Num dos cursos de inova\u00e7\u00e3o que tenho ministrado no Brasil, um dos participantes perguntou se eu acreditava que, de fato, qualquer pessoa podia ser mesmo criativa, ou se isso era s\u00f3 moda para vender cursos e palestras.<\/p>\n

Pergunta \u00f3tima.<\/p>\n

Acredito que qualquer pessoa pode ser criativa tanto quanto acredito que qualquer pessoa pode correr uma maratona. \u00c9 claro que algumas t\u00eam mais predisposi\u00e7\u00e3o que outras do ponto de vista gen\u00e9tico, mas o que vai realmente fazer a diferen\u00e7a \u00e9 quanto se investe em treinamento. A pr\u00e1tica di\u00e1ria, o condicionamento, \u00e9 que define se algu\u00e9m consegue correr uma maratona inteira ou se mal d\u00e1 uma volta ao redor da quadra. Quem tem facilidade, mas corre muito raramente, vai ficar atr\u00e1s de algu\u00e9m com menos talento, mas que treina com afinco todo dia. Certeza.<\/p>\n

A criatividade \u00e9 uma pr\u00e1tica como outra qualquer, que implica em combinar ideias de maneira original. \u00c9 como cozinhar, escrever, desenhar, programar, dan\u00e7ar: quanto mais se exercita, mais se chega perto da excel\u00eancia.<\/p>\n

A quest\u00e3o \u00e9 que a maior parte das pessoas costuma pensar no autom\u00e1tico a maior parte do tempo e, de um dia para o outro, sem aviso pr\u00e9vio, quer correr 10 km num sprint. Simplesmente n\u00e3o rola. N\u00e3o adianta fazer um curso bacana com facilitador internacional se o sujeito volta para casa e continua fazendo tudo exatamente igual a antes. N\u00e3o faz diferen\u00e7a\u00a0quantos post-its tenham sido preenchidos e colados na parede ou que t\u00e9cnicas revolucion\u00e1rias do Vale do Sil\u00edcio tenham sido apresentadas;\u00a0pode acreditar.\u00a0Sem\u00a0praticar\u00a0diariamente, n\u00e3o tem jeito.<\/p>\n

Ok, mas como praticar a criatividade todo dia?<\/p>\n

Bom, o primeiro passo \u00e9 entender que a criatividade usa os ingredientes que j\u00e1 temos dentro do nosso repert\u00f3rio (tudo aquilo que aprendemos, vivenciamos, sentimos) como mat\u00e9ria-prima. Se nosso repert\u00f3rio tem poucos elementos, \u00e9 matematicamente f\u00e1cil de provar, por an\u00e1lise combinat\u00f3ria, que teremos s\u00e9rias limita\u00e7\u00f5es para fazer alguma coisa realmente original (at\u00e9 porque, provavelmente, esses elementos tamb\u00e9m fazem parte do repert\u00f3rio da maioria das pessoas). N\u00e3o d\u00e1 para fazer 20 pratos criativos usando apenas arroz, feij\u00e3o e bife, entende?<\/p>\n

Ok, mas por que preciso de tantas combina\u00e7\u00f5es? Por que n\u00e3o posso gerar uma ideia s\u00f3, com dois elementos e ser a grande e genial solu\u00e7\u00e3o para meu problema?<\/p>\n

Simples: porque para termos uma grande ideia, \u00e9 preciso que tenhamos muitas, mas muitas ideias mesmo. Dezenas, de prefer\u00eancia. Centenas at\u00e9, se poss\u00edvel.<\/p>\n

\u00c9 que se voc\u00ea precisa conceber uma ideia para um problema qualquer, as primeiras 10 ou 20 coisas que lhe vierem \u00e0 mente, v\u00e3o ser as mais \u00f3bvias, que algu\u00e9m j\u00e1 deve ter pensado. As pr\u00f3ximas 50 v\u00e3o ser menos evidentes, mas n\u00e3o t\u00e3o sensacionais. A j\u00f3ia estar\u00e1 provavelmente nas 10 ou 20 \u00faltimas. E n\u00e3o d\u00e1 para cortar caminho.<\/p>\n

A maior parte das pessoas n\u00e3o tem ideias originais porque se apaixona perdidamente pela segunda ou terceira, no m\u00e1ximo. Quase ningu\u00e9m tem paci\u00eancia de chegar na nonag\u00e9sima. E \u00e9 l\u00e1 que est\u00e1 a diferen\u00e7a; a grande solu\u00e7\u00e3o nasce depois que seu c\u00e9rebro virou do avesso (mesmo que inconscientemente). Ou depois que j\u00e1 combinou exaustivamente todo o seu repert\u00f3rio com os de outras pessoas (\u00e9 preciso muitos ingredientes para gerar tanta ideia, por isso \u00e9 bom contar com extens\u00f5es).<\/p>\n

Ent\u00e3o, para ser criativo, a gente precisa:<\/p>\n

\n
1. ter um repert\u00f3rio bem rico e conectado com o de outras pessoas;<\/li>\n
2. exercitar a combina\u00e7\u00e3o desses elementos, ou seja, exercitar a idea\u00e7\u00e3o;<\/li>\n
3. ter paci\u00eancia e n\u00e3o se apaixonar pelas primeiras ideias.<\/li>\n<\/ol>\n

   Parece f\u00e1cil, mas cada um desses itens \u00e9, sozinho, um gigantesco desafio.<\/p>\n

   \u00c9 por isso que h\u00e1 t\u00e3o poucos atletas da criatividade: a princ\u00edpio, qualquer pessoa que tenha um par de pernas funcionando pode correr uma maratona. O potencial existe, mas s\u00f3 acontece de verdade para quem realmente se dedica e treina a s\u00e9rio.<\/p>\n

    <\/p>\n

   DICA PARA O NATAL: Ter 100 ideias \u00e9 muito mais dif\u00edcil do que parece, mas \u00e9 importante praticar. Uma vez quis dar um presente realmente original para meu marido e fiz uma lista das 100 coisas que gostava nele. Tente fazer isso em casa, \u00e9 dific\u00edlimo. Levei mais de um m\u00eas para completar a lista. As 20 primeiras foram f\u00e1ceis, depois come\u00e7ou a exigir mais dedica\u00e7\u00e3o. Se voc\u00ea conseguir produzir uma lista dessas para algu\u00e9m, case com a pessoa\u00a0imediatamente. Sim, \u00e9 uma dica matadora para um presente de natal inesquec\u00edvel, mas comece logo, pois demora. Vai por mim! \ud83d\ude42<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

   Ser\u00e1 que todo mundo \u00e9 capaz de ser criativo de verdade, ou isso \u00e9 s\u00f3 moda para vender cursos e palestras? Ser\u00e1 que a criatividade n\u00e3o est\u00e1 reservada a quem tem mais aptid\u00e3o? Essa pergunta me foi feita num curso. Veja o que respondi.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":23398,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[45,46,23,35,60,57,99],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2016\/12\/IMG_5956.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23397"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=23397"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23397\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":24489,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23397\/revisions\/24489"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/23398"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=23397"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=23397"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=23397"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}