Esses dias me dei conta de que um dos projetos mais legais dos quais participei, a pintura do muro da Academia de Pol\u00edcia no bairro da Trindade, em Florian\u00f3polis, est\u00e1 fazendo 15 anos. Como o tempo passa r\u00e1pido! Como, naquela \u00e9poca, poderia imaginar que hoje estaria morando em Berlim e alimentando meus olhos diariamente com street art?<\/p>\n
Esse projeto, capitaneado pela Associa\u00e7\u00e3o Comercial e Industrial de Florian\u00f3polis, devia ser repetido mais vezes. Observando que os muros e paredes da regi\u00e3o estavam sujos e causando m\u00e1 impress\u00e3o, os organizadores conseguiram patroc\u00ednio de tintas e materiais com os comerciantes locais e promoveram\u00a0um verdadeiro festival de street art. Os interessados deviam enviar seus desenhos que seriam mostrados para os donos dos respectivos muros; caso aprovassem, seria executado (olha a\u00ed uma solu\u00e7\u00e3o baseada no consenso que \u00e9 boa para todo mundo!).<\/p>\n
Escolhi o muro da Academia de Pol\u00edcia porque tinha um ponto de \u00f4nibus l\u00e1. Minha ideia era desenhar uma fila de pessoas conversando que seriam\u00a0misturadas com as que estivessem esperando a condu\u00e7\u00e3o. O desenho era gen\u00e9rico, baseado em ilustra\u00e7\u00f5es de um livro que eu tinha escrito antes (“De fila em fila: um guia de sobreviv\u00eancia<\/em>“, esgotado h\u00e1 anos\u00a0\u2014\u00a0que me rendeu uma entrevista<\/a> no J\u00f4 Soares<\/a>), mas na real, n\u00e3o sabia exatamente quem seriam os personagens que iria desenhar.<\/p>\n Na \u00e9poca, 2002, estava escrevendo minha tese de doutorado e trabalhando em per\u00edodo integral em uma empresa privada. Assim, s\u00f3 tinha tempo para pintar o muro aos domingos; por esse motivo, levei quase dois meses para terminar de desenhar os 42 personagens ao longo\u00a0dos 14 metros de muro. Olha, foi uma das coisas mais legais que j\u00e1 fiz na vida!<\/p>\n Tentei representar ao m\u00e1ximo os frequentadores do ponto de \u00f4nibus: estudantes da universidade, senhores e senhoras do curso da terceira idade, meu professor de mergulho, o Guga K\u00fcerten (que n\u00e3o frequentava o ponto, mas morava num bairro pr\u00f3ximo), vendedores de tainha, criadores de curi\u00f3, casais de namorados, m\u00e3es com filhos pequenos, torcedores da Copa do Mundo (que seria realizada alguns meses depois), hippies, cambistas, enfim, todo mundo! No final, acabei escrevendo os prov\u00e1veis di\u00e1logos entre eles no mais casti\u00e7o “manez\u00eas”, esp\u00e9cie de dialeto ilh\u00e9u.<\/p>\n Justamente porque estava a desenhar pessoas, muitas se sentiam \u00e0 vontade para interagir e dar palpites na obra, coisa que eu adorava. Lembro de umas freiras que estavam passando um dia e pediram para pintar um pouco; minha professora de gin\u00e1stica, a querida Cida, que tamb\u00e9m deu suas pinceladas. At\u00e9 meu saudoso e querido pai\u00a0apareceu l\u00e1 um dia para ajudar tamb\u00e9m. Uma farra!<\/p>\n Uma pena que na \u00e9poca eu n\u00e3o tinha c\u00e2mera digital e o mundo n\u00e3o era t\u00e3o fotograf\u00e1vel; assim, tenho poucos registros e de qualidade question\u00e1vel.<\/p>\n Das muitas hist\u00f3rias que vivenciei e dos surreais di\u00e1logos que l\u00e1 se passaram, tenho\u00a0registrados alguns. Lembro dos mais curiosos:<\/p>\n Estou com outros projetos priorit\u00e1rios, mas um dos itens da minha lista \u00e9 me enturmar com os grafiteiros de Berlim para ver como funciona a pintura de paredes por aqui (n\u00e3o quero correr o risco de ser presa…rsrs). Tenho para mim que \u00e9 s\u00f3 uma quest\u00e3o de tempo. Aguardem…rsrs<\/p>\n\n