\u201cConectado pelas ideias: como o c\u00e9rebro est\u00e1 moldando o futuro da internet<\/em><\/strong>\u201d, do neurocientista Jeffrey Stibel, tem uma premissa muito interessante; a ideia central do livro \u00e9 que a internet, da maneira como foi constru\u00edda e est\u00e1 evoluindo, tem uma semelhan\u00e7a muito pr\u00f3xima ao c\u00e9rebro humano. Ambos t\u00eam o processamento distribu\u00eddo, conectam suas partes atrav\u00e9s de sinais el\u00e9tricos e s\u00e3o orientados a padr\u00f5es. \u00c9 como se os v\u00e1rios computadores conectados na rede fossem neur\u00f4nios unidos em um grande cabe\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

Como estudioso do c\u00e9rebro humano, o autor n\u00e3o para de encontrar similaridades entre os dois sistemas. Ele explica, de uma maneira bem did\u00e1tica, a evolu\u00e7\u00e3o e o funcionamento da nossa massa cinzenta. Jeffrey fala da import\u00e2ncia do surgimento do nosso senso de antecipa\u00e7\u00e3o, que nos permitiu inferir os pr\u00f3ximos acontecimentos, bem como o racioc\u00ednio, a introspec\u00e7\u00e3o e elementos refinados de emo\u00e7\u00e3o. Essas s\u00e3o capacidades do c\u00f3rtex cerebral, uma esp\u00e9cie de touca de nata\u00e7\u00e3o que cobre a massa cinzenta e conecta os neur\u00f4nios.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 bem interessante observar as semelhan\u00e7as entre imagens que registram as conex\u00f5es neuronais e as conex\u00f5es entre os computadores conectados na internet ao redor do mundo. Para Stibel, os computadores e seus microchips representam os neur\u00f4nios; o sites e links que constroem mapas sem\u00e2nticos s\u00e3o o equivalente da nossa mem\u00f3ria; as conex\u00f5es, com ou sem fio entre os diferentes equipamentos, seriam os ax\u00f4nios e dendritos.<\/p>\n\n\n\n

Ele considera que a Internet representa um c\u00e9rebro em est\u00e1gio ainda primitivo, mas, se considerarmos a velocidade de crescimento e evolu\u00e7\u00e3o do sistema, n\u00e3o demorar\u00e1 mais de 20 anos para o n\u00famero de equipamentos conectados chegar a 100 bilh\u00f5es, n\u00famero aproximado de neur\u00f4nios no c\u00e9rebro humano.<\/p>\n\n\n\n

Sobre os limites de crescimento, h\u00e1 algo interessante: depois da explos\u00e3o de crescimento e multiplica\u00e7\u00e3o de neur\u00f4nios nos tr\u00eas primeiros meses de vida, nosso c\u00e9rebro chega no seu limite f\u00edsico e come\u00e7a a crescer cada vez mais devagar (pois claro, se continuasse no mesmo ritmo, a caixa craniana n\u00e3o daria conta \u2014 basta dizer que o c\u00e9rebro corresponde a 10% do nosso peso quando nascemos e apenas 2% quando ficamos adultos). A partir dos 20 anos a gente perde cerca de 1 g por ano de peso de massa cinzenta. Ser\u00e1 ent\u00e3o que emburrecemos com o tempo? De forma alguma; \u00e9 que as conex\u00f5es que sobram s\u00e3o as mais fortes e resistentes. Para Jeffrey, acontecer\u00e1 o mesmo com a internet, que mal nasceu e ainda est\u00e1 no processo de crescer enlouquecidamente.<\/p>\n\n\n\n

Resumindo, tanto o c\u00e9rebro como a internet t\u00eam per\u00edodos de r\u00e1pida expans\u00e3o, que o autor chama de Big Bang. O pr\u00f3ximo est\u00e1gio \u00e9 o colapso, onde \u00e9 necess\u00e1rio podar o crescimento; nesse caso, tanto a rede pode implodir, perdendo neur\u00f4nios\/computadores, como pode continuar crescendo, mas bem mais lentamente. Naturalmente, os links mais fracos ir\u00e3o se perder.  Por fim, vem o equil\u00edbrio.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de me irritar um pouco com a linguagem do autor, cheia de clich\u00eas de empreendedorismo (pode ser a tradu\u00e7\u00e3o), gosto muito de quem desafia os conceitos estabelecidos e questiona o uso das palavras. Aqui, Jeffrey discorda do termo intelig\u00eancia artificial; ele diz que a m\u00e1quina \u00e9 artificial, mas a intelig\u00eancia n\u00e3o. Ele cita como exemplo a av\u00f3 dele, que teve o quadril reconstru\u00eddo. O quadril pode ser artificial, mas a capacidade de andar, n\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Jeffrey fala tamb\u00e9m sobre as limita\u00e7\u00f5es j\u00e1 conhecidas do c\u00e9rebro, e que a internet possui os mesmos pontos fracos (exemplo: precisamos estar constatemente destruindo mem\u00f3rias e ideias para que o c\u00e9rebro possa ter agilidade para trabalhar, o que ele chama de destrui\u00e7\u00e3o criativa.).<\/p>\n\n\n\n

Stibel ainda fala sobre como construir uma m\u00e1quina pensante, sobre a quest\u00e3o da intelig\u00eancia (no c\u00e9rebro e na internet), sobre os mecanismos buscadores que nos permitem resgatar informa\u00e7\u00f5es armazenadas. Fala tamb\u00e9m sobre implantes cerebrais, mas com a cabe\u00e7a de um empres\u00e1rio serial; ele simplesmente minimiza os riscos e afirma, com certeza absoluta, que as vantagens superam as desvantagens em muito. Ser\u00e1? E para quem? <\/p>\n\n\n\n

Sobre as semelhan\u00e7as entre a internet e o c\u00e9rebro, Jeffrey faz uma observa\u00e7\u00e3o muito perspicaz: uma internet inteligente como um c\u00e9rebro humano continuar\u00e1 sendo apenas um c\u00e9rebro, n\u00e3o um ser humano. \u00c9 muito pouco prov\u00e1vel que a internet um dia adquira consci\u00eancia, que \u00e9 o que torna um ser humano humano, mas h\u00e1 pesquisas buscando justamente isso.<\/p>\n\n\n\n

Comprei esse livro com expectativas alt\u00edssimas, pois me tinha sido muito bem recomendado. Talvez isso tenha atrapalhado um pouco; o livro \u00e9 bom, mas n\u00e3o sensacional. De qualquer forma, vale a pena a leitura, mais pelo conceito do que pela forma. Talvez porque eu o tenha lido em portugu\u00eas (comprei quando estava no Brasil) a impress\u00e3o que eu tive foi que estava ouvindo um dublador; uma coisa bem artificial. Alguns autores americanos s\u00e3o assim mesmo, ent\u00e3o talvez a culpa n\u00e3o tenha sido da tradutora (apesar de uma ou duas inconsist\u00eancias, ela pareceu bem cuidadosa); de qualquer forma, achei a leitura desconfort\u00e1vel. <\/p>\n\n\n\n

Mesmo assim, recomendo demais a leitura.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

E se a internet estiver sendo desenhada exatamente como um c\u00e9rebro humano e se desenvolvendo com a mesma estrutura?<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":25796,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[45,46,25,57,49,108,99,77],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2019\/09\/mask-pink3.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25795"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=25795"}],"version-history":[{"count":4,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25795\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":25810,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25795\/revisions\/25810"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/25796"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=25795"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=25795"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=25795"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}