Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/fascioni/public_html/index.php:4) in /home/fascioni/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1794
{"id":5442,"date":"2010-05-28T09:42:38","date_gmt":"2010-05-28T12:42:38","guid":{"rendered":"http:\/\/ligiafascioni.com.br\/blog\/?p=5442"},"modified":"2010-05-28T09:42:38","modified_gmt":"2010-05-28T12:42:38","slug":"conto-coletivo-onofre","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/conto-coletivo-onofre\/","title":{"rendered":"Conto coletivo: Onofre"},"content":{"rendered":"

\n

\"Fotografia<\/a>
Fotografia modificada (original de Rokman)<\/figcaption><\/figure>\n

Lembra daquela brincadeira em que uma pessoa come\u00e7a uma hist\u00f3ria e as outras v\u00e3o continuando? Pois \u00e9. O Fernando Cabral, compadre do Facebook, convidou algumas pessoas para brincar com ele, e se lembrou de mim (honra!).<\/p>\n

Funcionou assim: ele postou um par\u00e1grafo e os convidados iam se inscrevendo para a parte que desejavam continuar (de um a 10). Eu escrevi o terceiro par\u00e1grafo e foi muito divertido! Cada pessoa que continuava, dava uma volta na hist\u00f3ria e mudava tudo. Adorei!<\/p>\n

O resultado segue abaixo e os autores foram, por ordem de participa\u00e7\u00e3o: Fernando Cabral, Walter Cesar Lencina, L\u00edgia Fascioni, Marina Bortoluzzi, Alexandre Freire, Antero Neto, Gustavo \u00c1vila, Dino Cantelli, Keigiro Ueno e Pedro Cavalcanti.<\/p>\n

*****<\/p>\n

ONOFRE<\/strong><\/p>\n

Nos 32 c\u00f4modos do casar\u00e3o, Onofre buscava se entreter. Surdo de um
\nouvido, tinha um olho inutilizado pelo estouro de uma l\u00e2mpada quando
\nrec\u00e9m-nascido. Margarida nunca se perdoou, e criou Onofre com tanta
\nprote\u00e7\u00e3o que ele nunca havia ido al\u00e9m dos limites da propriedade. Seu
\nmundo era o casar\u00e3o, Dona Margarida e Clemente, o sexagen\u00e1rio. A vida de Onofre n\u00e3o era de surpresas. At\u00e9 aquele dia em que tudo come\u00e7ou a mudar.
\n
\nComo voc\u00ea entrou aqui? \u2013 perguntou Onofre, entre curioso e assustado. Nunca tinha visto aquela menina, ali\u00e1s, nunca tinha visto menina alguma, nenhuma outra crian\u00e7a sequer. S\u00f3 conhecia as pessoas atrav\u00e9s de fotografias antigas, e mesmo estas, Margarida n\u00e3o deixava o menino ver com freq\u00fc\u00eancia. \u201cFotografias s\u00e3o mentiras de papel\u201d, costumava dizer, autorit\u00e1ria, entre um suspiro e outro. Por causa de seu problema, o f\u00f4lego n\u00e3o lhe permitia dizer frases muito longas. Mesmo as frases mais curtas lhe exigiam uma tomada de f\u00f4lego grande, e por isso, ela pouco falava. Mas al\u00e9m de isolar Onofre naquele casar\u00e3o, escondendo-lhe fotos e outras refer\u00eancias, Margarida abominava a televis\u00e3o: o menino nunca tinha visto uma \u2013 e jamais veria, segundo a sua proposta. E em meio a tanto boicote e seq\u00fcestro de comunica\u00e7\u00e3o com o mundo exterior, Onofre sequer sabia se deveria sentir medo, alegria ou espanto diante daquela menina, ali, parada diante dele, apenas olhando-o com seu olhar muito negro, bem dentro dos olhos.<\/p>\n

Notou que um dos olhos da menina era cego como o seu. Seriam todos os seres humanos assim? Ela carregava duas goiabas em uma das m\u00e3os e o que parecia ser a miniatura de um ser humano de cabelos compridos na outra. Muito estranhas as roupas do pequeno humano paralisado, coloridas demais para algu\u00e9m usar. A menina deu uma mordida numa das goiabas e apontou a outra na dire\u00e7\u00e3o de Onofre. O gesto foi acompanhado de um esbo\u00e7o de sorriso que parecia mais um convite. Ela abriu a boca e perguntou: “qual o seu apelido?”<\/p>\n

– Apelido? O que \u00e9 apelido?, indagou Onofre.
\n– Apelido, oras. O meu \u00e9 Jujuba, n\u00e3o porque me chamo Juliana, mas por adorar balas!
\n– N\u00e3o tenho um apelido….
\n– Vamos criar um! Do que voc\u00ea gosta?
\n– N\u00e3o sei.
\n– Hmmm, e como lhe chamam?
\n– De Onofre.
\n– E quem \u00e9 esse do seu lado?
\n– Quem?<\/p>\n

