O ser humano \u00e9 prioritariamente visual, pois olhos acurados s\u00e3o muito importantes para a sobreviv\u00eancia desde que o mundo \u00e9 mundo. Os outros sentidos funcionam quase como coadjuvantes: importantes sim, mas nem de longe, \u201co cara\u201d. A primeira coisa bacana \u00e9 descobrir que o comportamento dos animais \u00e9 completamente controlado pelo cheiro. Experimentos com camudongos (acredite ou n\u00e3o, eles t\u00eam o sistema olfativo muito semelhante ao nosso) mostram que eles s\u00f3 s\u00e3o capazes de distinguir o sexo das camundongas pelo cheiro, mesmo contra todas as outras evid\u00eancias (uns verdadeiros Ronaldinhos). Medo, agressividade, viol\u00eancia? Tire o olfato do ratinho e veja-o tentando brincar com um gato mal intencionado \u2013 ele perde completamente a no\u00e7\u00e3o do perigo. As formigas chegam a tentar enterrar uma colega s\u00f3 porque ela foi borrifada com cheiro de formiga morta. O cheiro, para elas, \u00e9 mais forte do que os protestos e esperneios da suposta moribunda.<\/p>\n Nos humanos, os pesquisadores descobriram que mulheres que moram juntas sincronizam o ciclo menstrual pelos odorantes naturais do suor das axilas. Esse mesmo cheiro faz com que um beb\u00ea reconhe\u00e7a a sua m\u00e3e e que voc\u00ea simpatize ou n\u00e3o com um pretendente.<\/p>\n Um aspecto que eu nunca tinha pensado \u00e9 que, para uma coisa ser cheirada, ela tem que se doar, isso \u00e9, uma parte dela tem que evaporar na forma de pequenas part\u00edculas para chegar at\u00e9 os neur\u00f4nios olfativos (isso mesmo, neur\u00f4nios!) que ficam atr\u00e1s do nariz. \u00c9 por isso que os metais n\u00e3o t\u00eam cheiro de nada; eles n\u00e3o evaporam em forma de mol\u00e9culas vol\u00e1teis, portanto, a gente n\u00e3o tem como senti-los.<\/p>\n Os neur\u00f4nios respons\u00e1veis pelo olfato s\u00e3o os \u00fanicos que t\u00eam contato direto com o ar. E a \u00e1rea da mucosa olfativa dos c\u00e3es \u00e9 20 vezes maior que a nossa, mas eles t\u00eam menos capacidade de processamento desses sinais. Assim, esses bichos fofos s\u00e3o imbat\u00edveis para detectar cheiros, mas s\u00f3 n\u00f3s conseguimos associar lembran\u00e7as, emo\u00e7\u00f5es e hist\u00f3rias inteiras a um mero galhinho de alecrim ou alfazema.<\/p>\n Os neur\u00f4nios olfativos tamb\u00e9m s\u00e3o os respons\u00e1veis pelo paladar. Nossa pobre l\u00edngua s\u00f3 detecta doce, salgado, azedo e amargo, al\u00e9m do umani (glutamato de s\u00f3dio, aquele do tempero Ajinomoto). Ent\u00e3o, para n\u00f3s, doce de leite ou chocolate teriam o mesmo gosto se os seus cheiros n\u00e3o fossem t\u00e3o diferentes e elaborados. Quando a gente mastiga, uma parte das mol\u00e9culas vol\u00e1teis da comida v\u00e3o l\u00e1 no fundo do nariz para seduzir nossos sensores olfativos. \u00c9 por isso que, com gripe e nariz entupido, temos a impress\u00e3o que toda comida tem o mesmo gosto. N\u00e3o \u00e9 impress\u00e3o.<\/p>\n No livro tem muitas outras coisas interessant\u00edssimas que dev\u00edamos levar em considera\u00e7\u00e3o e estudar mais a fundo. Afinal, o marketing sensorial parte do pressuposto que devemos envolver o consumidor com todos os sentidos. Uma ferramenta poderosa assim n\u00e3o deveria ser relegada ao segundo plano sem nem ao menos a gente conhec\u00ea-la direito, n\u00e9?<\/p>\n E vou ficando por aqui porque sinto que o caf\u00e9 j\u00e1 est\u00e1 pronto…<\/p>\n
\nPara mim, que exercito os olhos mais do que tudo, como todo mundo, o outro sentido que vem logo em seguida \u00e9 o olfato. Por isso, senti-me irremediavelmente atra\u00edda por \u201cO cheiro das coisas \u2014 o sentido do olfato: paladar, emo\u00e7\u00f5es e comportamento<\/strong><\/em>\u201d, de Betina Malnic. Apesar da autora ser uma sumidade no assunto (essa professora da USP fez seu p\u00f3s-doutorado em Harvard sob orienta\u00e7\u00e3o da ganhadora do pr\u00eamio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2004, Linda Buck), sua linguagem \u00e9 simples, interessante e perfeitamente acess\u00edvel para n\u00f3s, simples mortais com narizes comuns.<\/p>\n