![\"Fotografia:](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2010\/03\/martinparr.jpg\" "\\"martinparr\\"")
<\/a>A gente sabe que h\u00e1 bons e maus profissionais, e sabe tamb\u00e9m que essa avalia\u00e7\u00e3o \u00e9 muito subjetiva. H\u00e1 quem acredite que regulamentar as profiss\u00f5es iria, entre outras coisas, resolver tamb\u00e9m o problema dos profissionais sem escr\u00fapulos. Ser\u00e1?<\/p>\n
Algumas das profiss\u00f5es mais populares no Brasil s\u00e3o regulamentadas, ou seja, t\u00eam conselhos que fiscalizam a atua\u00e7\u00e3o dos profissionais credenciados. Do jeito que a coisa funciona hoje, para poder atuar na maior parte dessas \u00e1reas a pessoa s\u00f3 precisa ter um diploma provando que se formou; a\u00ed se inscreve no conselho e ganha uma carteirinha, que n\u00e3o \u00e9 nada mais do que um diploma em miniatura plastificado; enquanto a sua anuidade estiver em dia, voc\u00ea pode usar a tal carteirinha e exercer a profiss\u00e3o.<\/p>\n
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No final das contas, da maneira que o modelo est\u00e1 desenhado, os conselhos t\u00eam como principal raz\u00e3o da sua exist\u00eancia garantir a reserva de mercado para os tais que t\u00eam carteirinha e pagam as anuidades religiosamente. Se algu\u00e9m fizer uma pesquisa s\u00e9ria sobre o que vai na cabe\u00e7a desses profissionais \u00e9 capaz de descobrir que a carteirinha \u00e9 a \u00fanica coisa que todos os membros t\u00eam em comum de fato.<\/p>\n
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Seria muito bacana se, al\u00e9m disso, os conselhos conseguissem manter um certo n\u00edvel de qualidade na presta\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os. Pena que n\u00e3o \u00e9 o que acontece, olha s\u00f3: algu\u00e9m j\u00e1 viu um contador perder a licen\u00e7a porque calculou errado um imposto e por causa disso o empreendedor perdeu seus bens para pagar a d\u00edvida que ele nem sabia que tinha quando o fisco descobriu? J\u00e1 vi isso acontecer mais de uma vez e o contador fez cara de paisagem; o conselho s\u00f3 diz que erros acontecem. Algu\u00e9m j\u00e1 viu um administrador ser impedido de exercer seu of\u00edcio por m\u00e1 gest\u00e3o ou por fazer uma empresa falir? Eu mesma j\u00e1 entrei com uma reclama\u00e7\u00e3o no conselho de \u00e9tica da OAB porque o advogado abandonou a causa ap\u00f3s receber os honor\u00e1rios. O distinto j\u00e1 tinha uma lista respeit\u00e1vel de reclama\u00e7\u00f5es e foi chamado para uma acarea\u00e7\u00e3o. Resumo da hist\u00f3ria: perdi uma manh\u00e3 de trabalho para assisti-lo levar um serm\u00e3zinho do tipo “Aiaiaiai, que feio, n\u00e3o fa\u00e7a mais isso<\/em>“. Fomos embora para casa e o tal mudou de endere\u00e7o sem deixar rastro; deve estar por a\u00ed, livre, leve e solto enganando outros incautos. M\u00e9dico, para perder a tal carteirinha, s\u00f3 depois que a lista de processos ultrapassar 3 d\u00edgitos e ele sair na TV acusado na justi\u00e7a comum pela reponsabilidade da morte de uns 3 ou 4. Acho que o CREA tamb\u00e9m recolhe a carteirinha de volta, mas somente depois que o pr\u00e9dio est\u00e1 condenado ou cai; se voc\u00ea \u00e9 um engenheiro de sistemas e projeta uma rede de dados ineficiente ou mal dimensionada, a solu\u00e7\u00e3o mais comum que tenho visto \u00e9 demitir o sujeito e contratar outro melhor. Ou seja, o modo mais acess\u00edvel de voc\u00ea fazer um mau profissional perder o direito de atuar \u00e9 desviando o bloqueto de pagamento da anuidade; as outras formas s\u00e3o infinitamente mais dif\u00edceis.