<\/a><\/p>\n

J\u00e1 \u00e9 a terceira vez essa semana que leio coment\u00e1rios de diferentes pessoas nas redes sociais reclamando que algu\u00e9m roubou sua ideia e ficou rico. \u201cFulano pegou a minha ideia e agora est\u00e1 ganhando um monte de dinheiro<\/em>\u201d brada um revoltado; \u201cdei uma ideia na sala de aula, um colega pegou e montou um neg\u00f3cio; nem se lembrou de me pagar<\/em>\u201d reclama outro; \u201cj\u00e1 estou de saco cheio de ter neguinho ganhando dinheiro nas minhas costas, \u00e0s custas das minhas ideias<\/em>\u201d, finaliza uma terceira.<\/p>\n

Mas, gente, ter ideias \u00e9 a parte mais f\u00e1cil e prazerosa. \u00c9 como fazer sexo, sabe? Algumas pessoas t\u00eam um talento natural para a coisa; outras preocupam-se em desenvolver t\u00e9cnicas, empenham-se, praticam bastante e conseguem excelentes resultados. H\u00e1 aqueles que d\u00e3o at\u00e9 uma ajudinha para a natureza e outros que levam a coisa t\u00e3o a s\u00e9rio que viram amantes profissionais. Mas \u00e9 isso. N\u00e3o d\u00e1 para achar que o mundo lhe deve algo por causa desse \u201cesfor\u00e7o\u201d.<\/p>\n

Uma ideia, sem sua materializa\u00e7\u00e3o, n\u00e3o \u00e9 nada. Na verdade \u00e9: prazer, brincadeira, exerc\u00edcio, intera\u00e7\u00e3o. Mas a materializa\u00e7\u00e3o \u00e9 que cria o fato e talvez (apenas talvez) gere riqueza.<\/p>\n

Ter ideias e n\u00e3o lev\u00e1-las adiante \u00e9 como ter filhos e larg\u00e1-los pelo mundo. A parte chata, de empreender, \u00e9 justamente aquela que ningu\u00e9m quer: arranjar dinheiro para alimentar o nen\u00e9m e faz\u00ea-lo crescer; passar as noites em claro quando as coisas n\u00e3o v\u00e3o bem; coloc\u00e1-lo na escola e lev\u00e1-lo ao m\u00e9dico; reunir um time de profissionais que v\u00e3o da professora de ingl\u00eas at\u00e9 o pediatra e bancar os gastos; aguentar as crises da adolesc\u00eancia; velar 24 horas por dia, com todo cuidado, carinho e amor durante anos. Isso tudo sem ter a m\u00ednima garantia que vai dar em alguma coisa. Pode surgir da\u00ed um Paul McCartney ou um Barak Obama. Ou uma Apple. Mas tamb\u00e9m pode ser uma Amy Winehouse. Ou o fulaninho que voltou do interc\u00e2mbio sem aprender nada. N\u00e3o h\u00e1 como saber.<\/p>\n

Os investidores (pais e m\u00e3es) n\u00e3o podem adotar todas as crian\u00e7as do mundo abandonadas por pais prol\u00edficos em ideias, mesmo que sejam muito ricos. Precisam escolher onde v\u00e3o apostar toda sua dedica\u00e7\u00e3o, pois sabem que o risco \u00e9 alt\u00edssimo e parte importante do resultado vai depender do quanto v\u00e3o se empenhar de verdade na tarefa.<\/p>\n

A\u00ed v\u00eam os pais biol\u00f3gicos, que s\u00f3 participaram na hora da festa, e querem ser chamados de pais da crian\u00e7a quando a coisa d\u00e1 certo?<\/p>\n

Ah, mas se n\u00e3o fosse a minha ideia o neg\u00f3cio n\u00e3o teria <\/em>nem nascido<\/em>. N\u00e3o pensam que sem o investidor que adotou o rebento, o pobre\u00a0teria\u00a0morrido de inani\u00e7\u00e3o ainda no ber\u00e7o. N\u00e3o querem dividir os preju\u00edzos quando o neg\u00f3cio n\u00e3o d\u00e1 certo, n\u00e3o querem trocar fraldas quando precisa. N\u00e3o querem correr o risco de investir seu precioso tempo na tal ideia esplendorosa. N\u00e3o t\u00eam paci\u00eancia para cuidar de crian\u00e7as, mas querem colher os frutos do sucesso alheio.<\/p>\n

Ah, v\u00e1. Ficam fazendo filhos, abandonam por a\u00ed para os outros criarem e ainda querem ter direitos.<\/p>\n

N\u00e3o t\u00eam n\u00e3o, viu? No m\u00e1ximo, uma bolsa fam\u00edlia.<\/p>\n

E olhe l\u00e1.<\/p>\n

NOTA: Estou falando de IDEIAS, aquelas coisas et\u00e9reas que andam pelo ar e mais de uma pessoa pode ter. N\u00e3o falei em roubar PROJETOS, ok?<\/p>\n

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