![\"26_mhb_edu_palavras.jpg\"](\"http:\/\/ligiafascioni.files.wordpress.com\/2008\/03\/26_mhb_edu_palavras.jpg\")
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O assunto dessa semana na minha coluna \u00e9 o uso indevido que se d\u00e1 a algumas palavras. D\u00e1 uma olhada…<\/p>\n
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26-03-2008 Somente a l\u00edngua nos faz seres humanos. Somente a l\u00edngua nos disting\u00fce dos animais. Com essas duas frases concisas, Dietrich Schwanitz, em seu \u201cCultura geral, tudo o que se deve saber<\/strong>\u201d resume bem a import\u00e2ncia da palavra na nossa vida.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n E ele vai mais longe: quem n\u00e3o consegue se expressar corretamente, tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 capaz de pensar corretamente. Assim, quem se articula de uma maneira limitada, tamb\u00e9m tem seu mundo interior limitado, n\u00e3o consegue estruturar linhas de racioc\u00ednio mais complexas. N\u00e3o consegue nem entender e nem expressar direito o que sente e pensa, pois o vocabul\u00e1rio \u00e9 pobre e n\u00e3o d\u00e1 conta do muito que \u00e9 a vida. Basta assistir 15 minutos de BBB para ver uma demonstra\u00e7\u00e3o pr\u00e1tica dessa teoria.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Dietrich n\u00e3o deixa por menos e ainda completa: mais do que a fala, a escrita \u00e9 a chave para o dom\u00ednio de uma l\u00edngua. Falando, a gente pode descrever coisas e pessoas, mas n\u00e3o d\u00e1 para abstrair muito, o esfor\u00e7o para acompanhar o desenrolar da argumenta\u00e7\u00e3o \u00e9 muito grande. Por meio da escrita, \u00e9 poss\u00edvel libertar a linguagem da situa\u00e7\u00e3o concreta (fatos) e torn\u00e1-la independente do contexto (id\u00e9ias). Quando a gente fala, a emo\u00e7\u00e3o predomina sobre a objetividade; quando escreve ou l\u00ea, desenvolve muito mais a capacidade de abstra\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Dito isso, \u00e9 de se lamentar que para boa parte das pessoas, a palavra falada seja a \u00fanica fonte de informa\u00e7\u00e3o e tamb\u00e9m a \u00fanica forma de comunica\u00e7\u00e3o. E o que acontece \u00e9 que a palavra escrita, por absoluta falta de intimidade do usu\u00e1rio, \u00e9 freq\u00fcentemente distorcida em seu sentido original. As pessoas colocam seus neg\u00f3cios em risco em armadilhas causadas por elas pr\u00f3prias. Seria c\u00f4mico, se n\u00e3o fosse tr\u00e1gico…<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Olha s\u00f3: sempre dou uma geral nos spams<\/em> antes de apag\u00e1-los e esses dias me deparei com o seguinte convite: \u201cCurso de acidentes de tr\u00e2nsito<\/em>\u201d. Ora, ora, como \u00e9 que posso perder um curso desses? Fui l\u00e1 olhar: era um curso que ensinava como interpretar acidentes e descobrir suas causas; o p\u00fablico de interesse era principalmente policiais e peritos (al\u00e9m de curiosos em geral). Mais um trope\u00e7o na descri\u00e7\u00e3o: \u201cuso de metodologias cient\u00edficas para revelar e concretar os elementos dispon\u00edveis..<\/em>.\u201d. Se isso n\u00e3o \u00e9 \u201cfalar dif\u00edcil\u201d, ent\u00e3o n\u00e3o fa\u00e7o id\u00e9ia do que seja…<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n H\u00e1 outras confus\u00f5es f\u00e1ceis de encontrar: <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Um grupo de pagode publicou o an\u00fancio de uma apresenta\u00e7\u00e3o na sua p\u00e1gina na internet com a seguinte chamada: \u201cn\u00e3o deixe de perder o grande show…<\/em>\u201d.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Numa estrada no interior de S\u00e3o Paulo vi um \u00f4nibus enorme com a marca estampada em letras garrafais: PANEXPRESS. \u00c9 isso, precisando de uma pane com urg\u00eancia, \u00e9 s\u00f3 chamar.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n E o site da empresa de transporte ilhoa Canasvieiras Transportes? Ainda bem que eles se deram conta e mudaram, mas at\u00e9 pouco tempo atr\u00e1s, o endere\u00e7o era www.CANASTRANS.com.br. N\u00e3o combinava mesmo.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Na mesma estrada do \u00f4nibus da pane, vi um carro de uma prefeitura com os seguintes dizeres: \u201cOnde estou? Como estou dirigindo? Ligue XXX<\/em>\u201d. Depois de pensar bastante conclu\u00ed que aquele \u201conde estou?<\/em>\u201d era por ser aquele um carro oficial e n\u00e3o poderia ser pego em qualquer lugar. A inten\u00e7\u00e3o at\u00e9 d\u00e1 para entender, mas ficou parecendo muito uma crise existencial de um motorista perdido e inseguro, n\u00e9?<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Frase de uma celebridade instant\u00e2nea em pleno carnaval: \u201cme deram essa oportunidade e eu agarrei de bra\u00e7os abertos..<\/em>.\u201d<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Numa padaria aqui da agron\u00f4mica, at\u00e9 bem pouco tempo havia uma placa na porta: \u201cProve a rosquinha do seu Jo\u00e3o<\/em>\u201d. Nunca me arrisquei.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n Num hotel quatro estrelas, em Joinville, tinha um cartaz ao lado do computador dizendo que \u201cfica restrito o acesso a sites pornogr\u00e1ficos<\/em>\u201d. Eu juro que o hotel era familiar!<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n E tem a distor\u00e7\u00e3o proposital, concebida por gente que, em tese, deveria conhecer bem os significados das palavras, pelo menos as mais usadas. Sen\u00e3o, como justificar a propaganda das Lojas Salfer (bem lembrada pelo Julio Pimentel na semana passada) que jura que os funcion\u00e1rios da loja s\u00e3o apaixonados por mim, que nem sou cliente? Ficou muito parecido com a prostituta brasileira piv\u00f4 do \u00faltimo esc\u00e2ndalo americano que, ao desembarcar como estrela no Brasil deu a seguinte declara\u00e7\u00e3o: \u201cAmo todos voc\u00eas<\/em>\u201d. Pior que amor e paix\u00e3o em escala industrial, s\u00f3 mesmo o PT insistindo na sua \u00e9tica e o \u201cnovo conceito\u201d em pizzaria.<\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n \n \u00c9 engra\u00e7ado e divertido observar deslizes alheios, mas n\u00e3o deixa de ser um pouco melanc\u00f3lico. Se o dom\u00ednio da l\u00edngua \u00e9 que define a cultura e o grau de civilidade de um povo, d\u00e1 para dizer que somos todos analfabetos. <\/span><\/p>\n