<\/a>Hoje vi uma entrevista de uma atriz dizendo que est\u00e1 com um projeto novo, mas ainda \u00e9 segredo. Recebi tamb\u00e9m um convite para um curso que promete ensinar a pessoa a elaborar um projeto de vida glorioso. Nossa, parece at\u00e9 que quem n\u00e3o tem um projeto ou n\u00e3o est\u00e1 metido em um n\u00e3o existe, digamos assim, como \u201cpessoa humana\u201d.<\/p>\n

Para o design e para a engenharia, o projeto \u00e9 um registro t\u00e9cnico que permite que o objeto concebido possa ser reproduzido em escala. Mas h\u00e1 uma outra defini\u00e7\u00e3o, mais gen\u00e9rica, que serve para o que quero discutir agora e se encaixa perfeitamente nos exemplos iniciais: Projeto \u00e9 qualquer empreendimento tempor\u00e1rio<\/strong> (com in\u00edcio, meio e fim) constitu\u00eddo unicamente para alcan\u00e7ar um objetivo<\/strong>. Sob essa \u00f3tica, fazer uma mala pode ser um projeto. Elaborar uma solu\u00e7\u00e3o que envolva conhecimentos de design para resolver um problema qualquer tamb\u00e9m.<\/p>\n

Como transito entre os dois lados do balc\u00e3o, n\u00e3o raro ou\u00e7o reclama\u00e7\u00f5es de clientes sobre designers que n\u00e3o cumprem prazos, que n\u00e3o s\u00e3o pontuais, que n\u00e3o conseguem se organizar quando est\u00e3o tocando v\u00e1rios projetos ao mesmo tempo. Boa parte dessa fama \u00e9 justificada, e n\u00e3o s\u00f3 para esses profissionais. O mundo est\u00e1 cada vez mais complexo, e se organizar no meio dessa confus\u00e3o exige disciplina<\/strong> e m\u00e9todo<\/strong>.<\/p>\n

A disciplina depende de cada um, mas o m\u00e9todo se chama gerenciamento de projetos<\/strong>. A lebre foi levantada em meados da Segunda Guerra Mundial, onde o mundo tinha que evoluir tecnologicamente com prazos apertad\u00edssimos e muitos planos importantes e urgentes andando em paralelo. Fica f\u00e1cil de entender porque a Marinha Americana e a NASA (aquela dos foguetes) foram t\u00e3o importantes no desenvolvimento dessa \u00e1rea da administra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A id\u00e9ia principal do gerenciamento de projetos \u00e9 que qualquer empreendimento tempor\u00e1rio com objetivo definido (de qualquer \u00e1rea, inclusive design) possa se utilizar de ferramentas para aumentar a sua chance de sucesso. Mas o que \u00e9 sucesso em um projeto? Essa parte eu adoro, olha s\u00f3. Para um projeto ser considerado bem sucedido, as seguintes condi\u00e7\u00f5es t\u00eam que ser atendidas:<\/p>\n

1. Objetivos alcan\u00e7ados dentro do prazo<\/strong> previsto.<\/p>\n

2. Or\u00e7amento<\/strong> respeitado.<\/p>\n

3. Qualidade<\/strong> do produto entregue compat\u00edvel com a especificada no escopo.<\/p>\n

4. Realiza\u00e7\u00e3o de todas as etapas com seguran\u00e7a<\/strong> para os participantes.<\/p>\n

5. Satisfa\u00e7\u00e3o<\/strong> de todas as pessoas envolvidas no projeto.<\/p>\n

A parte que eu mais gosto \u00e9 a da satisfa\u00e7\u00e3o de todos os envolvidos<\/strong>. Uma grande sacada, na minha opini\u00e3o. N\u00e3o d\u00e1 para considerar nada bem sucedido se alguma parte saiu insatisfeita. Se o estagi\u00e1rio se sentiu explorado, se o cliente ficou um pouco decepcionado, se o designer esteve \u00e0 beira de um colapso, se o resultado trouxe um lucro inferior ao estimado para quem o estava financiando, ent\u00e3o \u00e9 porque alguma coisa n\u00e3o funcionou como devia, n\u00e3o d\u00e1 para se gabar.<\/p>\n

