A hora da Estrela<\/em>\u201d); lembrava da hist\u00f3ria, mas n\u00e3o do estilo. Dito isso, estava muito empolgada em ler esse \u00edcone da literatura brasileira.<\/p>\n\n\n\nOlha, com tristeza e at\u00e9 um pouco de vergonha venho aqui dizer que n\u00f3s duas n\u00e3o conseguimos nos entender muito bem. Meu c\u00e9rebro acostumado com narrativas mais simples e l\u00f3gicas n\u00e3o conseguiu acompanhar a genialidade dela. Sim, eu reconhe\u00e7o que a mulher n\u00e3o \u00e9 fraca, que domina as palavras e a escrita como ningu\u00e9m, que \u00e9 inteligent\u00edssima e tudo mais. Mas n\u00e3o via a hora de acabar o livro (que n\u00e3o tinha nem 200 p\u00e1ginas).<\/p>\n\n\n\n
Mas vamos do come\u00e7o. <\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n
G.H. \u00e9 uma mulher rica, independente, solteira e sem filhos, que mora sozinha numa cobertura no Rio de Janeiro. L\u00e1 pelo meio da narrativa, d\u00e1 a entender que j\u00e1 foi muito pobre, mas est\u00e1 agora mergulhada num cotidiano de madame que parece n\u00e3o fazer sentido nem mesmo para ela. Existe apenas para ir a festas e conversar com pessoas que nem parece achar t\u00e3o interessantes assim.<\/p>\n\n\n\n
A vida interior \u00e9 de um vazio infinito; autocentrada, ela n\u00e3o consegue ver nada al\u00e9m do pr\u00f3prio umbigo. G.H. tem um desinteresse profundo e genu\u00edno pelo mundo, pelas pessoas, pelos animais, pelas plantas; nada parece despertar sua aten\u00e7\u00e3o. Ela \u00e9 puro suco de t\u00e9dio.<\/p>\n\n\n\n
No come\u00e7o, achei bem criativa a met\u00e1fora que ela usa para dizer que perdeu alguma coisa importante, mas que n\u00e3o lhe faz falta. Como se ela tivesse perdido um terceiro p\u00e9 que a impedia de andar, mas garantia sua estabilidade. Agora, sem esse p\u00e9 adicional, ela pode andar; mas est\u00e1 assustada. Achei genial e serve para muitas situa\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n
Por\u00e9m, ela continua dando voltas e n\u00e3o sai do lugar (onde o lugar \u00e9, no caso, sua pr\u00f3pria mente). <\/p>\n\n\n\n
L\u00e1 pelas tantas ela se levanta da mesa do caf\u00e9 da manh\u00e3 e vai at\u00e9 o quarto da empregada, com a inten\u00e7\u00e3o de arrum\u00e1-lo para a pr\u00f3xima funcion\u00e1ria, por falta de coisa melhor para fazer. <\/p>\n\n\n\n
Quando abre a porta, surpreende-se com a limpeza (ela nunca prestou aten\u00e7\u00e3o da antiga servente, mal se lembra de seu nome, Janair); n\u00e3o h\u00e1 nada l\u00e1 a ser arrumado. <\/p>\n\n\n\n
O quarto \u00e9 ensolarado e s\u00f3 existe uma cama de solteiro com o colch\u00e3o pu\u00eddo e manchado e um guarda-roupa velho e deformado pela umidade. L\u00e1 dentro, uma barata, que GH prensa na porta num ato de desespero e rebeldia.<\/p>\n\n\n\n
E \u00e9 essa a hist\u00f3ria. Um livro inteiro que conta a hist\u00f3ria de uma mulher que esmaga uma barata no guarda-roupa no quarto da empregada. At\u00e9 o final sabemos apenas que ela se submeteu a um aborto; mas isso descrito muito vagamente, no meio de seus pensamentos aleat\u00f3rios, de maneira que n\u00e3o se sabe exatamente como e porque isso aconteceu. <\/p>\n\n\n\n
E \u00e9 isso e mais nada. N\u00e3o h\u00e1 outros personagens, situa\u00e7\u00f5es, eventos, nada. Apenas o vazio enorme que preenche essa mulher. <\/p>\n\n\n\n
A narrativa, se \u00e9 que podemos chamar assim, \u00e9 composta de uma met\u00e1fora sendo emendada \u00e0 outra, at\u00e9 a exaust\u00e3o. \u00c9 como se ela escrevesse em c\u00f3digo, o que achei cansativo demais. As frases parecem (e devem ser) profundas, mas realmente n\u00e3o consegui alcan\u00e7ar. <\/p>\n\n\n\n
Ela \u00e9 t\u00e3o elogiada, t\u00e3o maravilhosa, t\u00e3o deificada. Mas para mim n\u00e3o deu match<\/em>. Lamento mesmo.<\/p>\n\n\n\nClarice, tenho certeza de que voc\u00ea deve ter sido uma mulher extraordin\u00e1ria e talvez esse romance (pode-se chamar assim?) n\u00e3o seja para principiantes como eu.<\/p>\n\n\n\n
Se quiser se arriscar por sua pr\u00f3pria conta e risco, tem aqui para vender<\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Resenha do livro “A paix\u00e3o segundo GH”, de Clarice Lispector.<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":27244,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[75,49],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2022\/08\/IMG_6463.jpeg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27243"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=27243"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27243\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":27275,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27243\/revisions\/27275"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/27244"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=27243"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=27243"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=27243"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}