![\"IMG_4126\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2015\/07\/IMG_4126.jpg\")
<\/a><\/p>\nAcabei de ler “Diebe der Sch\u00f6neheit<\/em>“, de Pascal Bruckner e, olha, posso dizer que gostei. N\u00e3o foi t\u00e3o f\u00e1cil de ler porque n\u00e3o \u00e9 um livro de a\u00e7\u00e3o \u00a0(aqui os personagens pensam e filosofam) e as\u00a0limita\u00e7\u00f5es com o alem\u00e3o certamente me fizeram perder algumas sutilezas da escrita. Mas a hist\u00f3ria \u00e9 fascinante, a ponto de me deixar impressionada. A boa not\u00edcia \u00e9 que andei pesquisando e a obra j\u00e1 existe em portugu\u00eas, com o t\u00edtulo “Ladr\u00f5es de beleza<\/em>“.<\/p>\n Benjamin \u00e9 um sujeito meio sem escr\u00fapulos, preocupado basicamente com sua sobreviv\u00eancia e bem-estar. N\u00e3o \u00e9 um mau car\u00e1ter, mas digamos que lhe falta um pouco de empatia. Por conta de um romance que\u00a0ele escreve na forma de\u00a0um mosaico de\u00a0frases roubadas de autores c\u00e9lebres, acaba conhecendo Hel\u00e8ne, uma \u00a0parisiense jovem, rica\u00a0e\u00a0entusiasmada com o melhor que a vida pode oferecer. Ela praticamente adota Benjamin: compra-lhe roupas caras, ensina-o a apreciar bons vinhos e comidas, enfim, mima at\u00e9 n\u00e3o poder mais o mo\u00e7o, que est\u00e1 sempre entediado.<\/p>\n Eis que os dois est\u00e3o voltando de um fim de semana nos Alpes e ficam presos na estrada por causa de uma tempestade de neve, perto de um vilarejo ermo. S\u00e3o socorridos pelo mordomo de um casar\u00e3o pr\u00f3ximo e a\u00ed come\u00e7a o conto de horror.<\/p>\n *** Aten\u00e7\u00e3o: daqui em diante tem spoiler. Se quiser ler\u00a0o livro pare aqui<\/em> ***<\/p>\n O casal de propriet\u00e1rios \u00e9 louco de pedra, ajudado pelo mordomo corcunda, fiel servi\u00e7al. A mulher, professora de filosofia, que teve uma juventude devassa e prom\u00edscua em busca de um sentido para a vida, \u00e9 a chefe da quadrilha. Ela domina o marido, um advogado aposentado bem sucedido, e o mordomo. Juntos, eles constroem por\u00f5es onde mant\u00eam presas as jovens mais belas que conseguem encontrar.<\/p>\n A ideia \u00e9 que gente bonita (serve para homens tamb\u00e9m, mas eles s\u00e3o mais dif\u00edceis de capturar) \u00e9 culpada pelas outras pessoas se sentirem feias. Eles investigam a vida das eleitas e escolhem aquelas que usam a pr\u00f3pria beleza para, de alguma forma, usar as outras pessoas. Fazem um tribunal pr\u00f3prio, sem que as “culpadas” tenham a menor chance de se defender, escolhem as v\u00edtimas, sequestram e as trancam por um ou dois anos, at\u00e9 que a beleza murche completamente e dela n\u00e3o sobre mais nada. As mo\u00e7as ficam no escuro, sozinhas, sem nenhuma informa\u00e7\u00e3o, refer\u00eancia de tempo e nem o motivo pelo qual est\u00e3o presas. Um belo dia, quando est\u00e3o feias o suficiente, s\u00e3o devolvidas ao mundo completamente destru\u00eddas (e, na maioria dos casos, desequilibradas mentalmente tamb\u00e9m). \u00a0Fiquei especialmente impressionada com a crueldade dessa descri\u00e7\u00e3o, cheguei at\u00e9 a sonhar com isso.<\/p>\n O casal acaba sendo v\u00edtima do trio e n\u00e3o consegue fugir. N\u00e3o porque sejam modelos de beleza, mas porque acabam conhecendo o segredo. O acordo para que sobrevivam \u00e9 que Hel\u00e8ne seja mantida presa e que Benjamin viaje at\u00e9 Paris com o mordomo para capturar tr\u00eas exemplares de beldades.<\/p>\n Passam-se meses, e a coisa s\u00f3 piora. No final, Benjamin ainda descobre que os malucos s\u00e3o t\u00e3o bem conservados porque o cheiro das mo\u00e7as \u00e9 rejuvenescedor (achei um pouco desnecess\u00e1ria essa alus\u00e3o sutil ao “O perfume” de Patrick Suskind).<\/p>\n Benjamin conta a hist\u00f3ria toda para uma jovem m\u00e9dica psiquiatra que est\u00e1 fazendo plant\u00e3o num hospital em Paris que fica intrigada com tudo. Ela consegue conferir e confirmar algumas pistas; o que ele conta parece ser verdade, mas n\u00e3o h\u00e1 muito como ajudar. Quando ela visita o casar\u00e3o, tudo parece abandonado.<\/p>\n —–<\/p>\n