![\"\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2007\/05\/12993.jpg\" "\\"12993\\"")
<\/a>Olhe para esse muro da imagem: ele est\u00e1 pintado ou n\u00e3o? Cabem as duas respostas, dependendo de como se encara o conceito de pintado.<\/p>\n
Coisa parecida acontece com o impasse sobre a quest\u00e3o da maioridade penal (na aurora dos 18 anos a pessoa passa a ser respons\u00e1vel por tudo o que n\u00e3o era at\u00e9 a noite anterior?) me fez refletir sobre como as coisas poderiam ser mais simples se os nossos legisladores e juristas conhecessem um pouco mais de matem\u00e1tica do que as quatro opera\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
Estou falando sobre a l\u00f3gica difusa<\/strong> ou nebulosa<\/strong> (fuzzy logic<\/em>, do original em ingl\u00eas). A quest\u00e3o \u00e9 a seguinte: desde que o homem come\u00e7ou a ensaiar seu racioc\u00ednio l\u00f3gico, um problema cl\u00e1ssico rouba o sono dos pensadores \u2013 uma coisa pode ser mais ou menos verdadeira ou falsa<\/strong>? Em outras palavras: uma pessoa pode ser mais ou menos menor de idade?<\/p>\n Muito antes dos nossos assassinos juvenis contempor\u00e2neos, Plat\u00e3o j\u00e1 se ocupava com o problema. Noites insones fizeram-no contestar Parm\u00eanides em sua l\u00f3gica bin\u00e1ria (sim ou n\u00e3o) e defender a tese de que deveria haver uma terceira op\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Em meados de 1900, o matem\u00e1tico polon\u00eas Lukasiewicz apresentou a formaliza\u00e7\u00e3o de uma l\u00f3gica trin\u00e1ria<\/strong>, que admitia um valor entre o verdadeiro e falso, traduzida como \u201cposs\u00edvel\u201d. Mas isso n\u00e3o resolvia tudo, e vieram l\u00f3gicas quatern\u00e1rias, quintu\u00e1rias e outras tais onde nem mesmo sei que \u201c\u00e1rias\u201d poderiam ser. Estavam os matem\u00e1ticos a se debater com solu\u00e7\u00f5es complicad\u00edssimas quando em 1973, veio o genial professor azerbaij\u00e3o Lofti Zadeh<\/strong>, da Universidade de Berkeley (EUA), com uma solu\u00e7\u00e3o realmente revolucion\u00e1ria e inovadora: a l\u00f3gica difusa<\/strong>.<\/p>\n Zadeh usou o seu pensamento lateral para abordar o problema de uma forma que ningu\u00e9m tinha pensado antes (pelo menos n\u00e3o com um enunciado de regras t\u00e3o simples e claro). No sistema l\u00f3gico convencional<\/strong>, ao qual chamamos crisp<\/strong> (n\u00e3o consigo achar uma tradu\u00e7\u00e3o adequada), quando precisamos classificar uma casa de grande ou pequena, usamos regras simpl\u00f3rias \u2013 se ela tem at\u00e9 100 m2, \u00e9 pequena. Se tem mais, \u00e9 grande. Mas e se ela tiver 99 m2? \u00c9 pequena? \u00c9 a mesma quest\u00e3o do adolescente \u2013 se ele tiver at\u00e9 17 anos e 364 dias \u00e9 menor de idade. Horas depois, ele j\u00e1 \u00e9 maior. Uma coisa meio simplista, para n\u00e3o dizer est\u00fapida, n\u00e3o parece?<\/p>\n Com a l\u00f3gica difusa, a pergunta muda: n\u00e3o se trata mais de saber se uma pessoa \u00e9 maior de idade, mas o quanto essa pessoa pertence ao conjunto dos maiores de idade!<\/strong> Assim, basta definir a fun\u00e7\u00e3o matem\u00e1tica que vai descrever o conjunto difuso dos adultos e aplicar a idade atual do meliante \u00e0 equa\u00e7\u00e3o para saber o qu\u00e3o adulto ele \u00e9. A defini\u00e7\u00e3o da fun\u00e7\u00e3o matem\u00e1tica \u00e9 um ponto importante, que se chama calibra\u00e7\u00e3o. O conjunto difuso pode ter qualquer forma geom\u00e9trica<\/strong> que se queira \u2013 basta estudar a mais adequada \u00e0 aplica\u00e7\u00e3o em quest\u00e3o. Ent\u00e3o, dependendo da fun\u00e7\u00e3o matem\u00e1tica, poder\u00edamos inferir que uma pessoa de 16 anos pertence 80% ao conjunto dos adultos \u2013 poderia, ent\u00e3o, receber 80% da pena. J\u00e1 uma crian\u00e7a de 10 anos pertenceria 6%, e por a\u00ed vai.<\/p>\n Claro est\u00e1 que isso n\u00e3o resolve a causa, apenas o efeito, mas j\u00e1 \u00e9 alguma coisa para come\u00e7ar a prover essa discuss\u00e3o de p\u00e9 e cabe\u00e7a. A l\u00f3gica difusa foi uma febre nos anos 80 e 90 do s\u00e9culo passado, sendo amplamente usada em sistemas de automa\u00e7\u00e3o e controle industrial, principalmente em rob\u00f3tica. As aplica\u00e7\u00f5es v\u00e3o desde pesquisas em ci\u00eancias naturais e sociais, engenharia, medicina, sistemas de tomada de decis\u00e3o, computa\u00e7\u00e3o, at\u00e9 a constru\u00e7\u00e3o de eletrodom\u00e9sticos inteligentes, como aparelhos de ar condiconado e m\u00e1quinas de lavar roupa, que podem analisar o qu\u00e3o suja est\u00e1 a roupa para escolher o melhor programa para lav\u00e1-la. Na minha tese de doutorado, usei conjuntos difusos para traduzir a linguagem natural em uma pesquisa sobre imagem corporativa.<\/p>\n Se a l\u00f3gica difusa j\u00e1 serviu para tanta coisa, por que n\u00e3o poderia ser mais uma ferramenta para nossos legisladores, designers, jornalistas, publicit\u00e1rios, e quem mais topar? Chamam-na de l\u00f3gica difusa, mas, na minha opini\u00e3o ela \u00e9 muito clara. A nossa l\u00f3gica atual \u00e9 que \u00e9 confusa<\/strong>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Se a l\u00f3gica difusa j\u00e1 serviu para tanta coisa, por que n\u00e3o poderia ser mais uma ferramenta para nossos legisladores, designers, jornalistas, publicit\u00e1rios, e quem mais topar? Chamam-na de l\u00f3gica difusa, mas, na minha opini\u00e3o ela \u00e9 muito clara. 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