Onofre, sem entender o que ali acontecia, se surpreende ao aparecer, subitamente, um cachorro serelepe lambendo seus p\u00e9s.
\n– Ele \u00e9 lindo! Voc\u00ea j\u00e1 foi com ele na \u00c1rvore dos Desejos Imposs\u00edveis?
\n– Mas eu nem o conhecia…\u00c1rvore dos Desejos Imposs\u00edveis?
\n– \u00c9, eu …<\/p>\n

Bem no meio da hesita\u00e7\u00e3o de Onofre, Jujuba agarrou sua m\u00e3o e saiu correndo, com o cachorro atr\u00e1s deles. Foi ent\u00e3o que ele percebeu o que nunca tinha se dado conta: o quintal do casar\u00e3o tamb\u00e9m se estendia para o lado esquerdo da porta principal.
\nDizem que se a pessoa fica cega de um olho, depois de um per\u00edodo o c\u00e9rebro iguala a vis\u00e3o a uma forma aproximada ao que era antes. Mas com Onofre isso n\u00e3o ocorreu. Talvez por ter acontecido t\u00e3o cedo e seu c\u00e9rebro n\u00e3o ter um registro consistente de uma vis\u00e3o com os dois olhos.<\/p>\n

N\u00e3o demorou muito para pararem de correr, mas ainda assim, Onofre estava cansado. As limita\u00e7\u00f5es da sua vida refletiam at\u00e9 no seu preparo f\u00edsico. Apoiou as m\u00e3os nos joelhos para tomar f\u00f4lego, quando ent\u00e3o, olhou para frente e finalmente viu o que Jujuba chamava de \u00c1rvore dos Desejos Imposs\u00edveis.<\/p>\n

\u201c\u00c9 isso? Uma macieira? A tal \u00c1rvore dos Desejos Imposs\u00edveis \u00e9 uma macieira?\u201d, disse Onofre numa ineg\u00e1vel revers\u00e3o de expectativa. Jujuba, agora carregando tr\u00eas goiabas, sorri tenramente e explica ao seu novo amigo do que se trata a referida \u00e1rvore: \u201cEla n\u00e3o \u00e9 uma macieira, Onofre. A \u00c1rvore dos Desejos Imposs\u00edveis, na realidade, nem sequer \u00e9 uma \u00e1rvore. Ela s\u00f3 tem esse nome porque \u201cproduz\u201d desejos, entendeu? Na verdade, ela se parece com o que voc\u00ea quiser que ela se pare\u00e7a. E voc\u00ea, como viveu a vida toda nos limites do casar\u00e3o, aprendeu a ver no mundo somente as coisas que existiam dentro do limite da propriedade. Provavelmente voc\u00ea se deixou levar pelo nome \u201c\u00e1rvore\u201d. Tente de novo. Imagine que ela \u00e9 outra coisa.\u201d<\/p>\n

Ou prefere ir direto para os desejos? \u2013 disse Jujuba, deixando transparecer toda sua ansiedade.
\n– Se essa \u00e1rvore realiza desejos imposs\u00edveis, porque voc\u00ea nunca pediu para ver com os dois olhos? \u2013 desafiou, o c\u00e9tico Onofre.
\n– Porque eu n\u00e3o quero – Jujuba disse, sem pestanejar.
\n– Porque n\u00e3o?…
\n– Deve ser estranho ter os dois olhos funcionando ao mesmo tempo. Imagina… ver tudo em dobro…
\nOnofre parou para pensar. A princ\u00edpio a ideia pareceu confusa, mas depois concordou que deveria ser estranho mesmo.
\n– Nosso olho apagado \u00e9 o reserva – disse Jujuba, com ing\u00eanua convic\u00e7\u00e3o.
\n– Reserva?
\n– \u00c9, reserva. Quando o olho que a gente usa ficar gasto de tanto ver as coisas, ele vai apagar, a\u00ed o outro come\u00e7a a funcionar. Novinho.
\nOnofre ficou pensativo de novo. Era outra ideia estranha da menina, mas que tamb\u00e9m fazia sentido.
\n– Ent\u00e3o um dos meus ouvidos tamb\u00e9m deve ser isso. Um ouvido reserva! – Onofre se encheu de empolga\u00e7\u00e3o.
\n– N\u00e3o, com o ouvido \u00e9 diferente. O seu \u00e9 quebrado mesmo.
\nOnofre colocou a m\u00e3o no ouvido ruim e sua empolga\u00e7\u00e3o murchou.
\n– Mas sorte sua.
\n– Sorte minha? Sorte minha ter um ouvido quebrado?
\n– Claro. \u00c9 horr\u00edvel ter os dois ouvidos. Uma hora algu\u00e9m te chama de um lado, depois algu\u00e9m j\u00e1 te chama de outro, e se voc\u00ea n\u00e3o presta aten\u00e7\u00e3o em todo mundo, vem algu\u00e9m e diz: n\u00e3o t\u00e1 meu escutando? Tem dois ouvidos pra qu\u00ea? \u2013 disse, Jujuba, imitando uma bronca.
\nOnofre ficou quieto, mas logo armou um pequeno sorriso nos cantos da boca. Olhou para um fruto da \u00e1rvore que come\u00e7ava a se mexer, como se algo l\u00e1 dentro quisesse rasgar a casca, e disse:
\n– J\u00e1 sei o que vou pedir pra \u00e1rvore, ou o que quer que isso seja.<\/p>\n

