![\"\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2011\/01\/dsc02915-300x190.jpg\" "\\"dsc02915\\"")
<\/a><\/p>\nPode ser coincid\u00eancia, mas s\u00f3 essa semana ouvi a mesma frase de tr\u00eas pessoas diferentes em contextos distintos: \u201cAh, mas est\u00e1 errado, isso n\u00e3o \u00e9 coisa de gente normal!<\/em>\u201d. Pois a\u00ed est\u00e1 uma boa quest\u00e3o: o que \u00e9 ser normal?<\/p>\n Bom, segundo os dicion\u00e1rios, normal \u00e9 o que segue uma norma ou regra. Tamb\u00e9m se usa para qualificar algo que \u00e9 comum, usual, de praxe.<\/p>\n Na estat\u00edstica, normal \u00e9 aquela curva em forma de sino onde a maioria esmagadora dos resultados mais freq\u00fcentes encontrados em uma pesquisa ocupam toda a parte gordinha, e o restante (resultados menos freq\u00fcentes) fica apenas com as beiradas.<\/p>\n Mesmo tendo origens distintas, as duas defini\u00e7\u00f5es convergem: normal \u00e9 aquilo que \u00e9 mais comum, freq\u00fcente, que reflete o comportamento da maioria. O problema \u00e9 que algumas pessoas utilizam normal como sin\u00f4nimo de CERTO e, portanto, quem n\u00e3o segue a maioria est\u00e1 errado. \u00c9 claro, se a maioria das pessoas faz uma coisa, essa coisa s\u00f3 pode ser a certa, confere?<\/p>\n Pois \u00e9, at\u00e9 poderia ser se a gente se esquecer que j\u00e1 foi normal (e , portanto, para alguns, certo), comprar e vender seres humanos como escravos; queimar pessoas vivas s\u00f3 porque elas eram mulheres e n\u00e3o praticavam o catolicismo com o devido fervor; submeter seres humanos a trabalhos for\u00e7ados e mat\u00e1-los em c\u00e2maras de g\u00e1s s\u00f3 porque eram judeus; incentivar a pedofilia (ou como poderia se chamar a pr\u00e1tica de fam\u00edlias que negociavam casamentos entre meninas de 12 ou 13 anos e velhos ricos?) e por a\u00ed vai. Esses comportamentos, que parecem horr\u00edveis, j\u00e1 foram amplamente aceitos pela sociedade e, inclusive, legalmente justificados. Normal e estritamente dentro das regras, portanto. Mas certo?<\/p>\n Penso que a gente deve tomar o maior cuidado com as palavras de maneira geral, e com a palavra normal particularmente. S\u00f3 porque algu\u00e9m n\u00e3o age como a maioria, n\u00e3o significa que esteja errado. Normal e certo n\u00e3o t\u00eam nenhuma rela\u00e7\u00e3o entre si. Ser anormal n\u00e3o deveria ter esse sentido pejorativo que a gente conhece t\u00e3o bem. Lembro de uma frase de Thoureau que marcou a minha adolesc\u00eancia e que dizia \u201cse um homem n\u00e3o acerta o passo com seus companheiros, talvez seja porque escuta um tambor diferente<\/em>\u201d. O anormal \u00e9 diferente, s\u00f3 isso.<\/p>\n Ainda bem que existem os anormais, pois s\u00e3o justamente aqueles que fazem diferen\u00e7a, fazem as coisas mudarem e o mundo evoluir. S\u00e3o os que questionam a validade e a pertin\u00eancia das regras, que prezam a liberdade (sua e dos outros) e, principalmente, que incomodam os normais.<\/p>\n N\u00e3o deviam, at\u00e9 porque o incomum Caetano j\u00e1 disse, com muita propriedade que, \u201cde perto ningu\u00e9m \u00e9 normal<\/em>\u201d. Imposs\u00edvel caber inteirinho dentro de um sino.<\/p>\n