<\/a>Desde a primeira vez que pus os olhos sobre “Die Analphabetin<\/em>“, da Agota Kristof (j\u00e1 resenhei outros livros dela aqui<\/a> e aqui<\/a>), foi encantamento \u00e0 primeira vista. \u00c9 que agora, conseguindo ler um pouco em alem\u00e3o, j\u00e1 me sinto uma semi-analfabeta. Mas quando cheguei aqui, h\u00e1 quase um ano, a sensa\u00e7\u00e3o de ver as placas nas ruas, propagandas e vitrines era exatamente essa. Olha, posso garantir que n\u00e3o \u00e9 nada agrad\u00e1vel.<\/p>\n

Agota \u00e9 h\u00fangara e teve que fugir de seu pa\u00eds aos 21 anos quando o leste europeu ficou sob o dom\u00ednio da antiga Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica. A travessia da fronteira com a \u00c1ustria foi dram\u00e1tica, pois ela e o marido levavam a filha de 4 meses; tiveram que caminhar pela floresta escura \u00e0 noite e quase se perderam. Foram recebidos em um acampamento para refugiados e depois enviados para a Su\u00ed\u00e7a francesa, para trabalhar numa f\u00e1brica. As dificuldades de adapta\u00e7\u00e3o foram imensas; tanto que, do seu grupo, 4 pessoas se suicidaram porque n\u00e3o conseguiram suportar a saudade, a solid\u00e3o e o desespero de n\u00e3o entender a l\u00edngua, e duas se arriscaram a voltar \u00e0 Hungria, mesmo sabendo que seriam condenadas e presas caso conseguissem chegar. Muito triste.<\/p>\n

Agota demorou 5 anos para falar franc\u00eas com flu\u00eancia e outros 2 para ler\/escrever. Isso foi realmente dif\u00edcil, pois a mo\u00e7a praticamente suportou todas as dificuldades da guerra e da vida porque amava ler e escrever. Hoje j\u00e1 publicou v\u00e1rios livros, encenou pe\u00e7as, escreveu novelas e participou de saraus no pa\u00eds que a acolheu e na l\u00edngua com a qual agora possui mais intimidade.<\/p>\n

Mas Agota admite que sua rela\u00e7\u00e3o com o franc\u00eas \u00e9 complexa; o idioma acaba afogando e matando aos poucos sua l\u00edngua natal, o h\u00fangaro, pois ela quase n\u00e3o tem mais com quem falar.<\/p>\n

Pensei bastante a esse respeito. Imagino que v\u00e1 levar pelo menos uns 5 anos para ser fluente e minimamente segura no alem\u00e3o; um dos motivos pelos quais meu aprendizado tem sido lento \u00e9 porque n\u00e3o estou completamente imersa. S\u00f3 convivo com estrangeiros e escrevo todos os dias em portugu\u00eas; \u00e9 uma forma de n\u00e3o perder o contato com minha l\u00edngua querida, mas realmente dificulta a imers\u00e3o.<\/p>\n

V\u00e1 l\u00e1, vou demorar mais um pouco, mas estou disposta a pagar o pre\u00e7o, pois, assim como a Agota, escrever \u00e9 uma das coisas que mais amo fazer na vida (meu sonho \u00e9 viver disso). E, escrever num alem\u00e3o perfeito, com a desenvoltura e o conforto que tenho na minha l\u00edngua m\u00e3e, acho que s\u00f3 morrendo e nascendo de novo na terra de Goethe…<\/p>\n

N\u00e3o encontrei a vers\u00e3o em portugu\u00eas, mas h\u00e1 v\u00e1rias em espanhol (que d\u00e1 para ler tranquilamente). Recomendo.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Desde a primeira vez que pus os olhos sobre “Die Analphabetin”, da Agota Kristof, foi encantamento \u00e0 primeira vista. \u00c9 que agora, conseguindo ler um pouco em alem\u00e3o, j\u00e1 me sinto uma semi-analfabeta. Mas quando cheguei aqui, h\u00e1 quase um ano, a sensa\u00e7\u00e3o de ver as placas nas ruas, propagandas e vitrines era exatamente essa. Olha, posso garantir que n\u00e3o \u00e9 nada agrad\u00e1vel.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":15312,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[50,24,25,75,49],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15310"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=15310"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15310\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":24285,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15310\/revisions\/24285"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=15310"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=15310"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=15310"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}