– Quero morrer.<\/p>\n

– Qu\u00ea!? – Jujuba nunca ouvira um pedido daqueles. Uma coisa t\u00e3o vazia como o olho que lhes faltava.
\n– Quero morrer e reviver. Nunca ningu\u00e9m voltou para dizer se \u00e9 bom, se \u00e9 ruim, se tem gritos, d\u00e1 medo ou todos est\u00e3o de branco. E se essa \u00e1rvore realiza todos os desejos. No mais imposs\u00edveis, quero morrer.
\n– Voc\u00ea n\u00e3o pode morrer. – disse Jujuba chorando de um olho….
\n– Por que n\u00e3o? E por que voc\u00ea chora? Voc\u00ea j\u00e1 morreu alguma vez?
\n– N\u00e3o, nunca morri.
\n– Ent\u00e3o! Deixa eu morrer e viver de novo. A \u00e1rvore n\u00e3o faz tudo que eu pedir?
\n– Faz.
\n– Ent\u00e3o eu vou pedir. Pode ser que a morte seja melhor do que a minha vida.
\nJujuba fica sem resposta.
\n– Como \u00e9 que se faz? Tem alguma frase, algum c\u00f3digo pra fazer o pedido?
\n– N\u00e3o, \u00e9 s\u00f3 olhar pra ela e pedir.<\/p>\n

Mesmo assim, Onofre esbo\u00e7a um tipo de ritual, meio que inventado na hora. Ele d\u00e1 tr\u00eas passos \u00e0 frente, deixando Jujuba para tr\u00e1s como mera espectadora. Ajoelha-se, une as m\u00e3os como quem vai rezar, com os dedos entrela\u00e7ados. Respira fundo e come\u00e7a a formatar sua frase. Jujuba, sentada, tamb\u00e9m fica em sil\u00eancio completo. Coincid\u00eancia ou n\u00e3o, o pouco vento que soprava cessa repentinamente, fazendo com que at\u00e9 mesmo a \u00c1rvore dos Desejos Imposs\u00edveis fizesse um momento de sil\u00eancio para respeitar a morte de Onofre.<\/p>\n

Neste exato momento, o ouvido bom de Onofre mostra o quanto havia se desenvolvido para compensar o ouvido quebrado. Ele ouve gritos ao longe. Gritos de Margarida. Gritos de Clemente.
\n– Jujuba, voc\u00ea ouviu isso?<\/p>\n

Margarida e Clemente se aproximavam a passos de canguru. O cora\u00e7\u00e3o de Onofre pulava a passos de Canguru. E Jujuba virou verbo: saiu correndo com medo da rea\u00e7\u00e3o de Margarida e Clemente. Onofre n\u00e3o sabia o que dizer:
\n– Eu… eu vim dar uma volta e acabei me perdendo.<\/p>\n

Margarida, quase gritando, ordenou:
\n– Voc\u00ea vai voltar agora para casa com a gente. Vamos.<\/p>\n

Ent\u00e3o, arrastado \u00e0 for\u00e7a por Margarida e Clemente, Onofre dava adeus ao lado de fora do casar\u00e3o. Mas ele tinha o poder de conversar com o vento. E usou esse poder. Disse em voz baixa que gostaria de ser um p\u00e1ssaro. O vento levou as palavras de Onofre at\u00e9 a \u00e1rvore que, a essa altura, j\u00e1 ia ficando para tr\u00e1s. Clemente e Margarida tomaram um susto. De repente, viram suas m\u00e3os segurando as asas de um gavi\u00e3o. Soltaram assustados. E Onofre saiu voando com a curiosidade de um presidi\u00e1rio rec\u00e9m-libertado.<\/p>\n

A lenda de Onofre \u00e9 contada em v\u00e1rias partes do mundo atualmente. Segundo ela, Onofre \u00e9 um p\u00e1ssaro que ajuda crian\u00e7as a ganhar a liberdade quando seus pais se mostram ditadores e hostis. E dizem por a\u00ed que o p\u00e1ssaro Onofre ainda vai aparecer um dia no lugar do logotipo do Google. Assim, todos v\u00e3o aprender a li\u00e7\u00e3o: quem procura a liberdade, um dia acaba achando.<\/p>\n

[Clique aqui<\/a> para ver a p\u00e1gina original].<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Lembra daquela brincadeira em que uma pessoa come\u00e7a uma hist\u00f3ria e as outras v\u00e3o continuando? Pois \u00e9. O Fernando Cabral, compadre do Facebook, convidou algumas pessoas para brincar com ele, e se lembrou de mim (honra!). Funcionou assim: ele postou um par\u00e1grafo e os convidados iam se inscrevendo para a parte que desejavam continuar (de […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":5443,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"footnotes":"","two_page_speed":[],"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false},"categories":[25,75],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5442"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=5442"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5442\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=5442"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=5442"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=5442"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}