N\u00e3o me canso de admirar o brilhantismo e a criatividade de Haruki Murakami. E lendo \u201cKafka am Strand<\/em>\u201d (Tradu\u00e7\u00e3o livre: \u201cKafka na praia<\/em>\u201d) tamb\u00e9m me dei conta do quanto ele guarda algumas semelhan\u00e7as com outro g\u00eanio da criatividade, Neil Gaiman. Li muito mais murakamis do que gaimans e n\u00e3o entendo nada de literatura, ent\u00e3o posso estar falando bobagens, mas observo em ambos uma fluidez entre o surreal e o real, entre o sobrenatural e o natural. Os personagens s\u00e3o sempre instigantes em suas crises existenciais, os simbolismos das situa\u00e7\u00f5es e a naturalidade como trafegam entre dois mundos est\u00e3o presentes nas obras dos dois autores. <\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

Kafka Tamura \u00e9 o nome inventado por um menino que foge de casa no dia de seu anivers\u00e1rio de 15 anos. A hist\u00f3ria dele \u00e9 muito esquisita; desde os quatro anos de idade mora somente com o pai, um artista pl\u00e1stico rico e respeitado, mas que ignora a presen\u00e7a do filho desde sempre. Kafka se lembra vagamente de ter tido uma m\u00e3e e uma irm\u00e3, que foram embora e o abandonaram em casa. Educado e inteligent\u00edssimo, o menino cruza o Jap\u00e3o escolhendo aleatoriamente seu destino. Vai parar numa biblioteca particular em Takamatsu, onde a diretora \u00e9 uma mulher misteriosa cujo assistente \u00e9 um rapaz incrivelmente culto e cheio de segredos.<\/p>\n\n\n\n

Paralelamente, h\u00e1 o relato de um incidente ocorrido durante a guerra, exatamente por aquelas redondezas. Alunos da escola prim\u00e1ria, acompanhados de sua professora, foram \u00e0s montanhas colher cogumelos (havia pouca comida dispon\u00edvel na \u00e9poca). Eis que todas as crian\u00e7as desmaiaram simultaneamente sem explica\u00e7\u00e3o e ficaram por horas desacordadas, at\u00e9 serem resgatadas pela pol\u00edcia. Apenas uma foi internada nas instala\u00e7\u00f5es do ex\u00e9rcito e ficou em estado vegetativo por v\u00e1rias semanas; era um dos melhores alunos da turma. Quando acordou, foi rejeitado pela fam\u00edlia, pois sua mente foi completamente apagada e ele n\u00e3o sabia mais ler e escrever. Seus processos cognitivos ficaram comprometidos e, depois de anos trabalhando numa f\u00e1brica de m\u00f3veis, ele se aposentou com ajuda do governo (seu caso era segredo de Estado) e passou a fazer bicos encontrando gatos perdidos na cidade. O segredo de Nakata, como se chama esse senhor de 60 anos que ter\u00e1 papel definitivo na hist\u00f3ria, \u00e9 que ele consegue conversar com gatos na l\u00edngua deles.<\/p>\n\n\n\n

O pai do menino \u00e9 assassinado por Nakata, h\u00e1 uma chuva de peixes vivos na cidade, depois uma chuva de sangue-sugas na estrada, outros personagens aparecem e n\u00e3o cessa de acontecer coisas estranhas.<\/p>\n\n\n\n

O rapaz descobre que a diretora da biblioteca, agora j\u00e1 entrada nos cinquenta, fez muito sucesso quando tinha vinte anos com uma can\u00e7\u00e3o chamada \u201cKafka na praia\u201d. Depois disso, aconteceu uma grande trag\u00e9dia que mudou toda a vida dela. Na biblioteca, onde ele vai morar, h\u00e1 um quadro de um menino na areia num dia de sol que tamb\u00e9m traz mist\u00e9rios e significados.<\/p>\n\n\n\n

As hist\u00f3rias da bibliotec\u00e1ria, do sr. Nakata e do menino Kafka, aos poucos v\u00e3o se fundindo e se encontrando. Todos t\u00eam hist\u00f3rias complicadas, crises existenciais e problemas n\u00e3o resolvidos. Uma pena que n\u00e3o entendo nada de m\u00fasica; poderia aproveitar mais, j\u00e1 que os livros do Murakami v\u00eam sempre acompanhados por trilha musical para cada personagem.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de ter visitado e conhecido mais um pouquinho do Jap\u00e3o (gosto de acompanhar no mapa as viagens dos personagens), que privil\u00e9gio poder ler essas hist\u00f3rias t\u00e3o finas e bem constru\u00eddas. <\/p>\n\n\n\n

Meu mundo ficou um pouquinho maior e mais rico depois dessa viagem incr\u00edvel e cheia de surpresas. Obrigada, sr. Murakami.
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Mais uma viagem maravilhosa com Haruki Murakami.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":25912,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[75,49,99],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/02\/E0196528-9C5B-47F1-8A4D-BE52AB341B2F.jpeg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25911"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=25911"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25911\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":25914,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/25911\/revisions\/25914"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/25912"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=25911"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=25911"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=25911"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}