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{"id":26824,"date":"2021-11-10T11:59:28","date_gmt":"2021-11-10T14:59:28","guid":{"rendered":"http:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/?p=26824"},"modified":"2021-11-10T12:16:00","modified_gmt":"2021-11-10T15:16:00","slug":"apertando-as-maos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/apertando-as-maos\/","title":{"rendered":"Apertando as m\u00e3os"},"content":{"rendered":"\n

NOTA: Prefere ouvir a ler essa resenha? \u00c9 s\u00f3 clicar aqui<\/a>!<\/p>\n\n\n\n

Mas como \u00e9 que n\u00e3o descobri essa mulher antes, minha gente? Foi o que pensei quando peguei nas m\u00e3os, por pura curiosidade, o livro \u201cThe Handshake: a gripping history<\/em><\/strong>\u201d, que, numa tradu\u00e7\u00e3o livre seria \u201cAperto de m\u00e3os, uma hist\u00f3ria emocionante<\/em>\u201d. Mas gripping<\/em> \u00e9 literalmente agarrar (a hist\u00f3ria \u201cagarra<\/em>” voc\u00ea), ent\u00e3o o jogo de palavras ficou bem divertido. <\/p>\n\n\n\n

Fui obrigada a levar o volume para casa depois que li a segunda orelha, com o curr\u00edculo da autora, Ella Al-Shamahi<\/strong>: \u00e9 formada em gen\u00e9tica, taxonomia e biodiversidade, est\u00e1 agora fazendo um doutorado em paleantropologia, e atua como comediante stand-up. A mo\u00e7a \u00e9 especialista em Neandertais, escava\u00e7\u00f5es em ambientes hostis, al\u00e9m de ser apresentadora de TV na BBC e exploradora da National Geographic. Descendente de uma fam\u00edlia do I\u00eamen radicada em Londres, Ella foi mu\u00e7ulmana fundamentalista a maior parte da vida, mas depois de anos estudando, viu que essa heran\u00e7a familiar n\u00e3o estava de acordo com sua vis\u00e3o de mundo.<\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

A escrita de Ella \u00e9 leve e engra\u00e7ada (n\u00e3o \u00e0 toa a mo\u00e7a \u00e9 comediante) e a ironia fina permeia todo o texto. O livro foi escrito em 2020, em meio \u00e0 pandemia do Covid-19, quando o aperto de m\u00e3os foi praticamente banido das rela\u00e7\u00f5es humanas. Em conversas com colegas cientistas, alguns apostavam que nunca mais ir\u00edamos apertar as m\u00e3os de desconhecidos (imunologistas, inclusive, recomendavam); a autora acreditava que n\u00e3o \u2014 o gesto j\u00e1 passou por outras crises e essa \u00e9 s\u00f3 mais uma; depois ele volta (como sempre). Foi a\u00ed que teve a ideia, como boa antrop\u00f3loga, de estudar o tema mais a fundo.<\/p>\n\n\n\n

Ela come\u00e7a desmontando o mito de que a origem do aperto de m\u00e3os era um protocolo  entre cavalheiros para demonstrar que n\u00e3o estavam armados. Ok, mas e se a arma for invis\u00edvel, como um v\u00edrus?<\/p>\n\n\n\n

Ella diz que o aperto de m\u00e3os, como uma unidade de toque, \u00e9 uma quest\u00e3o pessoal. Para a autora, que foi mu\u00e7ulmana fundamentalista at\u00e9 os 26 anos de idade. At\u00e9 ent\u00e3o, ela seguia r\u00edgidas leis que diziam que mulheres n\u00e3o deviam tocar homens que n\u00e3o fossem seus parentes pr\u00f3ximos ou esposo. Quando ela se tornou secular, passou a apertar a m\u00e3o de todo mundo, mas no come\u00e7o foi uma sensa\u00e7\u00e3o estranh\u00edssima. Ela conta que o que n\u00e3o estava realmente preparada era para os abra\u00e7os; a primeira vez que abra\u00e7ou um colega (seu melhor amigo) ela teve que se controlar muito para n\u00e3o sair correndo. Um ano depois, conversando, os dois riram at\u00e9 se acabar porque ele confessou que detestava abra\u00e7os e s\u00f3 tinha feito isso porque era o que se esperava naquela situa\u00e7\u00e3o\u2026 mas a mo\u00e7a reconhece que o contato humano faz muita diferen\u00e7a. Agora ela n\u00e3o vive mais sem.<\/p>\n\n\n\n

Bom, mas afinal, como surgiu o aperto de m\u00e3o? Os abra\u00e7os e beijos, tamb\u00e9m unidades de toque, presentes em v\u00e1rias culturas e inclusive em outras esp\u00e9cies, s\u00e3o demonstra\u00e7\u00f5es de afeto e carinho. Mas o aperto de m\u00e3os \u00e9 diferente; ele \u00e9 quase um pacto, um compromisso, um reconhecimento do outro, mas sem o afeto estar envolvido necessariamente.<\/p>\n\n\n\n

Ella pesquisou tribos em lugares distantes, como Guin\u00e9 Bissau e Amazonas, que praticavam o aperto de m\u00e3os muito antes do contato com estrangeiros. Mas ela queria ir mais al\u00e9m: ser\u00e1 que os Neandertais tamb\u00e9m se apertavam as m\u00e3os? Pelas pesquisas, \u00e9 praticamente certo que sim. N\u00e3o que se tenha registro direto, mas os ancestrais comuns entre n\u00f3s e os Neandertais, que s\u00e3o os bonobos, usam um gesto bem parecido. Ent\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel afirmar que o aperto de m\u00e3os \u00e9 praticado h\u00e1 7 milh\u00f5es de anos!<\/p>\n\n\n\n