E agora vem outra pr\u00e1tica salutar: os relat\u00f3rios de li\u00e7\u00f5es aprendidas<\/strong>! Consiste basicamente em registrar por escrito as falhas (sempre h\u00e1, mesmo que o projeto tenha sido um sucesso) para evit\u00e1-las numa pr\u00f3xima oportunidade. De novo, a grande li\u00e7\u00e3o est\u00e1 em escrever o que se aprendeu para que as pessoas possam ter a oportunidade de compartilhar a experi\u00eancia. Se fica na cabe\u00e7a de um s\u00f3, ser\u00e1 sempre um mist\u00e9rio, pois cabe\u00e7as s\u00e3o os lugares mais inacess\u00edveis do universo.<\/p>\n

Outra coisa muito legal \u00e9 a recomenda\u00e7\u00e3o para celebrar as etapas conclu\u00eddas<\/strong>. O projeto como um todo pode n\u00e3o ser um exemplo, mas isso n\u00e3o impede a equipe de comemorar o que deu certo. Serve de incentivo, de reconhecimento pela conquista e para elevar o astral da turma. N\u00e3o precisa ser nada demais, uma Coca-Cola com p\u00e3o de queijo vira champanhe com caviar para quem est\u00e1 festejando o primeiro prot\u00f3tipo aprovado.<\/p>\n

Uma parte muit\u00edssimo importante e pouco praticada \u00e9 o gerenciamento dos riscos<\/strong>. Por risco entenda-se qualquer evento que pode ou n\u00e3o ocorrer e impactar o seu projeto (para o bem ou para o mal). Gerenciar riscos consiste basicamente em pensar com anteced\u00eancia o que fazer no caso de um desses eventos realmente vir a acontecer. Assim se aproveita melhor as oportunidades e se reduz o tamanho do estrago. Gente que perde arquivos importantes por falta de backup simplesmente ignora o gerenciamento de riscos (nenhum profissional deveria se dar a esse luxo).<\/p>\n

Mas tem muito, mas muito mais al\u00e9m disso. Al\u00e9m dos riscos, tem que cuidar das comunica\u00e7\u00f5es, da integra\u00e7\u00e3o entre as partes, dos recursos (humanos e financeiros), da qualidade, do escopo (n\u00e3o raro o cliente muda de id\u00e9ia depois que a coisa est\u00e1 andando), da qualidade, dos prazos e do dinheiro. Ufa, n\u00e3o \u00e9 mesmo para amadores.<\/p>\n

H\u00e1 tantas vari\u00e1veis para se controlar, tantas \u00e1reas para gerenciar, tantas li\u00e7\u00f5es para aprender, que hoje h\u00e1 mestrados em Gerenciamento de Projetos praticamente no mundo todo e o PMI (Project Management Institute<\/em>, criado em 1969 nos EUA) j\u00e1 congrega centenas de milhares de profissionais associados em 160 pa\u00edses.<\/p>\n

O trabalho que d\u00e1 gerenciar um projeto \u00e9 diretamente proporcional \u00e0 sua complexidade, e os designers n\u00e3o podem reclamar. Imaginem s\u00f3 a quantidade de abacaxis que o gerente do projeto da constru\u00e7\u00e3o de um submarino nuclear ou uma usina hidroel\u00e9trica tem que descascar todo dia.<\/p>\n

Acredito que conhecer pelo menos as ferramentas mais b\u00e1sicas pode ajudar muito designer a correr menos riscos, dormir mais tranq\u00fcilamente e resgatar a credibilidade no mercado. E a tomar um belo espumante com o cliente no dia da entrega final de um projeto de sucesso!<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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