![\"tumblr_kt3zwampya1qz4s3wo1_500\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2010\/03\/tumblr_kt3zwampya1qz4s3wo1_500.jpg\" "\\"tumblr_kt3zwampya1qz4s3wo1_500\\"")
<\/a><\/p>\nAcabei de ler \u201cDo good design: how designers can change the world<\/a><\/em><\/strong>\u201d, do vice-presidente da ICOGRADA<\/a>* David Berman e confesso que fiquei bastante impressionada. N\u00e3o que o livro contenha grandes novidades sobre a responsabilidade dos designers na destrui\u00e7\u00e3o (e salva\u00e7\u00e3o) do planeta. Mas ver todos os argumentos reunidos num lugar s\u00f3 de maneira t\u00e3o contundente arrepia.<\/p>\n Apesar da brochura simples e monocrom\u00e1tica, o extraordin\u00e1rio projeto gr\u00e1fico (e eu n\u00e3o esperaria menos) contribui em muito para a for\u00e7a da persuas\u00e3o.<\/p>\n Berman come\u00e7a sem delongas ou sutilezas, afirmando, com convic\u00e7\u00e3o, que o design \u00e9 uma das mais poderosas armas de ilus\u00e3o em massa. Que o poder do design tem sido usado prioritariamente para convencer as pessoas que elas n\u00e3o s\u00e3o bacanas e que essa situa\u00e7\u00e3o s\u00f3 vai mudar se elas adquirirem sem demora tais e tais produtos. Ele v\u00ea o branding<\/em>, da maneira como \u00e9 praticado hoje, como uma forma de <\/span>desmaterializar o produto real (as marcas n\u00e3o t\u00eam mais enfatizado as qualidades objetivas dos produtos) e convencer o consumidor da sua inadequa\u00e7\u00e3o no mundo. Usando o desodorante X ou o carro Y, por exemplo, as mulheres todas v\u00e3o fazer fila para serem seduzidas por voc\u00ea (mensagem impl\u00edcita: voc\u00ea n\u00e3o est\u00e1 pegando ningu\u00e9m agora porque n\u00e3o quer). Eles fazem isso porque sabem que o desodorante X \u00e9 intrinsecamente igual aos seus concorrentes e o carro Y n\u00e3o tem nada de especial. Ent\u00e3o o design (aqui muito intimamente ligado \u00e0 propaganda) serve basicamente para contar mentiras e alimentar a compuls\u00e3o pelo consumo.<\/p>\n David vai mais longe: conta a hist\u00f3ria de como a Coca-Cola inventou o seu mascote Papai Noel no in\u00edcio do s\u00e9culo passado. O personagem usava as cores da marca e foi criado com o objetivo de aumentar as vendas no natal. Talvez seja o mais bem sucedido caso de marketing da hist\u00f3ria, dado o sucesso que o \u201cbom velhinho\u201d faz at\u00e9 hoje, impelindo todo mundo a comprar descontroladamente nessa \u00e9poca do ano sem nenhum motivo minimamente plaus\u00edvel.<\/p>\n Pois a marca mais famosa que se tem not\u00edcia \u00e9 tamb\u00e9m a segunda palavra mais entendida no mundo, s\u00f3 perdendo para o universal OK, e n\u00e3o carrega o t\u00edtulo \u00e0 toa. Em Arusha, uma das maiores cidades da Tanz\u00e2nia, por exemplo, absolutamente todas as indica\u00e7\u00f5es de dist\u00e2ncias e localiza\u00e7\u00e3o, hospitais, escolas, orfanatos e at\u00e9 placas de tr\u00e2nsito levam a marca da Coca-Cola. Segundo o prefeito da cidade, a empresa paga a fortuna de U$ 200 por ano<\/strong> para ter esse privil\u00e9gio (n\u00e3o est\u00e1 faltando zero; \u00e9 isso mesmo). Os moradores, ao que tudo indica, gostam bastante dessa associa\u00e7\u00e3o, que os faz se sentirem mais pr\u00f3ximos do t\u00e3o cobi\u00e7ado american way of life<\/em>.<\/p>\n Num tom at\u00e9 um tanto panflet\u00e1rio, o autor ainda mostra como a propaganda (e, por conseguinte, o design gr\u00e1fico), tamb\u00e9m \u00e9 respons\u00e1vel por adolescentes de 15 anos sonharem com implantes de silicone e os pedirem de presente de anivers\u00e1rio; pela onda de anorexia e bulimia que assola jovens; pela tamb\u00e9m onda de obesidade (as crian\u00e7as aprender a amar o Mac Donald\u2019s desde a pr\u00e9-escola); dos objetos mais corriqueiros serem vendidos como m\u00e1quinas de sedu\u00e7\u00e3o e sexo f\u00e1cil; das mulheres serem usadas como objeto de venda em produtos nada a ver; enfim, de todo esse frenesi consumista insaci\u00e1vel que a gente est\u00e1 metido.<\/p>\n O resultado disso tudo n\u00e3o apenas \u00e9 um sentimento de ansiedade generalizado capaz de quebrar economias (vide o papel da compuls\u00e3o americana pelo consumo e seu papel na crise financeira de 2008), mas tamb\u00e9m um esgotamento extraordinariamente r\u00e1pido dos recursos naturais do planeta e os vertiginosos \u00edndices de degrada\u00e7\u00e3o ambiental. Ali\u00e1s, ele lembra que a ind\u00fastria gr\u00e1fica \u00e9 a terceira maior poluidora do planeta e que metade de todo o material impresso do mundo \u00e9 jogado fora sem que as pessoas tenham sequer passado os olhos por ele.<\/p>\n Mas calma, que nem tudo \u00e9 bronca. David deixa bem claro que a solu\u00e7\u00e3o est\u00e1 nas m\u00e3os de quem criou o problema e, apesar de n\u00e3o ser f\u00e1cil, \u00e9 poss\u00edvel. Mas o desafio n\u00e3o \u00e9 simples, pois, citando Einstein, \u201cn\u00e3o se pode resolver problemas usando o mesmo tipo de racioc\u00ednio que usamos para cri\u00e1-los<\/em>\u201d. <\/span><\/p>\n Se o design provoca decep\u00e7\u00e3o, quando promete uma coisa que o produto n\u00e3o pode entregar (\u00e9, meu caro, as mulheres n\u00e3o v\u00e3o pular no seu colo se voc\u00ea trocar seu atual desodorante pela marca X), tamb\u00e9m tem um poder nada desprez\u00edvel de promover consci\u00eancia e encaminhar o mercado novamente para seus trilhos.<\/p>\n O livro apresenta v\u00e1rios exemplos de projetos de design gr\u00e1fico usados para o bem, para a sustentabilidade do planeta, para a paz nas mentes e pelo equil\u00edbrio emocional das pessoas. Tudo isso sem chatice, proselitismo ou rancor; ele mesmo lembra que n\u00e3o d\u00e1 para todos virarmos monges e tentarmos consertar a terra de uma vez s\u00f3. O processo \u00e9 lento, talvez um pouco doloroso, mas n\u00e3o precisa ser chato. Todas as pe\u00e7as apresentadas usam o bom design com humor, inova\u00e7\u00e3o e muito senso est\u00e9tico.<\/p>\n Ele tamb\u00e9m apresentou outra proposta deveras interessante, mas que ainda vai dar muito pano para manga, principalmente entre os designers brasileiros. Mas sobre ela falo na semana que vem, t\u00e1?<\/p>\n Ligia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br<\/a><\/p>\n ——————<\/p>\n