Semana passada aproveitei os dias feios para revisitar alguns museus e, apesar de n\u00e3o ser especialmente f\u00e3 de arte moderna e contempor\u00e2nea, gosto muito do Hamburger Bahnhof Museum<\/a>. N\u00e3o havia nada de muito especial dessa vez: uma exposi\u00e7\u00e3o interessante, por\u00e9m, longe de ser inesquec\u00edvel, da artista turca\u00a0G\u00fcls\u00fcn Karamustafa, algumas instala\u00e7\u00f5es enigm\u00e1ticas e v\u00eddeos diversos que, confesso, ainda n\u00e3o tenho capacidade de compreender e apreciar completamente. Restou-me ent\u00e3o encantar-me novamente com o acervo, onde est\u00e3o as\u00a0obras de meus artistas preferidos nesse museu: Andy Warhol e Roy Lichtenstein.<\/p>\n

Na volta, \u00e9 claro que fiquei um temp\u00e3o na loja do museu, uma das livrarias de arte mais completas que j\u00e1 conheci. \u00c9 tanta coisa bacana que n\u00e3o me envergonho de dizer que compete com o pr\u00f3prio museu em termos de entretenimento. Poderia passar o dia todo folheando todos aqueles livros maravilhosos. A\u00ed, num cantinho, tinha uma caixa (dica: sempre tem uma caixa dessas!) com pechinchas imperd\u00edveis\u00a0de livros que t\u00eam alguma imperfei\u00e7\u00e3o na capa\u00a0ou encaderna\u00e7\u00e3o\u00a0(muitas vezes, devido ao manuseio descuidado dos clientes). Pois l\u00e1 achei, por m\u00edseros \u20ac3.00, o sensacional “This is Andy Warhol<\/strong><\/a>“, escrito pela historiadora de arte brit\u00e2nica Catherine Ingram e ilustrado belamente por Andrew Rae. O pre\u00e7o original de capa \u00e9 US$ 15.95 e vale mesmo.<\/p>\n

O livro come\u00e7a com a inf\u00e2ncia do famoso artista pop, quando sua m\u00e3e, a desenhista e ilustradora, Julia Warhola, lhe presenteava com\u00a0seu chocolate favorito cada vez que ele fazia um retrato para ela; por isso, ela apelidou-o de Candy Andy (candy=doce). Ali\u00e1s, segundo ele, em casa todos desenhavam o tempo todo. Ele mais ainda, uma vez que passou a inf\u00e2ncia toda doente de cama, principalmente nas f\u00e9rias de ver\u00e3o. Andy\u00a0era obcecado por hist\u00f3rias em quadrinhos, pin-ups e revistas de moda e celebridades. Estudou artes na Carnegie Tech e, no \u00faltimo ano, para ajudar a pagar as mensalidades, fazia vitrines que eram o maior sucesso para lojas de departamentos; nessa \u00e9poca, tornou-se um ilustrador comercial dos mais bem-sucedidos da hist\u00f3ria. Ele adorava dan\u00e7ar e, no auge da carreira, chegou a declarar que nunca quis ser pintor; na verdade, sempre sonhou em ser sapateador. Pessoa com m\u00faltiplos talentos, produziu a famosa banda Velvet Underground, editou uma revista chamada Interview, fez v\u00eddeos, escreveu livros, enfim, n\u00e3o sofreu de t\u00e9dio, com certeza.<\/p>\n

Em New York, morou anos em uma casa de 4 pavimentos com sua m\u00e3e e 25 gatos siameses; todos chamavam-se Sam, exceto um, que chamava-se Hester. Inteligent\u00edssimo, Andy era tamb\u00e9m um g\u00eanio do marketing; seu senso de oportunidade e talento para os neg\u00f3cios fez com que seu est\u00fadio, n\u00e3o por acaso chamado Factory (F\u00e1brica) fosse um dos mais lucrativos que se tem not\u00edcia (usar silkscreem para aumentar a tiragem das telas tamb\u00e9m foi uma inova\u00e7\u00e3o sua). A ideia de fazer retratos de celebridades foi mais uma de suas ideias com retorno financeiro alt\u00edssimo; uma das mais famosas, a de Marylin Monroe, foi feita logo ap\u00f3s sua morte, para aproveitar o frisson causado pela not\u00edcia (e funcionou!). O retrato de Mao tamb\u00e9m foi resultado do assunto do momento nos jornais, quando Nixon visitou a China.<\/p>\n

Ele n\u00e3o devia ser uma pessoa f\u00e1cil: vaidoso, temperamental, imprevis\u00edvel e cercado de pessoas igualmente inst\u00e1veis emocionalmente, foi baleado uma vez por uma colaboradora do est\u00fadio, a escritora Valerie Solanas, que anos antes j\u00e1 tinha disparado contra\u00a0o escritor Arthur Miller. Warhol foi declarado clinicamente morto na ambul\u00e2ncia, mas sobreviveu devido a um procedimento de ressuscita\u00e7\u00e3o dos param\u00e9dicos.<\/p>\n

Outra curiosidade interessante \u00e9 que Andy era um acumulador compulsivo (teve que comprar outra casa e se mudar, pois aquela de 4 andares estava lotada de coisas ap\u00f3s alguns anos). Ele deixou 612 caixas \u00a0de papel\u00e3o que chamou de c\u00e1psulas do tempo, onde guardava revistas, recortes de jornais, desenhos e objetos variados (de f\u00f3sseis valiosos, embalagens vazias de rem\u00e9dios controlados, o di\u00e1rio de John Lenon arrematado em um leil\u00e3o, at\u00e9 fatias de pizza). A ideia era tratar essas caixas como objetos de arte e vend\u00ea-las em sua galeria, o que acabou n\u00e3o acontecendo.\u00a0At\u00e9 hoje, algumas continuam intactas no museu que leva seu nome em Pittsburg.<\/p>\n

Em 1987, depois de uma opera\u00e7\u00e3o bem sucedida de ves\u00edcula, teve uma parada card\u00edaca e se foi de vez, aos 58 anos.<\/p>\n

O sujeito teve realmente uma vida movimentada e fez, do seu jeito, diferen\u00e7a no mundo. E, n\u00e3o deixando de lembrar, teve bem mais que\u00a0seus previstos 15 minutos de fama.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Um livro lindo que conta curiosidades a respeito da vida e obra de Andy Warhol, o papa da pop art. Recomendo demais, viu?<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":23909,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[29,85,21,25,75,49,28,99],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2017\/01\/DSC05476.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23907"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=23907"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23907\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":23917,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23907\/revisions\/23917"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/23909"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=23907"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=23907"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=23907"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}