Quem gosta de arte e design, como eu, geralmente tamb\u00e9m tem fasc\u00ednio por arquitetura. Penso que constru\u00e7\u00f5es nada mais s\u00e3o do pe\u00e7as de arte e design, s\u00f3 que em escala ampliada. Por isso, quando minha querida amiga arquiteta Ana Rampim recomendou o epis\u00f3dio sobre arquitetura da s\u00e9rie Abstract da Netflix, fui toda feliz assistir. E valeu demais.<\/p>\n

A ponto de acabar o v\u00eddeo e ir correndo \u00e0 livraria da Taschen aqui em Berlim para comprar \u201cYes is more: ein Archicomic zur Evolution der Architektur<\/i><\/b>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: \u201cSim \u00e9 mais: uma hist\u00f3ria em quadrinhos da evolu\u00e7\u00e3o da arquitetura), do arquiteto dinamarqu\u00eas Bjarke Ingels. Consegui o \u00faltimo volume dispon\u00edvel em alem\u00e3o e, olha, a leitura \u00e9 s\u00f3 felicidade!<\/p>\n

O livro em si \u00e9 muito original, pois a equipe do pr\u00f3prio escrit\u00f3rio de Bjarke fez o projeto gr\u00e1fico e todo o conte\u00fado, sob orienta\u00e7\u00e3o desse rapaz incrivelmente jovem e talentoso.<\/p>\n

As primeiras p\u00e1ginas explicam o t\u00edtulo. O texto come\u00e7a citando a famosa frase do arquiteto-mito Ludwig Mies Van der Rohe divulgada em meados do s\u00e9culo XX, em que ele diz \u201cLess is more<\/i><\/strong>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: \u201cmenos \u00e9 mais\u201d). Adepto do minimalismo, o modernista acreditava na pureza das formas limpas e sem excessos.<\/p>\n

Depois vem a cita\u00e7\u00e3o do arquiteto Robert Charles Venturi Jr. nos anos 1970: \u201cLess is bore<\/i><\/strong>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: Menos \u00e9 chato\u201d).\u00a0 Ele se encheu do funcionalismo e resolveu resgatar as refer\u00eancias anteriores, adicionando complexidade e contradi\u00e7\u00e3o aos seus projetos.<\/p>\n

Em seguida vem o \u00f3timo Philip CortelyouAJohnson que, em 1982, resolveu adicionar uma piada \u00e0 discuss\u00e3o e declarou: \u201cI\u2019m a whore<\/i><\/strong>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: \u201ceu sou uma puta\u201d). A frase traduz seu ecletismo, a busca por novos materialis, repert\u00f3rios e conceitos em cada projeto, misturando tudo o que lhe parecia conveniente sem se preocupar muito qual linha estava seguindo.<\/p>\n

O arquiteto Rem Koolhaas entra ent\u00e3o na conversa com a cita\u00e7\u00e3o de seu ensaio, publicado em 2001, onde, observando uma certa bagun\u00e7a no mundo, escreve: \u201cmore and more, more is more<\/i><\/strong>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: \u201cmais e mais, mais \u00e9 mais\u201d).<\/p>\n

Eis que a declara\u00e7\u00e3o seguinte \u00e9 a \u00fanica de um n\u00e3o-arquiteto. Barack Obama, em sua frase de campanha \u201cYes, we can<\/i><\/strong>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: \u201cSim, n\u00f3s podemos\u201d), mostra que, em vez de competir e fazer oposi\u00e7\u00e3o, talvez seja mais interessante unificar em torno de objetivos comuns.<\/p>\n

No final, a frase conclusiva de Bjarke Ingels: \u201cYes is more<\/strong><\/em>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: \u201cSim \u00e9 mais\u201d), onde ele resume sua maneira de ver o mundo e a arquitetura, que chama de utopia pragm\u00e1tica, situada entre dois extremos: de um lado a inova\u00e7\u00e3o, a ousadia, as ideias radicais e criativas, muitas vezes anos-luz da realidade. De outro, a organiza\u00e7\u00e3o conservadora dos empreendimentos imobili\u00e1rios, o seguro e conhecido, a tediosa, conhecida e j\u00e1 testada receita de bolo. Bjarke se equilibra na t\u00eanue linha entre a inoc\u00eancia da curiosidade de testar o novo e o pragmatismo focado em resultados.<\/p>\n

No final das contas \u00e9 o que todo empreendedor, seja da \u00e1rea de design, publicidade, literatura ou at\u00e9 mesmo desenvolvimento de produtos e tecnologias, precisa contemplar.<\/p>\n

Tanto, que, por fim, ele cita Charles Darwin, que diz que n\u00e3o \u00e9 o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta. E, olha, o mo\u00e7o tem conseguido.<\/p>\n

O mais impressionante \u00e9 o tanto de obras ic\u00f4nicas esse virtuose<\/em>\u00a0j\u00e1 conseguiu realizar mesmo sendo t\u00e3o novo (o livro foi publicado em 2009 e ele tinha apenas 35 anos!).<\/p>\n

Yes is more<\/strong><\/em> \u00e9 um curso inteiro de arquitetura para leigos. Ele apresenta nada menos que 35 projetos diferentes (nem todos conclu\u00eddos) e a hierarquia conceitual da evolu\u00e7\u00e3o arquitet\u00f4nica entre todos eles no final do livro, que o autor chama de ecosistema das ideias. Cada projeto tem sua hist\u00f3ria, premissas e objetivos descritos em forma de quadrinhos.<\/p>\n

Um dos lugares que preciso conhecer da minha infind\u00e1vel lista \u00e9 o museu da Lego, na cidade de Billund, projetado pelo escrit\u00f3rio dele (n\u00e3o est\u00e1 no livro porque \u00e9 mais recente, mas a Ana foi e recomenda. Como posso duvidar?). Espero conseguir no ano que vem, aguardem.<\/p>\n

Se voc\u00ea gosta de arquitetura, n\u00e3o deixe de ler. Se n\u00e3o gosta, d\u00e1 uma olhada. Garanto que vai passar a amar.<\/p>\n

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<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Um livro para quem ama arquitetura. E para quem n\u00e3o ama tamb\u00e9m. <\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":24877,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[36,25,26,35,57,49],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/03\/IMG_5828.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24875"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=24875"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24875\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":24886,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24875\/revisions\/24886"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/24877"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=24875"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=24875"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=24875"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}