<\/p>\n \n O que eu n\u00e3o consigo ver, por mais que procure, \u00e9 onde est\u00e1 o valor para o cliente; onde est\u00e1 o compromisso com valores \u00e9ticos de sustentabilidade; onde est\u00e1 a utilidade p\u00fablica dessa estrutura t\u00e3o complexa (e cara).<\/p>\n \n Podem me acusar, com toda raz\u00e3o, da minha an\u00e1lise ser superficial, simplista e grosseira; ela o \u00e9 de fato. Mas, na ess\u00eancia, foi s\u00f3 o que consegui ver da minha limitada experi\u00eancia com essas organiza\u00e7\u00f5es. Se algu\u00e9m tem mais para dizer, sou toda ouvidos.<\/p>\n \n At\u00e9 ontem, antes de pensar com bastante cuidado a esse respeito, eu era totalmente a favor da regulamenta\u00e7\u00e3o das profiss\u00f5es em geral, e da de designer em particular. Mas a\u00ed fico pensando: \u00e9 mais uma reserva de mercado, n\u00e3o garantia de qualidade ou valor para o cliente. Boa parte n\u00e3o est\u00e1 registrado porque quer ou concorda com o sistema, mas porque \u00e9 obrigado a isso. Se j\u00e1 \u00e9 quase imposs\u00edvel punir um m\u00e9dico por m\u00e1 conduta, imagine s\u00f3 um designer, cuja avalia\u00e7\u00e3o do trabalho \u00e9 t\u00e3o mais subjetiva.<\/p>\n \n Garantir que o profissional \u00e9 competente porque tem diploma \u00e9 uma leviandade, que se agrava a cada dia com a prolifera\u00e7\u00e3o de ind\u00fastrias de diplomas que infestam todas as cidades. E mesmo a OAB, que faz prova, dificilmente consegue banir um mau car\u00e1ter; \u00e9 mais ou menos como pol\u00edtico – o cara tem que aprontar muito, mas muito mesmo, e deixar um monte de provas espalhadas. Ainda assim eles v\u00e3o estudar o caso.<\/p>\n \n E a\u00ed, ser\u00e1 que a solu\u00e7\u00e3o \u00e9 desregulamentar todo mundo, extinguir os conselhos e se virar cada um por si e o cliente que pague a conta?<\/p>\n \n Penso que n\u00e3o. Os conselhos n\u00e3o s\u00e3o adequados porque o modelo no qual eles se baseiam \u00e9 jur\u00e1ssico, completamente fora do nosso tempo. Mas outros pa\u00edses, que j\u00e1 reconheceram a inadequa\u00e7\u00e3o desse sistema, encontraram solu\u00e7\u00f5es engenhosas e est\u00e3o tocando a vida.<\/p>\n \n Uma das solu\u00e7\u00f5es s\u00e3o associa\u00e7\u00f5es profissionais fortes, que possuem um c\u00f3digo de conduta intelig\u00edvel e acess\u00edvel para todos, associados ou n\u00e3o. Quem quiser fazer parte precisa obedecer ao tal c\u00f3digo, entre outros requisitos. As associa\u00e7\u00f5es podem ter qualquer mote ou filosofia, desde que isso seja claramente comunicado para o p\u00fablico. Como ningu\u00e9m \u00e9 obrigado a se associar, as pessoas se agrupam por vontade pr\u00f3pria e ideais comuns, o que torna a organiza\u00e7\u00e3o mais atuante. Se o profissional n\u00e3o compartilha das ideias, simplesmente n\u00e3o se associa; pode se associar a outra entidade ou a nenhuma.