Outra coisa curiosa \u00e9 que o gesto n\u00e3o envolve apenas o tato; ele libera ocitocina, o horm\u00f4nio da conex\u00e3o social, que faz com nos sintamos acolhidos. As m\u00e3os cont\u00e9m muitos receptores nas palmas e nos dedos; \u00e9 uma \u00e1rea do corpo muito sens\u00edvel ao toque. As m\u00e3os habilidosas, em especial por causa do polegar (o dedo opositor) s\u00e3o as respons\u00e1veis por podemos colocar em pr\u00e1tica tanta imagina\u00e7\u00e3o. Se um pato fosse muito mais inteligente que o ser humano, mesmo assim n\u00e3o conseguiria construir uma m\u00e1quina (nem mesmo uma ferramenta). Voc\u00ea j\u00e1 tinha pensado nisso?<\/p>\n\n\n\n

Ao longo do tempo e praticado por diferentes culturas, o gesto tamb\u00e9m adquiriu simbolismos diversos, mas no mundo ocidental ele significa civilidade, amizade, solidariedade, alian\u00e7a e paz entre inimigos.  <\/p>\n\n\n\n

O livro traz ainda muitas curiosidades sobre l\u00edderes mundiais, sobre a quest\u00e3o dos abra\u00e7os e beijos como cumprimento, sobre o machismo, sobre as culturas que n\u00e3o costumam se tocar (como os japoneses) e at\u00e9 sobre equivalentes ao aperto de m\u00e3o em algumas culturas e gestos adicionais.<\/p>\n\n\n\n

Por exemplo: em Gana, o aperto de m\u00e3os culmina com um estalo de dedos; na Nig\u00e9ria, o mais usado \u00e9 estalar ou apertar somente os ded\u00f5es (e quanto mais sonoro, melhor!); na Nam\u00edbia o aperto de m\u00e3os \u00e9 precedido por um aplauso; os indianos combinam o gesto levando a outra m\u00e3o ao cora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Na Papua Nova Guine, um antrop\u00f3logo conta que dar uma leve sugada no seio da mulher do chefe da tribo \u00e9 visto como um cumprimento de boas vindas. Mas, para mim, o mais bizarro de todos \u00e9 o aperto de p\u00eanis (sim, voc\u00ea leu direito), praticado em outra tribo da Papua Nova Guin\u00e9 e funciona assim: quando um homem de outra tribo chega para uma cerim\u00f4nia, ele oferece seu p\u00eanis em num ritual para os anfitri\u00f5es. Se o anfitri\u00e3o se recusar a peg\u00e1-lo completamente com a palma de sua m\u00e3o, significa que ele deve lutar ou fugir (ou seja\u2026rs). Por isso, o visitante sempre prefere oferecer seu p\u00eanis para um anfitri\u00e3o que ele j\u00e1 conhe\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Em outro cap\u00edtulo, Ella apresenta a receita do aperto de m\u00e3os perfeito desenvolvido pelo professor de psicologia da Universidade de Manchester, Geoffrey Batte, a pedido da Chevrolet, em 2010. A f\u00f3rmula \u00e9 complicad\u00edssima e tem mais de 10 vari\u00e1veis com as respectivas grada\u00e7\u00f5es. Por exemplo: o n\u00edvel do sorriso (com os olhos e a boca) pode ir de zero (sorriso falso) ao “duchenne<\/em>” (aquele em que os olhos tamb\u00e9m sorriem); tem tamb\u00e9m vari\u00e1veis como a secura da m\u00e3o, a posi\u00e7\u00e3o, a temperatura, se h\u00e1 contato visual, a \u201cpegada\u201d, o vigor, a dura\u00e7\u00e3o, etc <\/p>\n\n\n\n

Mas no final, observei uma coisa que fugiu \u00e0 autora (naturalmente porque sua l\u00edngua m\u00e3e \u00e9 o ingl\u00eas). \u00c9 que aperto de m\u00e3os em ingl\u00eas \u00e9 handshake<\/em> (shake \u00e9 algo como sacudir, balan\u00e7ar). Ent\u00e3o a \u00eanfase \u00e9 em balan\u00e7ar as m\u00e3os; em portugu\u00eas falamos apertar. Nas outras l\u00ednguas latinas, como o espanhol (apret\u00f3n de manos<\/em>), o franc\u00eas (poign\u00e9e de main<\/em>) e o italiano (stretta di mano<\/em>), a \u00eanfase \u00e9 em pegar com firmeza ou apertar; no alem\u00e3o (H\u00e4ndedruck<\/em>) tamb\u00e9m (\u201cDruck<\/em>\u201d \u00e9 apertar). Por que ser\u00e1 que em ingl\u00eas \u00e9 diferente? Se algu\u00e9m souber ou tiver um palpite, por favor, compartilhe!<\/p>\n\n\n\n

Enfim, o livro \u00e9 divers\u00e3o garantida e vou acompanhar mais o trabalho dessa mo\u00e7a. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Resenha do livro \u201cThe Handshake: a gripping history\u201d, de Ella Al-Shamahi. <\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":26825,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[45,56,46,24,25,49,99,110],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2021\/11\/IMG_5178.jpeg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26824"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=26824"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26824\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":26827,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26824\/revisions\/26827"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/26825"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=26824"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=26824"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=26824"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}