar em um assunto por muito tempo. Encantam-se pela bola vermelha, mas tudo \u00e9 muito novo e interessante; logo acham uma caixa amarela que as fascina, e ent\u00e3o a trocam por uma chave azul bem vistosa. Depois de uma tarde de descobertas, cansam-se de tanta novidade. Irritam-se e choram. Na falta de um colo de m\u00e3e, d\u00e1-lhe Prozac. Est\u00e1 reconhecendo o padr\u00e3o?<\/p>\n
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O resultado dessa superpopula\u00e7\u00e3o de crian\u00e7as crescidas \u00e9 um mundo violento, doente, cansado e entediante para uma boa parte das pessoas. Mas ser um adulto maduro, respons\u00e1vel e equilibrado \u00e9 t\u00e3o chato. Ser\u00e1 que n\u00e3o d\u00e1 para conservar nem um pouco de infantilidade, s\u00f3 para variar?<\/p>\n
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De todos os comportamentos infantis, penso que o menos nocivo na vida adulta \u00e9 o h\u00e1bito de colecionar brinquedos. Dizem, inclusive, que a gente nunca para de gostar de brinquedos, o pre\u00e7o deles \u00e9 que vai aumentando com a idade. \u00c9 claro que h\u00e1 brinquedos menos inocentes (e mais caros) como armas, barcos, carros e motos(uhuuu!!), onde a pessoa realmente brinca com eles, interage, e \u00e0s vezes faz at\u00e9 besteira quando deixa sua crian\u00e7a interior emergir sem o devido controle.<\/p>\n
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Mas h\u00e1 brinquedos com os quais n\u00e3o se brinca, e mesmo assim trazem uma certa nostalgia, uma sensa\u00e7\u00e3o de seguran\u00e7a conhecida, um sentimento inexplic\u00e1vel de retorno a um mundo de hist\u00f3rias fant\u00e1sticas. S\u00e3o miniaturas, itens colecion\u00e1veis, barbies e, mais recentemente, toy-arts.<\/p>\n
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Esses \u00faltimos, em particular, servem para o indiv\u00edduo mostrar ao mundo de um jeito mais ou menos discreto como ele \u00e9 bem-humorado, irreverente, provocador, divertido, transgressor, imposs\u00edvel. Para alguns traz conforto, para outros \u00e9 auto-afirma\u00e7\u00e3o, para todos significa mais cor e criatividade na sua vida. H\u00e1 modelos e pre\u00e7os para os mais variados tipos de crian\u00e7as grandes (aten\u00e7\u00e3o, toy-arts n\u00e3o s\u00e3o para crian\u00e7as pequenas. Aiaiai, n\u00e3o mexe a\u00ed que o tio briga!).<\/p>\n
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Com esses pequenos objetos a pessoa pode expressar suas id\u00e9ias, sua personalidade, seus talentos, seu jeito de ver o mundo. Pode at\u00e9 mesmo construir os seus pr\u00f3prios modelos e trocar com amigos, pode descobrir seu lado artista. \u00c9 um h\u00e1bito que traz \u00e0 tona o lado infantil sem prejudicar ningu\u00e9m, sem provocar riscos ou efeitos colaterais. H\u00e1 modelos que j\u00e1 adquiriram o status de arte e s\u00e3o disputados em leil\u00f5es, e outros reciclados e ecologicamente corretos para os mais engajados.<\/p>\n
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Ta\u00ed. Para quem n\u00e3o acha que \u00e9 suficiente rir, brincar e ser curioso para alimentar a crian\u00e7a dentro de si, que tal deixar todos os h\u00e1bitos funestos de lado e passar a colecionar toy-arts? Ir\u00edamos ter adultos maduros e interessantes sem perder o charme da inoc\u00eancia infantil.<\/p>\n
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N\u00e3o seria esse um bom jeito de come\u00e7ar a mudar o mundo?<\/p>\n
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L\u00edgia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br<\/a><\/p>\n