<\/p>\n \n Do ponto de vista do cliente, ele pode escolher contratar algu\u00e9m com o aval de uma associa\u00e7\u00e3o cujas pr\u00e1ticas ele j\u00e1 conhece (claro que o trabalho de divulga\u00e7\u00e3o precisa ser intenso), contratar algu\u00e9m de outra associa\u00e7\u00e3o (porque concorda mais com as ideias) ou simplesmente contratar um profissional que n\u00e3o tem a chancela de ningu\u00e9m por sua pr\u00f3pria conta ou risco.<\/p>\n \n Assim, o cliente n\u00e3o precisa ser preocupad\u00edssimo com a sustentabilidade (a pessoa tem o direito de escolher ser ecologicamente incorreto, se quiser) e contratar profissionais que cumpram a lei (\u00e9 claro), mas foquem na competitividade e inova\u00e7\u00e3o a qualquer custo, por exemplo. Sem problemas, desde que o cliente tenha afinidade com o modus operandi <\/em>do grupo. O importante \u00e9 que as coisas sejam claras para todo mundo e que o cliente possa escolher por afinidade.<\/p>\n \n O que eu penso que n\u00e3o funciona \u00e9 colocar todo mundo no mesmo balaio, de uma maneira completamente for\u00e7ada, e empurrar goela abaixo um c\u00f3digo de \u00e9tica que poucos l\u00eaem. Se o sujeito \u00e9 mais conservador, vai procurar fornecedores que sejam mais parecidos com sua maneira de pensar. Se o cliente quer ousadia nas solu\u00e7\u00f5es, mas est\u00e1 preocupado com o ambiente, h\u00e1 outra associa\u00e7\u00e3o com esse foco. Escolher com informa\u00e7\u00e3o e consci\u00eancia \u00e9 muito melhor para todo mundo.<\/p>\n \n H\u00e1 ag\u00eancias que n\u00e3o trabalham com cigarro ou bebidas alco\u00f3licas por livre escolha \u2014 podiam constituir uma associa\u00e7\u00e3o e inspirar outras que pensam igual mas acreditam ser imposs\u00edvel. H\u00e1 at\u00e9 uma ag\u00eancia de propaganda aqui de Florian\u00f3polis que levou a sua ousadia a um ponto em que eu nunca tinha visto: colocou um manifesto em seu site dizendo com todas as letras que m\u00eddia n\u00e3o \u00e9 fonte de receita para eles (o nome da ag\u00eancia \u00e9 Gl\u00f3bulo C\u00e9lula Criativa<\/a> e sou f\u00e3 de carteirinha, sem trocadilho). E se esses corajosos se unissem em uma associa\u00e7\u00e3o?<\/p>\n \n Mesmo aqui no Brasil, j\u00e1 temos pelo menos um exemplo bem sucedido, quer ver? Se voc\u00ea for fazer uma cirurgia pl\u00e1stica, nem perca tempo pedindo o CRM do doutor; v\u00e1 no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl\u00e1stica<\/a> e veja se ele \u00e9 associado. Os requisitos para fazer parte s\u00e3o muito mais r\u00edgidos que para obter uma licen\u00e7a do conselho e eles levam muito a s\u00e9rio a gest\u00e3o dessa marca de qualidade. Eu, pelo menos, nunca vi um membro envolvido em esc\u00e2ndalos (ali\u00e1s, s\u00f3 soube da sua exist\u00eancia porque cada vez que aparece no jornal alguma v\u00edtima de pl\u00e1stica mal feita aparece um representante dizendo que o m\u00e9dico n\u00e3o era credenciado pela Sociedade).<\/p>\n \n Se a pessoa n\u00e3o quiser contratar um profissional associado, problema dela, \u00e9 sua livre escolha. Se um profissional n\u00e3o quiser se associar, idem. Mas as pessoas que se preocupam com a forma\u00e7\u00e3o de quem vai mexer no seu corpo, t\u00eam o direito de ter uma garantia maior do que a que o conselho oferece.<\/p>\n \n Por que n\u00e3o fazer algo parecido com designers e publicit\u00e1rios?<\/p>\n \n