Conheci Isaac Asimov na adolesc\u00eancia; era fascinada pelas hist\u00f3rias de rob\u00f4s, planetas e gal\u00e1xias distantes, outras civiliza\u00e7\u00f5es e m\u00e1quinas inteligentes. Cresci, amadureci, e esse fasc\u00ednio pela tecnologia orientou praticamente toda a minha vida profissional.<\/p>\n\n\n\n
Pois esses dias resolvi revisitar o velho amigo e reler o cl\u00e1ssico \u201cEu, rob\u00f4<\/em><\/strong>\u201d. Engra\u00e7ado como depois de tantos anos, a gente enxerga as coisas de um ponto de vista diferente. E o encanto aumenta ainda mais.<\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n Ao contr\u00e1rio de mim, que acho que a humanidade n\u00e3o dura mais um s\u00e9culo, dada a acelerada velocidade de destrui\u00e7\u00e3o do planeta e a ascens\u00e3o da ignor\u00e2ncia orgulhosa, Asimov era um otimista convicto. Ciente das limita\u00e7\u00f5es dos humanos, ele viu a solu\u00e7\u00e3o na singularidade (ponto da tecnologia em que as m\u00e1quinas tornam-se mais inteligentes que os humanos). <\/p>\n\n\n\n N\u00e3o tinha me dado conta, mas toda a obra de Asimov vai al\u00e9m da fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica: \u00e9 uma utopia muito bem constru\u00edda.<\/p>\n\n\n\n \u201cEu, rob\u00f4\u201d \u00e9 o relato de uma entrevista com a dra. Susan Calvin, a ic\u00f4nica personagem psic\u00f3loga de rob\u00f4s. Inteligent\u00edssima e muito sagaz, Susan est\u00e1 prestes a se aposentar e conta ao narrador algumas hist\u00f3rias interessantes sobre seu trabalho pioneiro com essas m\u00e1quinas inteligentes. <\/p>\n\n\n\n S\u00f3 agora tamb\u00e9m me dei conta de que a dra. Susan \u00e9 o alter ego de Asimov. Ela tamb\u00e9m confia mais nos rob\u00f4s do que nos humanos.<\/p>\n\n\n\n A chave de tudo s\u00e3o as tr\u00eas leis fundamentais da rob\u00f3tica, que dizem o seguinte:<\/p>\n\n\n\n Susan relata casos de seu trabalho com rob\u00f4s desde os prim\u00f3rdios da evolu\u00e7\u00e3o do c\u00e9rebro positr\u00f4nico. No in\u00edcio, as m\u00e1quinas ainda s\u00e3o bem limitadas, mas j\u00e1 obdecem cegamente \u00e0s leis da rob\u00f3tica. A cada cap\u00edtulo elas v\u00e3o ficando mais sofisticadas; em todas as hist\u00f3rias, os rob\u00f4s t\u00eam comportamentos estranhos e aparentemente inexplic\u00e1veis. \u00c9 a\u00ed que entra a expertise da dra. Susan; ela tenta pensar como um rob\u00f4 e encontra uma explica\u00e7\u00e3o para o comportamento, que, em \u00faltima an\u00e1lise, sempre est\u00e1 relacionado com as tr\u00eas leis.<\/p>\n\n\n\n Essas leis s\u00e3o o \u00fanico motivo pelo qual essas m\u00e1quinas, f\u00edsica e intelectualmente superiores aos humanos, continuam a servi-los em uma condi\u00e7\u00e3o de escravid\u00e3o. Como anjos da guarda, zelam pelo bem estar da humanidade como se fossem cachorros sint\u00e9ticos. <\/p>\n\n\n\n Numa de suas falas, o entrevistador pergunta se os rob\u00f4s s\u00e3o diferentes mentalmente dos humanos, ao que ela responde: \u201cS\u00e3o mundos completamente distintos. Rob\u00f4s s\u00e3o essencialmente decentes.<\/em><\/strong>\u201d<\/p>\n\n\n\n O \u00faltimo conto \u00e9 o meu preferido; mais elaborado que os demais, encerra a entrevista com um Gran Finale<\/em> demonstrando exatamente o que Asimov acreditava. E mais n\u00e3o conto para n\u00e3o dar spoiler<\/em>.<\/p>\n\n\n\n Pois \u00e9, tamb\u00e9m fico achando que as tr\u00eas leis resolveriam toda a quest\u00e3o dos riscos da intelig\u00eancia artificial; pena que sua implementa\u00e7\u00e3o exija um n\u00edvel de sofistica\u00e7\u00e3o s\u00f3 poss\u00edvel com a singularidade. <\/p>\n\n\n\n E n\u00e3o sei se teremos tempo para isso, com tantos seres indecentes decidindo os rumos do planeta\u2026 Ao reler “Eu, rob\u00f4”, de Isaac Asimov, percebi coisas que ainda n\u00e3o tinha compreendido. E passei a gostar ainda mais da obra.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":25812,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[45,46,57,75,49,77],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2019\/10\/IMG_7182.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25811"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=25811"}],"version-history":[{"count":3,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25811\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":25815,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25811\/revisions\/25815"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/25812"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=25811"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=25811"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=25811"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"