O t\u00edtulo do livro me chamou aten\u00e7\u00e3o logo de cara; “Cabo de gata<\/em><\/strong>“, de Eugen Ruge estava em todas as vitrines da maior e mais querida livraria de Berlin, a Dussmann, em 2014. Olha, eu sei a fortuna que a editora precisa pagar para uma livraria (qualquer livraria) colocar\u00a0o livro em destaque, seja na prateleira, seja nas ilhas de livros (no Brasil e no mundo \u00e9 assim), ent\u00e3o era um sinal de que o autor valia o investimento. Ruge, nascido na antiga Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica\u00a0e formado em matem\u00e1tica, emigrou da DDR para a Alemanha Ocidental em 1988 para trabalhar com r\u00e1dio e teatro. Ele \u00e9 um autor respeitado e\u00a0ganhou v\u00e1rios\u00a0pr\u00eamios de literatura na Alemanha por outra obra.\u00a0Como sempre fa\u00e7o, esperei um pouco e deu certo.<\/p>\n

Semana passada, no mercado de pulgas que frequento quase todos os finais de semana, achei o volume por \u00a0\u20ac 1,00. N\u00e3o tinha como n\u00e3o levar.<\/p>\n

O livro conta a hist\u00f3ria de um qu\u00edmico com um bom emprego em um instituto de pesquisa berlinense\u00a0que\u00a0resolve largar tudo e parar para pensar. Ele tem uma ex-esposa e uma filha pequena (que n\u00e3o entendi bem se \u00e9 ou n\u00e3o dele). Vende tudo sem saber direito o que vai fazer da vida, pede demiss\u00e3o, e compra uma passagem de trem para Barcelona. Passa uns dois dias l\u00e1 meio entediado at\u00e9 que, num jornal, v\u00ea o desenho do mapa da Espanha e acha um lugar, bem no litoral\u00a0sul, chamado Cabo de Gata. Resolve ir l\u00e1 ver pessoalmente.<\/p>\n

Como \u00e9 inverno, o “\u00daltimo para\u00edso da Europa<\/em>“, como se auto-intitula o lugar, est\u00e1 praticamente deserto. O vento \u00e9 gelado e o homem passa o primeiro m\u00eas sem fazer absolutamente nada. Ele n\u00e3o pensa, n\u00e3o filosofa, n\u00e3o faz planos, n\u00e3o escreve. N\u00e3o est\u00e1 deprimido, apenas sem rumo.<\/p>\n

Depois de tr\u00eas meses no vilarejo, quase no final do inverno, ele vai colocar uns postais na caixa de correio e uma gata o segue\u00a0at\u00e9 a pens\u00e3o em que est\u00e1 hospedado. Ele d\u00e1 comida a ela\u00a0e\u00a0acabam dividindo a cama\u00a0alguns dias depois, quando descobre que ela est\u00e1 gr\u00e1vida. Um barrig\u00e3o enorme, cheio de gatinhos dentro. Fica um pouco assustado, mas continua se encontrando com a felina todos os dias \u00e0 noite, perto da caixa de correio. At\u00e9 que um dia ele passa a m\u00e3o na barriga dela e a gata n\u00e3o gosta; sai indignada pela janela do banheiro e nunca mas aparece. S\u00f3 ent\u00e3o, depois de alguns dias, ele resolve come\u00e7ar a escrever, contando a hist\u00f3ria. Sim, essa \u00e9 a hist\u00f3ria. Fim.<\/p>\n

Devo ser muito insens\u00edvel mesmo, pois fico perplexa quando vejo algu\u00e9m conseguir preencher 203 p\u00e1ginas com rigorosamente nada. \u00c9 claro que deve ter muitos simbolismos em todos os trechos, mas n\u00e3o consegui captar; e olha que gosto de personagens reflexivos\u00a0(s\u00e3o, inclusive, meus favoritos). Mas aqui o protagonista \u00e9 puro t\u00e9dio, n\u00e3o tem absolutamente nada de interessante; nem na personalidade, nem na sua hist\u00f3ria. Ao contr\u00e1rio do autor, penso que a vida dele n\u00e3o daria um livro.<\/p>\n

A parte boa foi o lugar, que realmente existe e parece muito bonito. Fiquei animada em conhecer o Cabo de Gata\u00a0porque na hist\u00f3ria, o protagonista avista v\u00e1rias vezes flamingos rosa passeando pela praia.<\/p>\n

Talvez o outro romance dele, o tal premiado, seja mais interessante, n\u00e3o sei; confesso que fiquei curiosa. Se algu\u00e9m quiser se arriscar, que v\u00e1 por sua\u00a0conta e risco. De minha parte, lamento dizer que o livro vale exatamente\u00a0o pre\u00e7o que paguei por ele…<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Fiquei bem decepcionada, mas o problema pode ser comigo. Se quiser tentar, v\u00e1 por sua conta e risco.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":24050,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[75,49],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2017\/02\/FullSizeRender-2.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24046"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=24046"}],"version-history":[{"count":15,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24046\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":24127,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24046\/revisions\/24127"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/24050"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=24046"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=24046"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=24046"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}