Pers\u00e9polis \u00e9 um cl\u00e1ssico. J\u00e1 ganhou pr\u00eamios diversos tanto como livro convencional como na categoria Graphic Novel<\/em>. Na minha opini\u00e3o, merecid\u00edssimo.<\/p>\n\n\n\n

O livro, totalmente em quadrinhos, desenhados pela pr\u00f3pria autora, Marjane Satrapi, causou furor quando publicado em 2000, em franc\u00eas. Em 2003 foi traduzido para o ingl\u00eas e bateu recordes de vendas; at\u00e9 que se transformou em anima\u00e7\u00e3o, em 2007, com o mesmo estilo visual dos quadrinhos. <\/p>\n\n\n\n

Mas por que tudo isso?<\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

O livro \u00e9 a biografia de Marjane, nascida no Ir\u00e3 (antiga P\u00e9rsia \u2014 Pers\u00e9polis era a capital, depois transferida para Teer\u00e3, onde a autora passou sua inf\u00e2ncia e parte da adolesc\u00eancia). A hist\u00f3ria fez tanto sucesso porque mistura elementos da vida pessoal com fatos hist\u00f3ricos (a revolu\u00e7\u00e3o iraniana e as guerras das quais o Iran participou). Para a gente aqui no ocidente que n\u00e3o sabe quase nada daquela parte do mundo, \u00e9 uma oportunidade rica de aprender em primeira m\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A pr\u00f3pria Marjane diz que resolveu contar sua hist\u00f3ria para que as pessoas parem de associar iranianos com fundamentalismo e terrorismo. Boa parte dos cidad\u00e3os discorda do governo e s\u00f3 obedece \u00e0s leis por uma quest\u00e3o de sobreviv\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Marjane nasceu numa fam\u00edlia muito culta e politizada; sua m\u00e3e e av\u00f3 eram feministas militantes e seu pai, um intelectual. A fam\u00edlia participava de passeatas e era envolvida com pol\u00edtica (um tio seu muito querido foi preso e exilado; o av\u00f4 tinha sido um pr\u00edncipe e foi deposto por suas ideias comunistas).\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Apesar das diferen\u00e7as culturais, tinha acesso e gostava muito dos artistas do ocidente; bandas de rock e Michael Jackson, por exemplo, faziam parte da sua vida (ali\u00e1s, das vidas de seus amigos tamb\u00e9m).<\/p>\n\n\n\n

Eis que os fundamentalistas tomaram o poder e, do dia para a noite, as mulheres passaram a ter que usar o v\u00e9u; em seguida, vestir mantos escuros. Maquiagem e s\u00edmbolos ocidentais eram proibidos; tamb\u00e9m n\u00e3o podiam sair com homens que n\u00e3o fossem seus maridos. Marjane tinha apenas 10 anos de idade quando isso aconteceu e acompanhou a revolta dos pais e suas passeatas de protesto, como ela conta no livro.<\/p>\n\n\n\n

A garota lia muito e acompanhava as not\u00edcias analisando-as com base nos livros de hist\u00f3ria que o pai lhe dava; mas veio a guerra Ir\u00e3-Iraque, as coisas foram ficando mais perigosas, e os pais decidiram mand\u00e1-la para Viena, na \u00c1ustria, onde morava uma tia. Apegada \u00e0 fam\u00edlia, principalmente \u00e0 av\u00f3, a menina sofreu demais. Tinha apenas 14 anos, n\u00e3o falava alem\u00e3o (mas falava bem franc\u00eas) e tudo era estranho e diferente. <\/p>\n\n\n\n

Independente e desafiadora, acabou arrumando v\u00e1rias confus\u00f5es; saiu da casa da tia, foi morar num abrigo mantido por freiras, depois foi para uma rep\u00fablica e, por fim, acabou morando meses na rua. Carente, doente e sozinha, acabou sofrendo uma intensa depress\u00e3o, o que a fez pedir aos pais para voltar para casa 4 anos depois, mesmo sem ter realizado seus sonhos.<\/p>\n\n\n\n

O retorno foi bem dif\u00edcil por causa da adapta\u00e7\u00e3o; al\u00e9m da sensa\u00e7\u00e3o de fracasso e da depress\u00e3o, o fundamentalismo tolhia todas as suas liberdades individuais. Mesmo assim, ela conseguiu fazer a faculdade de Belas Artes, casou-se e divorciou-se. Mas a situa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica do pa\u00eds n\u00e3o melhorou e era imposs\u00edvel uma pessoa como ela se desenvolver nesse ambiente.<\/p>\n\n\n\n

Marjane ent\u00e3o emigrou para a Fran\u00e7a, de onde escreveu sua hist\u00f3ria. Hoje ela vive l\u00e1 e trabalha como escritora, ilustradora e cineasta.<\/p>\n\n\n\n

Recomendo demais a leitura. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Resenha do livro Persepolis, de Marjane Satrapi.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":26754,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[82,41,75,49,110],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2021\/09\/IMG_8540.jpeg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26752"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=26752"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26752\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":26755,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26752\/revisions\/26755"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/26754"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=26752"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=26752"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=26752"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}