Sempre tive um carinho especial por dicion\u00e1rios. Apesar de eu ter sido a primeira pessoa da minha fam\u00edlia a ter curso superior, sempre se leu muito l\u00e1 em casa. A gente tinha um dicion\u00e1rio na cozinha, porque na hora do almo\u00e7o era a \u00fanica maneira de encerrar as discuss\u00f5es acalorad\u00edssimas dos Fascioni (tutti buona genti…<\/em>).<\/p>\n Adoro abrir um dicion\u00e1rio e ficar achando coisas, at\u00e9 me esquecer do que estava procurando. Em casa tenho v\u00e1rios, inclusive um grego-ingl\u00eas e um russo-alem\u00e3o que ganhei de um amigo austr\u00edaco do meu pai.<\/p>\n Pois na \u00faltima vez em que estive em Sampa, naquele para\u00edso que \u00e9 a Livraria Cultura do Conjunto Nacional, n\u00e3o pude resistir ao “Dicion\u00e1rio Anal\u00f3gico da L\u00edngua Portuguesa<\/em><\/strong>“, de Francisco Ferreira dos Santos. O anal\u00f3gico, no caso, n\u00e3o \u00e9 em oposi\u00e7\u00e3o ao digital; tem a ver com o fato da obra usar analogias e ideias relacionadas, em vez de trazer apenas o significado como os dicion\u00e1rios comuns.<\/p>\n Ali\u00e1s, esse \u00e9 um dicion\u00e1rio bem diferente dos outros, j\u00e1 que as palavras n\u00e3o est\u00e3o por ordem alfab\u00e9tica. O conceito de um dicion\u00e1rio anal\u00f3gico, ou Thesaurus<\/em>, foi criado por Peter Mark Roget <\/em>em 1805. Ele parte do pressuposto que nos dicion\u00e1rios comuns a gente busca os significados de uma palavra que j\u00e1 conhece para entend\u00ea-la melhor e fazer uso correto dela.<\/p>\n Ao contr\u00e1rio, num Thesaurus<\/em>, a gente j\u00e1 tem a no\u00e7\u00e3o do significado e do uso; s\u00f3 n\u00e3o nos ocorre uma palavra que se encaixaria direitinho no contexto. Ent\u00e3o, olha s\u00f3 que moderno: o Thesaurus<\/em>, a partir de poss\u00edveis significados, oferece uma nuvem de palavras relacionadas \u2014 s\u00e3o voc\u00e1bulos an\u00e1logos com maior ou menor grau de proximidade e exatid\u00e3o. Assim a gente descobre um mont\u00e3o de coisas, inclusive, talvez, uma palavra que traduza bem o que a gente est\u00e1 querendo dizer.<\/p>\n Usar um Thesaurus<\/em> n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o intuitivo como um dicion\u00e1rio comum e requer um pouco de pr\u00e1tica (ainda estou aprendendo).<\/p>\n Primeiro, as palavras s\u00e3o organizadas em 6 classes com suas respectivas divis\u00f5es: rela\u00e7\u00f5es abstratas<\/strong> (exist\u00eancia, rela\u00e7\u00e3o, quantidade, ordem, n\u00famero, tempo, mudan\u00e7a, causa), espa\u00e7o<\/strong> (em geral, dimens\u00f5es, forma, movimento), mat\u00e9ria<\/strong> (em geral, inorg\u00e2nica, org\u00e2nica), entendimento<\/strong> (forma\u00e7\u00e3o das ideias, comunica\u00e7\u00e3o das ideias), vontade<\/strong> (individual, com refer\u00eancia \u00e0 sociedade) e afei\u00e7\u00f5es<\/strong> (em geral, pessoais, simp\u00e1ticas, morais, religiosas). Depois, \u00e9 apresentado um quadro sin\u00f3ptico de categorias, onde se desdobra cada divis\u00e3o para a pessoa se orientar quando for procurar uma palavra e suas ideias afins. Para quem \u00e9 iniciante e est\u00e1 um pouco perdido, h\u00e1 um \u00edndice remissivo no final que ajuda bastante.<\/p>\n Em portugu\u00eas, essa \u00e9 a segunda edi\u00e7\u00e3o da obra (a primeira foi h\u00e1 60 anos) e n\u00e3o se conhece outro dicion\u00e1rio impresso de ideias afins no Brasil t\u00e3o amplo e completo (h\u00e1 apenas trabalhos para \u00e1reas de conhecimento espec\u00edficas).<\/p>\n